MedSystems, com XP como investidor, compra Vydence e avança em tecnologia estética

Grupo importador de equipamentos de laser terá acesso a mais de 30 países, incluindo EUA e Europa, com aquisição de fábrica em São Carlos, diz o CEO, Denis Regis, à Bloomberg Línea

Denis Regis, CEO do Grupo MedSystems
21 de Março, 2025 | 11:28 AM

Bloomberg Línea — O efervescente mercado brasileiro de tratamentos estéticos faciais e corporais, um dos maiores e que mais crescem do mundo, tem o primeiro movimento relevante de M&A de 2025.

Nesta sexta-feira (21), o Grupo MedSystems, que tem a XP (XP) como sócia investidora de sua holding, anuncia ao mercado a aquisição da Vydence Medical, empresa que tem uma fábrica em São Carlos, no interior de São Paulo, onde produz principalmente equipamentos de laser com foco em dermatologia, cirurgia vascular e cirurgia plástica.

PUBLICIDADE

O valor da transação, divulgada em primeira mão pela Bloomberg Línea, não foi divulgado.

Com o negócio, o MedSystems, que atua principalmente com a importação de equipamentos semelhantes para mais de 10.000 médicos e clínicas, projeta um acréscimo de R$ 200 milhões na receita do grupo neste ano. Isso representa um incremento de 20%, já que o faturamento total é de cerca de R$ 1 bilhão.

Leia mais: ‘Crédito cosmético’: como o mercado de procedimentos de beleza movimenta Wall St

PUBLICIDADE

A aquisição faz parte da estratégia de crescimento inorgânico do grupo, que também opera na Argentina e na Colômbia, e de avanço na internacionalização, já que a Vydence exporta para mais de 30 países, incluindo Estados Unidos, Austrália e as nações mais ricas da Europa.

“A gestão da fábrica e a marca da Vydence Medical permanecem independentes, desenvolvendo seus projetos. Vamos aproveitar as expertises dos dois lados, com geração de sinergias e aceleração dos negócios”, disse Denis Regis, CEO do Grupo MedSystems, à Bloomberg Línea.

Hoje o grupo possui mais de 40 fabricantes em seu portfólio, que somam mais de 70 soluções tecnológicas, como a linha Ultraformer, seu equipamentro mais consagrado, o BB Laser Lavieen e o Quanta System, marca italiana de lasers.

PUBLICIDADE

Já a Vydence Medical produz o Etherea (dispositivo de radiofrequência para estimular a produção de colágeno) e o ZYE (laser de rejuvenescimento facial, remoção de pelos e tratamento de manchas e cicatrizes).

“A Vydence é uma fábrica genuinamente brasileira, madura, com mais de 30 anos de operação, com equipe própria de P&D [Pesquisa e Desenvolvimento] e centro tecnológico, diferente de outras que só importam os componentes e montam no Brasil. O portfólio dela é muito específico e não tínhamos”, ddisse Regis.

Impacto cambial e mercado em expansão

Lasers para tratamento de rugas, manchas e outros problemas de pele, dispositivos de radiofrequência para tratamento de flacidez e relaxamento muscular, além de equipamentos de ultrassom para tratamento de celulite e outras doenças de pele, são procurados principalmente por médicos e clínicas.

PUBLICIDADE

O Brasil tem mais de 11.000 dermatologistas e mais de 20.000 clínicas de estética, segundo o CEO. Cirurgiões plásticos, endocrinologistas e oftalmologistas são outros profissionais que estão entre os clientes de fornecedores desse tipo de tecnologia.

Leia mais: Na Espaçolaser, os planos de expansão passam pela América Latina, diz CEO

“O mercado brasileiro está em expansão e em desenvolvimento. E ainda é muito fragmentado, longe do ponto de maturidade. Depois da Vydence, continuamos atentos. Há espaço para novas aquisições, mas neste momento não estamos olhando nenhuma outra empresa ”, afirmou o CEO.

A recente e brusca variação cambial no Brasil, que chegou a negociar o dólar comercial a R$ 6,30 em dezembro, também um fator foi considerado pelo grupo importador de equipamentos de laser no contexto para de fechamento do deal, cujas negociações tiveram início há cerca de um ano.

