Mobly planeja levar Tok&Stok a marketplace e dividir área de lojas físicas, diz CEO

Victor Noda explicou em call com analistas os planos para otimizar parque de lojas, armazéns e processos de importação, distribuição e gestão de marcas

Victor Noda (a partir da esquerda), CEO, Marcelo Marques, CFO, e Mario Fernandes, COO, sócios fundadores da Mobly, agora também controladora da Tok&Stok (Foto: Divulgação)
09 de Agosto, 2024 | 07:04 PM

Bloomberg Línea — A Mobly (MBLY3) já tem traçado o plano de captura de sinergias com a incorporação da Tok&Stok como controlada, com medidas para otimizar o parque de lojas, armazéns, logística e processos de importação da China após obter a aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

A transação, divulgada no início da madrugada desta sexta-feira (9) em fato relevante, cria uma plataforma líder no setor de casa & móveis com receita líquida anual de R$ 1,621 bilhão, 70 lojas, seis centros de distribuição, GMV (volume bruto de mercadorias transacionadas) de R$ 2,046 bilhões e margem bruta estimada de 50,9%.

Entre sinergias citadas pelo CEO da Mobly, Victor Noda, em teleconferência com analistas nesta sexta, estão a venda de produtos da Tok&Stok em marketplaces, a produção de mercadorias por fornecedores da Mobly e a divisão da área das lojas maiores da Tok&Stok para instalar um hub do portfólio selecionado da Mobly.

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“Se existem lojas da Tok&Stok em imóveis grandes demais, vamos reduzir essa área sem perder a venda e transformar em um hub de móveis da Mobly, mantendo as duas marcas separadas, mas dentro do mesmo imóvel”, explicou Noda.

A venda cruzada (cross selling) foi descrita pelo executivo como um dos meios mais rápidos de capturar sinergias, na comparação com processos mais longos, de até dois anos, como a integração total dos sistemas de tecnologia e gestão adotados pelas duas companhias.

Um dos sócios fundadores da Mobly em 2011, ao lado de Marcelo Marques (CFO) e Mario Fernandes (COO), o executivo e empreendedor disse que o próximo passo é realizar uma assembleia de acionistas para aprovação formal da proposta e depois, nos próximos dias, o deal será submetido ao órgão antitruste.

“Na visão dos advogados, será um processo rápido de 45 dias, com ritmo sumário”, afirmou o CEO sobre as expectativas de evolução do negócio.

Já a homologação da recuperação extrajudicial da Tok&Stok, referente à sua dívida de R$ 364 milhões com bancos, deverá demorar mais.

Segundo Noda, esse processo pode demorar entre dois e três meses, mas a companhia tem a opção de um waiver (dispensa) dessa condição precedente (homologação), o que pode acelerar o início da integração entre as duas empresas.

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O CEO disse que a expansão geográfica de lojas não está entre as prioridades. A Tok&Stok possui 50 lojas (com GMV de R$ 1,084 bilhão em 2023) em 21 estados e no Distrito Federal.

A Mobly tem 20 unidades (com GMV de R$ 246 milhões), já que sua atuação se concentra nos canais digitais (GMV de R$ 527 milhões). A presença online da Tok&Stok se limita a um GMV de R$ 230 milhões.

“Temos a oportunidade de disponibilizar parte do portfólio da Tok&Stok nos marketplaces e destravar valor. Também podemos disponibilizar produtos da Mobly na plataforma digital da Tok&Stok. A captura de sinergia com a margem bruta será uma das primeiras medidas desse processo”, afirmou Noda.

Ele disse que a Tok&Stok, que é voltada para o público de alta renda, trabalha com um margem bruta de 54,6%, ante 43,4% da Mobly.

“O setor de casa & decoração ‘roda’ com um margem bruta de 37%. A empresa combinada deverá ‘rodar’ com uma margem de 50,9%. Isso dá espaço para buscar a eficiência”, avaliou o executivo.

O processo de integração de sistemas de tecnologia terá custos, segundo ele, que não estimou um valor porque ainda não teve acesso aos detalhes da infraestrutura tecnológica da Tok&Stok.

“Queremos integrar os sistemas das duas empresas o quanto antes possível. É uma das prioridades. Temos uma plataforma proprietária, o que facilita, enquanto o da Tok&Stok é de terceiros. As duas empresas adotam o mesmo sistema de ERP, o Protheus [sistema de gestão empresarial da Totvs]”, detalhou.

Importações da China

Além do cross selling e maior eficiência operacional, o CEO da Mobly também apontou possibilidade de ampliar benefícios fiscais com a fusão.

“A Mobly conta com incentivos fiscais em Santa Catarina que a Tok&Stok não tem. A empresa combinada poderá ter mais oportunidades com créditos fiscais, compensação de IPI [Impostos sobre Produtos Industrializados] e ter mais eficiência, reduzindo as saídas de caixa para impostos”, disse Noda.

A importação de móveis e outros produtos da China também deve resultar em menores despesas para a “nova Mobly”, segundo o executivo.

Atualmente, a Tok&Stok não tem escritório na China, diferentemente da Mobly, que se aproveita dessa presença no país asiático para efetuar compras diretamente com fornecedores.

“A Tok&Stok faz suas importações através do modelo de trading. Não tem incentivo fiscal para os produtos importados e não tem ninguém na China trabalhando para ela”, disse o executivo.

O transporte de mercadorias pela transportadora da Mobly - a Mobly Log - também deve ser beneficiada pela fusão das operações, segundo ele, já que aumentará o volume e diluirá custos, com abertura de novas rotas de logística por outras regiões do país, além do Sul e do Sudeste.

O atual CEO da Tok&Stok, Guilherme Santa Clara, que assumiu interinamente no lugar da cofundadora da empresa, Ghislaine Dubrule, no mês passado, vai ajudar no processo de transição, segundo Noda. A redução de custos fixos também é outra medida na mesa. Atualmente, a sede da Tok&Stok fica em um condomínio empresarial na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo.

“A Tok&Stok já perdeu boa parte do seu top management. Há pouquíssimas pessoas fazendo a gestão. O CEO foi indicado pelo fundo [Carlyle, representado pela SPX Capital, controlador com 60,1% do capital]. Vai ajudar na transição.”

“Há pessoas-chaves que cuidam dos processos de criação de valor. De jeito nenhum queremos quebrar a capacidade da Tok&Stok de desenvolver sua marca e o portfólio de produto aspiracional”, disse Noda.

Com a fusão, o conselho de administração da Mobly terá um assento extra sob indicação da SPX, totalizando sete. A plataforma digital alemã home24, acionista controladora (com 51,2% do capital hoje), tem duas cadeiras, enquanto outras duas ficam com fundadores (7,1%), além de dois membros independentes.

“Estamos muito empolgados com essa potencial nova fase da Mobly principalmente pelo valor da empresa combinada e por acelerar nosso plano de caminho para a rentabilidade, além da possibilidade de criar um gigante do setor, a maior empresa de móveis e decoração com marcas fortes”, concluiu Noda.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.