Bloomberg Línea — Quase nove meses depois da apresentação do mais profundo plano de reestruturação de sua história, o CEO do Bradesco (BBDC3), Marcelo Noronha, fez nesta quinta-feira (31) uma avaliação positiva sobre a evolução das medidas e indicou a expectativa de um melhor desempenho do banco.
A recuperação gradual da rentabilidade, após ter controlado os indicadores de inadimplência, segue como o principal foco da gestão de Noronha, que completa um ano no cargo no fim de novembro.
O segundo maior banco privado do Brasil espera continuar a aumentar a concessão de crédito para pessoas físicas e jurídicas em modalidades consideradas mais seguras, com exigência de garantias.
E aposta em um novo segmento de clientes de alta renda, apresentado hoje como “Bradesco Principal”, com renda superior a R$ 25 mil e aplicações entre R$ 300 mil e R$ 10 milhões.
“Quero crédito de qualidade, entregar margens perenes, e não ‘voo de galinha’”, disse Noronha em teleconferência com analistas sobre o resultado do terceiro trimestre.
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O executivo reforçou, em diferentes momentos, a mensagem de que o banco tende a colher frutos melhores no ano que vem após a série de iniciativas previstas no plano estratégico e executadas ao longo dos últimos trimestres.
Entre as medidas principais estão uma nova estrutura organizacional, que incluiu mudanças no alto escalão e reforços de equipes, reformulação de plataformas, revisão de processos e rotinas, investimentos em canais digitais e na área de pequenas e médias empresas.
“Estamos ‘tracionando’ e estou confiante em todos os segmentos de clientes e verticais”, avaliou o CEO.
Ele citou, por exemplo, a aquisição de 50% do banco John Deere, um parceiro estratégico para acelerar o financiamento de veículos pesados no agronegócio brasileiro. A operação, anunciada em agosto, foi aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em setembro.
“Queremos fazer o closing do negócio ainda neste ano”, disse Noronha.
Para justificar a aposta em um cenário doméstico mais benigno no ano que vem, o executivo apontou fatores como o crescimento da renda das famílias, o nível baixo da taxa de desemprego e a atividade econômica aquecida no estado de São Paulo e na região agrícola do Centro-Oeste.
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Bradesco Principal
Além disso, segundo o CEO do Bradesco, o novo segmento de clientes de alta renda também deve ser um dos impulsionadores do movimento de crescimento do banco em 2025.
O novo Bradesco Principal começa com escritórios apresentados como flagships na capital paulista (esquina da Faria Lima com JK), no Rio de Janeiro (Leblon) e em Campinas (interior paulista), antes de partir para a expansão geográfica ao longo do ano que vem com a inclusão de novas cidades. O novo segmento ficará acima do Bradesco Prime e abaixo do Private.
“Vamos chegar ao final de janeiro com algo já entre 45.000 e 50.000 clientes no novo segmento. Vamos seguir no processo de expansão até 2026″, projetou Noronha.
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Para atrair esse perfil de clientes, o Bradesco aposta em uma proposta de valor que mira o perfil do investidor que viaja com frequência.
Isso significa incluir benefícios como o acesso a salas VIP em aeroportos, fast pass (fila menor para check in e raio-x), cartão válido nos EUA, programas de pontos sem data de expiração, além da estrutura de corretora, banco de investimento, financial advisors e wealth planning.
“A equipe foi treinada e começa a partir de amanhã [sexta-feira, dia 1] a convidar os clientes a participar dessa nova experiência, disse o CEO.
O Principal também terá conexão com o Bradesco Bank, o banco do conglomerado nos Estados Unidos e sede no estado da Flórida, com conta corrente, investimentos e cartão de crédito americano.
O Bradesco disse que busca a principalidade dos clientes e potencializar ainda mais sua rentabilidade. Na prática, isso significa obter um aumento do share of wallet (participação maior dos recursos dos clientes), de margem das operações e aumento do NPS (métrica de satisfação do cliente).
O plano do banco prevê para 2025 ganho de market share em crédito, maiores sinergias entre suas empresas e captura de cross sell (venda cruzada).
Após a divulgação do balanço pela manhã e da teleconferência, as ações do Bradesco operavam em queda na B3. Perto das 15h30, o papel recuavam perto de 3,80%, cotado a quase R$ 14,50.
Analistas do sell side de bancos de investimento como Itaú BBA, BTG Pactual e Goldman Sachs destacaram a melhora sequencial do Bradesco, como o menor custo do crédito, a alta das receitas com clientes e com serviços e o desempenho considerado sólido do grupo segurador.
A reação negativa das ações refletiu, por outro lado, segundo analistas, a decepção com a margem com o mercado menor do que a esperada e maiores despesas.
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