Com a produção local da Vydence, que tem autorização para vender nos EUA, a MedSystems também reforça a receita em moeda americana e equilibra as despesas financeiras.

“Quando o dólar baixa, isso melhora a margem do produto importado. Quando sobe, melhora a do produto exportado. É um hedge natural”, observou.

Esse é o primeiro M&A do grupo desde a compra da Aeskins Pharmaceutical, que atua no segmento de preenchedores injetáveis, anunciada em março de 2024.

O fundo de private equity XP Invest se tornou sócio investidor da companhia em 2023, quando foi anunciado um aporte de R$ 225 milhões pela XP Asset Management na JL Health, holding detentora de 100% das ações de todas as empresas do grupo, inclusive da Vydence.

A XP é sócia minoritária (fatia não é divulgada) e está no conselho administrativo do grupo, segundo o CEO. O grupo tem como sócio fundador José Luiz Lopes Pinto.

“A incorporação da Vydence ao nosso grupo não só fortalece nossa atuação global mas também abre caminho para o desenvolvimento de novas soluções”, disse o fundador em nota.

Destaques do portfólio

Uma das tecnologias do portfólio da Vydence destacadas pelo executivo é o QX Max, um sistema de alta performance com capacidade de emitir doze faixas de laser diferentes, o que permite aos profissionais de saúde e estética personalizar os tratamentos de acordo com as necessidades específicas de cada paciente, para uma ampla gama de aplicações estéticas e dermatológicas.

As máquinas produzidas pela Vydence custam a partir de R$ 300 mil e podem alcançar a faixa de R$ 700 mil, a depender do número de ponteiras de laser adquiridas.

Já o Grupo MedSystems fornece soluções como laser de Alexandrite, laser de Túlio e laser de Nd:YAG, utilizados para remoção de pelos, tratamento de manchas, pigmentações, varizes e rejuvenescimento facial para atender às necessidades do mercado de estética médica.

No segmento de injetáveis, o grupo atua no varejo de procedimentos de harmonização facial com aplicação de toxina botulínica (botox) e preenchimento com ácido hialurônico por meio da rede Botoclinic.

“A Botoclinic não vai ter relação com a Vydence. Os equipamentos de laser da Vydence são dedicados ao segmento médico, não ao segmento do varejo da estética. Vamos fortalecer a relação na dermatologia com os equipamentos de laser”, disse o CEO.

Brasil, EUA e Argentina, principais mercados de procedimentos estéticos

O Brasil e os EUA se destacam nas estatísticas mundiais sobre a demanda crescente por procedimentos estéticos, segundo a última pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgada no ano passado.

Os EUA realizaram a maior parte dos procedimentos no mundo em 2023, com mais de 6,1 milhões, seguidos pelo Brasil, com 3,3 milhões, que é o primeiro em procedimentos cirúrgicos, com 2,1 milhões.

Estima-se que os EUA e o Brasil tenham a maior número de cirurgiões plásticos, seguidos por Japão, China, Índia e Coreia do Sul, segundo o estudo.

O botox é o procedimento não cirúrgico mais comum para homens e mulheres e em todas as faixas etárias, com 8,8 milhões realizados por cirurgiões plásticos no mundo. Em segundo lugar, os procedimentos com ácido hialurônico cresceram 29% para 5,5 milhões em 2023.

A indústria da beleza, incluindo o segmento de cosméticos, é um mercado multibilionário com expressiva projeção de crescimento. Espera-se que o mercado global de procedimentos cosméticos atinga US$ 63,55 bilhões em 2027, ante US$ 46,45 bilhões em 2023, segundo o estudo “Cosmiatria: Uma análise do mercado brasileiro”, publicada pela Revista Brasileira de Cirurgia Plástica em 2024.

Quando os tamanhos populacionais são levados em consideração, Brasil e Argentina ocupam as primeiras posições, com 715 e 631 procedimentos a cada 100.000 pessoas, de acordo o levantamento.

“No Brasil, com a popularização dos procedimentos estéticos não cirúrgicos e o crescente número de profissionais no setor, a saturação do mercado torna-se uma preocupação”, aponta a pesquisa.

Leia também

TotalPass, do Grupo Smart Fit, triplica base de empresas e quer ser mais conhecida

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.