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O que os dois astros da NFL querem é que os eleitores de Kansas City aprovem uma taxa que arrecadaria até US$ 2 bilhões de dinheiro dos contribuintes para a construção de dois estádios.
Os dois atletas, protagonistas no atual bicampeão da liga profissional de futebol americano, fizeram um apelo em um anúncio que encoraja os moradores do condado de Jackson, no Missouri, a votarem “sim” em uma consulta em 2 de abril para renovar um imposto sobre vendas por mais 40 anos.
A receita financiaria a realocação do time de beisebol Kansas City Royals para um novo estádio no centro, para que o Kansas City Chiefs, da NFL, possa se mudar para o espaço atualmente ocupado pelos Royals no complexo esportivo conjunto dos times.
Apesar do apelo das adoradas estrelas, a aprovação não é garantida. Uma pesquisa do Remington Research Group apontou que 47% dos entrevistados votariam sim, enquanto 46% votariam não, de acordo com a emissora de TV local KSHB 41.
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Os oponentes da medida afirmam que os bilionários proprietários da equipe - a família Hunt - deveriam contribuir com mais do que os US$ 300 milhões que prometeram para a renovação estimada em US$ 800 milhões do estádio.
Os Royals, que tiveram o segundo pior desempenho na liga americana de beisebol, a MLB, no ano passado, pertencem a um grupo liderado por John Sherman, fundador da revendedora de gás propano Inergy.
“O condado gasta mais dinheiro nos dois times de esportes todos os anos do que gastamos em nossos parques e playgrounds, hospital público e estradas e pontes - combinados”, disse em comunicado Frank White Jr., executivo do Condado de Jackson e ex-jogador dos Royals, que se opõe à medida.
Os oponentes levantaram preocupações sobre a localização selecionada pelos Royals - dentro do Distrito de Artes Crossroads -, o que forçaria a realocação de várias pequenas empresas no bairro.
A KC Tenants, uma organização local de inquilinos, se posicionou contra o estádio desde o início. Segundo Dajanae Moreland, organizadora do grupo, a mudança provavelmente levará a um aumento nos preços dos aluguéis e ao deslocamento de empresas e residentes.
Sam Mellinger, porta-voz dos Royals, disse que os proprietários da equipe estão preparados para investir mais de US$ 1 bilhão no projeto. Os defensores afirmam que o novo estádio no centro de Kansas City gerará US$ 79 milhões em novas receitas fiscais anualmente.
O prefeito de Kansas City, Quinton Lucas, endossou a medida no último sábado (30).
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O financiamento público de instalações esportivas profissionais tem sido há muito tempo uma questão política polêmica localmente em todo o país - e também em países como o Brasil.
Alguns times têm procurado evitar o drama com a promessa de financiamento privado em vez de dinheiro dos contribuintes para construir estádios ou arenas.
O Philadelphia 76ers, da NBA, disse em 2022 que financiaria com recursos privados um complexo esportivo e de entretenimento de mais de US$ 1 bilhão no centro da cidade. O SoFi Stadium em Los Angeles, com custo estimado de US$ 5,5 bilhões, foi totalmente financiado por investimentos privados.
No entanto, recentemente, vários times obtiveram com sucesso subsídios do governo e abatimentos fiscais para compensar o custo da construção.
Franquias da MLB, como o Cleveland Guardians e o Tampa Bay Rays, conseguiram novos financiamentos para melhorias.
E o governador de Wisconsin, Tony Evers, assinou uma lei que prevê cerca de US$ 500 milhões em financiamento público para ajudar a reformar o estádio de beisebol do Milwaukee Brewers.
O Buffalo Bills, da NFL, recentemente recebeu uma promessa de subsídio de US$ 600 milhões do estado de Nova York e de US$ 250 milhões do Condado de Erie.
J.C. Bradbury, um economista especializado em esporte da Kennesaw State University, na Geórgia, disse que os proprietários de times geralmente relutam em recorrer a votações porque o público é mais cético em relação a esses projetos em comparação com conselhos municipais, comissões de condados ou legislaturas estaduais.
Ele disse que as votações sobre subsídios para estádios recebem aprovação em pouco mais da metade das vezes. Bradbury disse que o histórico tanto dos Chiefs - muito vitorioso nos anos recentes - quanto dos Royals pode não importar muito para os eleitores.
“Alguns times são terríveis e obtêm acordos de estádios, enquanto outros estão indo bem e têm acordos de estádios rejeitados”, disse ele.
Josh Chavis, torcedor dos Chiefs que vai aos jogos, disse que apoia a proposta, apesar de não ter ficado impressionado com os planos para um novo estádio, que se concentra em mais estacionamento e melhorias nas suítes VIP.
No entanto Chavis disse que está empolgado com o novo estádio dos Royals e imagina que ele tornará o Distrito de Artes Crossroads semelhante ao mítico Wrigleyville, onde os Chicago Cubs jogam.
Ele não tem direito a voto na eleição porque não mora no condado, mas qualquer visitante terá que pagar o imposto de vendas.
“Se vamos usar dinheiro público, deveríamos ter um impacto maior no local para onde esses dólares estão indo”, disse Chavis.
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