Bloomberg — O Mercado Livre planeja contratar 28.000 funcionários na América Latina neste ano para avançar com seus planos de crescimento, apesar da volatilidade global e da escalada da guerra comercial.
O número de funcionários da gigante de e-commerce e de sua fintech aumentará 33% em relação ao ano anterior, para 112.000 até o final de 2025, afirmou o diretor de recursos humanos, Sebastián Fernández Silva, em entrevista à Bloomberg News.
A maior parte será destinada à logística, concentrada em seus maiores mercados, Brasil e México. Também serão adicionados profissionais de tecnologia e operações em outras áreas de negócios.
O Mercado Livre, que opera em 18 países da região, registrou receita e lucro recordes no ano passado e tem crescido a um ritmo de 30% ao ano por mais de duas décadas.
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Os planos de contratação são acompanhados por investimentos esperados de US$ 13,2 bilhões em toda a América Latina neste ano, o maior compromisso financeiro da empresa até o momento.
“Isso nos permitirá expandir nossa rede logística para realizar entregas mais rápidas e baratas”, disse Fernández. “Isso também nos permite continuar a desenvolver o que fazemos com tecnologia e produtos para revolucionar a maneira como as pessoas compram, anunciam, vendem, pagam, financiam e enviam pela região.”

Embora o Mercado Livre tenha um centro de distribuição no Texas, nos Estados Unidos, por enquanto não exporta nada para o país que possa ser afetado pelas tarifas, disse o diretor financeiro Martin de los Santos à Bloomberg News no mês passado.
Seus negócios internacionais enviam principalmente mercadorias para o México e a Argentina.
O crescimento da empresa também lhe trouxe maior influência na região, visível por meio de recentes anúncios de investimentos no México, Brasil, Argentina e Chile, com a presença dos presidentes dos respectivos países.
O rápido plano de expansão de pessoal contrasta com o da concorrente Amazon, que também opera em partes da região.
A força de trabalho total da empresa caiu cerca de 3% em relação ao pico registrado em 2021, para 1,6 milhão de funcionários, enquanto o número de funcionários do Mercado Livre aumentou 180% nesse período.
O Mercado Livre (MELI) também contraria a tendência entre as empresas de tecnologia de reduzir o quadro de funcionários e, ao mesmo tempo, implementar mais ferramentas de inteligência artificial para aumentar a eficiência.
Fernandez afirmou que a empresa implementa ferramentas de IA em seus negócios e observa grandes avanços em seu departamento de suporte ao cliente, entre outros.
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Em seus armazéns, os robôs não têm substituído pessoas, mas sim ajudado a eliminar tarefas fisicamente extenuantes dos funcionários, disse ele.
O Mercado Livre também mantém seus planos de trabalho híbridos para os funcionários de seus escritórios corporativos.
Atualmente, a empresa exige que os líderes estejam no escritório de 20% a 40% durante um trimestre — ou o equivalente a um a dois dias por semana.
Outros funcionários de escritório podem trabalhar totalmente remotamente, mas são incentivados a passar cerca de um dia por semana em um espaço físico com os colegas, disse Fernandez.
No Brasil, onde o Mercado Livre obtém mais da metade de sua receita, a empresa busca abrir pequenos espaços de trabalho no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte e ampliar sua presença em São Paulo e Florianópolis, disse ele.
“Nossa cultura é de meritocracia, flexibilidade, trabalho intenso e grande foco em resultados”, disse Fernandez. “Nossa dinâmica de trabalho está muito alinhada com a cultura que queremos ver crescer. Acho contraditório ver outras empresas de tecnologia falando em flexibilidade, mas oferecendo arranjos de trabalho rígidos.”
Em uma era em que mais empresas suspendem ou revertem políticas de diversidade e equidade para equilibrar métricas de gênero e raça entre seus funcionários, o Mercado Livre segue a visão de “meritocracia inclusiva”, disse o executivo.
A idade média da força de trabalho é de 30 anos e 46% dos funcionários são mulheres. No Brasil, mais da metade dos funcionários são negros, disse ele. Ainda assim, não há mulheres entre os principais executivos da empresa.
“A maioria da nossa equipe executiva está na empresa desde a sua fundação, portanto, uma trajetória de 25 anos”, disse ele, acrescentando que, além do C-Suite, 28% da liderança é feminina.
“Para nós, o crescimento tem que ser por meio da meritocracia e não por ter representação por cota”, disse Fernandez. “Observamos nossos processos de perto para garantir que não haja viés.”
As ações da empresa subiram 24% este ano, para US$ 2.109 cada, em comparação com uma queda de 13% da Nasdaq no mesmo período. Sua capitalização de mercado é de US$ 106,5 bilhões.
Fernandez, argentino, 51 anos, ingressou no Mercado Livre há 21 anos e lidera o departamento de recursos humanos desde então.
-- Reportagem atualizada para atualizar os valores das ações no penúltimo parágrafo e para corrigir o tempo do diretor no cargo, no último parágrafo.
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