Metamorfose com Musk: como o X passou de receitas com anúncios a IA e assinaturas

Plataforma antes conhecida como Twitter hoje ganha dinheiro de outra forma, mas ainda aquém dos tempos pré-Musk; gastos com juros da dívida chegaram a US$ 1,3 bilhão em 2024

Prédio da X em São Francisco, na Califórnia: empresa deixou para trás os tempos de Twitter (Foto: David Paul Morris/Bloomberg)
Por Carmen Arroyo
27 de Abril, 2025 | 06:22 PM

Bloomberg — A rede social X de Elon Musk tem evoluído de uma plataforma de mídia social alimentada pelos principais anunciantes para uma plataforma que aposta nos dólares gerados pela Inteligência Artificial (IA) e pelas assinaturas - uma mudança que parece ter impulsionado sua receita ultimamente.

A plataforma, anteriormente conhecida como Twitter, registrou US$ 91 milhões em receita vinculada a licenciamento de dados e assinaturas em fevereiro, um aumento de 30% em relação ao ano anterior.

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A informação foi encontrada em materiais compartilhados com investidores relacionados a uma nova venda de dívida. A receita de publicidade também cresceu, embora em um ritmo mais modesto de 4%.

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Um representante do X não quis comentar com a Bloomberg News.

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É um contraste em relação a quando Musk comprou o X há dois anos e meio. A plataforma dependia muito de anúncios de empresas convencionais de primeira linha, mas viu esse tipo de receita diminuir sob sua liderança, já que o bilionário implementou mudanças severas em seu modelo de negócios.

Desde então, a receita de anúncios se estabilizou, embora em um nível mais baixo, enquanto aquela proveniente de licenciamento de dados e assinaturas cresceu, de acordo com os materiais compartilhados com os investidores.

Enquanto isso, a decisão de Musk de combinar o X com sua empresa de inteligência artificial xAI, no mês passado, reformulou ainda mais o foco da rede.

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O Twitter registrou uma receita de publicidade de US$ 4,5 bilhões em 2021, seu último ano completo como uma empresa de capital aberto antes da aquisição de Musk.

A projeção é que gere cerca da metade nessa comparação, ou US$ 2,26 bilhões, em vendas globais de anúncios neste ano. O dado representaria um aumento de 16,5% na comparação com 2024, de acordo com a Emarketer, conforme informou a Bloomberg News anteriormente.

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Ainda assim, os investidores estão otimistas.

Isso porque enquanto a receita da X se recupera gradualmente, seus custos estão acentuadamente mais baixos e seu CEO está intimamente ligado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Na quinta-feira (24), o Morgan Stanley lançou uma venda das últimas parcelas da dívida relacionada à compra da empresa por Musk em 2022, depois de uma forte reviravolta no sentimento sobre suas perspectivas.

Em suas divulgações financeiras, o X ostentava quase US$ 1,5 bilhão em Ebitda.

A melhoria das métricas permitiu que a empresa levantasse quase US$ 900 milhões em uma nova rodada de equity de Musk e outros investidores, que avaliou a empresa em US$ 44 bilhões - aproximadamente o mesmo valuation pela qual ele a comprou -, informou a Bloomberg News anteriormente.

O balanço patrimonial do X também tem melhorado, de acordo com os dados financeiros recentemente compartilhados com os investidores.

A empresa tem agora quase US$ 1,1 bilhão em caixa, acima dos cerca da faixa de US$ 120 milhões a cerca de US$ 320 milhões que manteve durante o ano até janeiro.

A companhia espera usar parte desses fundos para pagar os US$ 12,5 bilhões em dívidas caras que ainda possui ou para financiar investimentos em tecnologia e usá-los para outros fins.

Custos da dívida

A dívida, no entanto, ainda pesa sobre a empresa de Musk.

Somente em março, o X pagou cerca de US$ 200 milhões em custos de serviço da dívida relacionados à sua aquisição, disseram pessoas familiarizadas com o assunto que não estavam autorizadas a falar publicamente.

A despesa anual com juros da empresa até o final de 2024 foi de mais de US$ 1,3 bilhão, acrescentaram.

A oferta de dívida liderada pelo Morgan Stanley, iniciada na quinta-feira (24), tem o objetivo de refinanciar uma parte final e cara do financiamento da aquisição do X, que tem uma taxa de juros de 14%.

Os bancos estão comercializando a dívida com um cupom fixo de 9,5%, o que ajudaria a reduzir os custos para a empresa. O X espera reduzir suas despesas anuais com juros em US$ 43 milhões, disseram as pessoas.

A pesada dívida do X tem sido um problema não apenas para a empresa mas para os bancos que ajudaram Musk a comprar a empresa.

Os credores mantiveram cerca de US$ 12,5 bilhões dessa dívida, incapazes de vendê-la aos investidores até janeiro e fevereiro deste ano, quando se desfizeram de cerca de US$ 11,2 bilhões em três vendas.

Há um mês, Musk disse que a xAI, a startup de inteligência artificial de Musk, havia adquirido o X.

As informações compartilhadas com os investidores mostram que ele criou uma holding, chamada XAI Holdings, que é proprietária do X e da xAI.

Em vendas anteriores de dívidas, os bancos e a gestão da empresa haviam destacado o relacionamento do X com a startup de Musk como um incentivo para estimular o interesse dos investidores.

-- Com a colaboração de Kurt Wagner.

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