Mercado de Hardware as a Service está só no começo, diz empresa que fatura R$ 1,7 bi

A Simpress, comprada pela HP em 2016, oferece a locação de notebooks, smartphones e impressoras e cresce na ordem de 20% ao ano. O fundador e CEO, Vittorio Danesi, conta os planos à Bloomberg Línea

HP laptop computers inside a Best Buy store on Black Friday in Union City, California, US, on Friday, Nov. 24, 2023. An estimated 182 million people are planning to shop from Thanksgiving Day through Cyber Monday, the most since 2017, according to the National Retail Federation. Photographer: David Paul Morris/Bloomberg
Por Marcos Bonfim
17 de Fevereiro, 2025 | 11:19 AM

Bloomberg Línea — A locação de impressoras por empresas é um serviço que continua em alta, tanto que foi por muitos anos o core do negócio da Simpress, que opera no mercado de outsourcing de equipamentos de TI. Essa vertical, porém, deve perder o posto de principal fonte de receitas em breve.

Em um mundo digital, a companhia decidiu diversificar os negócios em 2019, com a oferta de notebooks, tablets e smartphones para locação. Meses depois, as mudanças no dia a dia das empresas com a chegada da pandemia de covid provocaram uma transformação no modelo de negócio da Simpress.

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Fundada em 2001 em São Paulo, a companhia foi adquirida pela Samsung em 2014 e passou para as mãos da HP em 2016, quando a tech americana comprou o “braço” de impressoras da sul-coreana. Em ambos os casos, a operação brasileira manteve uma atuação independente e o fundador no comando.

“As novas ofertas da companhia entraram no mercado no início do quarto trimestre de 2019″, afirmou Vittorio Danesi, fundador e CEO da Simpress, em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Com a pandemia, o faturamento de impressão praticamente despencou, pois todo mundo foi para casa. E o resto ‘explodiu’. Nós tínhamos um plano de negócio de cinco anos, mas os cinco anos se tornaram dois e meio”, contou.

O faturamento atingiu a marca de cerca de R$ 1,7 bilhão em 2024, depois de um crescimento da ordem de 17%, versus R$ 660 milhões em 2019, ano que antecedeu a transformação da companhia. A projeção do CEO é a de uma alta nas receitas em torno de 25% em 2025 na comparação anual.

A expansão de 17% foi impulsionada pela nova unidade, que registrou uma alta de 23%. A vertical de impressoras, por sua vez, avançou 11%. O portfólio chegou a 2.800 clientes no fim do ano.

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Atualmente, o foco do negócio está em grandes clientes, como Mercado Livre, Dasa, Leroy Merlin e BTG Pactual. Na média, os pedidos das empresas ficam acima de 300 equipamentos.

No intervalo de cinco anos, a unidade de negócios com a oferta dos novos equipamentos - ou seja, além da impressoras - passou a representar pouco menos de 40% das receitas. E a expectativa é que supere a marca de 50% em 2025.

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No mesmo mercado da Simpress estão concorrentes como a Voke - que oferece um serviço de revenda de equipamentos de informática seminovos, além do outsourcing -, com mais de 550 mil ativos locados, e a Arklok, com mais 300 mil equipamentos alugados e uma base de mil clientes.

No ano passado, a empresa investiu R$ 700 milhões, dos quais R$ 400 milhões foram pagos com o caixa próprio, enquanto o restante foi financiado.

“É um esforço de Capex gigantesco e vai continuar assim por um bom tempo. Eu acredito que dobramos de tamanho em quatro anos e a demanda por capital vai continuar”, afirmou Danesi.

Vendas de serviços adicionais

No período de cinco anos, a Simpress saltou da gestão de 160 mil impressoras para mais de 700 mil, dos quais 400 mil distribuídos junto com notebooks, smartphones e tablets.

Após um primeiro ano de corrida frenética para atender a demanda inesperada, a empresa aproveitou os anos de 2021 e 2022 para “arrumar a casa”. “Nós mapeamos 120 sistemas e processos que teriam que ser alterados e partimos em uma grande jornada transformacional”, disse Danesi.

O principal desafio, segundo ele, passou longe dos aspectos tecnológicos.

“Em quatro anos, trocamos 70% da equipe de vendas. Entendo que a equipe de outsourcing de impressão que nos trouxe o resultado até então estava em zona de conforto. Ela tinha que falar com o mesmo cliente, o mesmo gerente de TI, com o mesmo comprador, mas o negócio não andava mais”, afirmou.

A empresa encontrou em profissionais com atuação na área de telecomunicações o perfil considerado ideal para vender os serviços com os novos equipamentos.

Dos mais de 2.500 clientes da carteira de impressoras, a companhia ativou cerca de 550 em PC (notebooks e desktops) e menos de 300 clientes em ativos de mobilidade, como smartphones e tablets.

“Dentro desse raio do nosso relacionamento, nós temos um espaço de crescimento gigantesco. E, claro, nós continuamos a crescer com novas contas todo mês”, disse Danesi.

Quem opta pelo modelo de outsourcing, também conhecido como Hardware as a Service, consegue uma economia entre 20% e 30% no caso das impressoras, e entre 10% e 25% em PCs e smartphones, de acordo com números internos.

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Mas, segundo o fundador e CEO, o apelo principal está não na redução de custos mas no modelo de gestão, que pode garantir aos clientes mais tempo dedicado às áreas estratégias de seus negócios.

”Eu quero vender melhoria de performance, melhoria em cibersegurança, geolocalização dos aparelhos, gestão e monitoramento da qualidade para os clientes”, afirmou.

Ou seja, para além dos equipamentos, a empresa adiciona outros serviços, como manutenção e suporte técnico. Com esse modelo mais completo, a Simpress realiza diariamente mais de 3.000 entregas, incluindo dispositivos, insumos e peças de reposição.

Novas avenidas de crescimento

A empresa diz que tem equipamentos espalhados por cerca de 4.200 dos 5.570 municípios brasileiros. Para facilitar os processos de envios e retiradas, anunciou sete hubs e cinquenta mini-hubs nas principais capitais do país, que funcionam dentro de uma estratégia de descentralização logística.

O crescimento da companhia até aqui só explorou uma fração do mercado potencial, defendeu o CEO. “Executivos de TI estão extremamente abertos ao outsourcing. O mercado de PC e dispositivos móveis é de 10 a 15 vezes maior do que o de impressão. E ele está no começo de adoção da oferta.”

Segundo uma pesquisa do IDC (International Data Corporation), o mercado de PC as a Service (notebooks e desktops) foi estimado em 440 mil equipamentos em 2024, número projetado para chegar próximo a 546 mil em 2025. E há tendência de altas ainda maiores do que esses 24% nos próximos anos.

O levantamento considera que muitas empresas que optam pela aquisição dos equipamentos devem migrar nos próximos anos para o modelo de outsourcing, seja por causa de uma questão tecnológica ou da priorização dos recursos financeiros no core dos negócios.

O cenário macroeconômico desafiador, com dólar valorizado e crédito mais escasso em razão dos juros de dois dígitos, pode acabar contribuindo para acelerar os números da Simpress.

Além disso, o setor público, em diferentes níveis de governos e áreas, têm aderido cada vez mais ao outsourcing, o que representa dinheiro novo para o setor.

“Nós ganhamos negócios em governos para 5.000, 10.000 equipamentos que não existiam em 2023. A minha visão é que em 2025 teremos uma aceleração dos RFPs [Pedidos por Proposta, na sigla em inglês] e dos pregões do governo. Nós vemos um crescimento muito forte”, afirmou.

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark