Magazine Luiza acerta parceria com AliExpress para venda conjunta em e-commerce

Gigante chinês se torna um seller do Magalu; CEO Fred Trajano disse em teleconferência que objetivo é complementar sortimento do marketplace para ampliar as vendas

Magazine Luiza acerta parceria com a gigante chinesa Alibaba para a venda de produtos em seu marketplace, e vice-versa
24 de Junho, 2024 | 11:03 AM

Bloomberg Línea — O Magazine Luiza (MGLU3) anunciou nesta manhã de segunda-feira (24) uma parceria estratégica com o Alibaba, do bilionário chinês Jack Ma, para complementar o sortimento dos marketplaces da empresa e do AliExpress e, consequentemente, tentar ampliar as vendas nas duas plataformas.

O negócio ocorre em momento de avanço crescente - críticas de concorrentes brasileiros - de players asiáticos no comércio eletrônico no Brasil, como Shein e Shopee, além do próprio AliExpress.

“É uma parceira ganha-ganha. As duas plataformas vão ampliar seus sortimentos. O Ali vira um seller do Magalu. Para todos os produtos do Ali vendidos no Magalu haverá a cobrança de um take rate. O que o Ali vender do Magalu no seu canal também terá um take rate”, disse Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, em teleconferência com jornalistas brasileiros nesta manhã.

A previsão é que a venda de produtos disponibilizados pelo Magalu no marketplace do AliExpress e vice-versa comece neste terceiro trimestre, sem um mês definido.

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“As sinergias são imensas. As duas plataformas tê mais de 700 milhões de visitas por mês e mais de 60 milhões de clientes ativos”, afirmou Trajano.

Ele não revelou como será realizada a divisão da receita entre as duas empresas em cima do “take rate” cobrado de cada venda realizada no formato da parceria.

O executivo não quis entrar no mérito de uma suposta contradição do Magalu em se aliar a um grupo asiático depois de anos em que o varejo brasileiro - de modo geral - reclama de uma suposta concorrência desleal com gigantes do e-commerce do continente que vendem no país.

“Em nenhum momento, o Magalu criticou os marketplaces asiáticos”, disse Trajano, acrescentando em seguida o posicionamento da companhia em defesa da isonomia tributária.

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O CEO do AliExpress para América Latina, Kai Li, presente na teleconferência, disse que o grupo chinês busca acelerar seu marketplace e melhorar a experiência do consumidor no Brasil.

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“Temos focado cada vez mais na expansão da nossa operação local, reforçando o compromisso do AliExpress em contribuir com o desenvolvimento do e-commerce brasileiro”, afirmou.

Trajano, viajou para a China para assinar o MoU (Memorando de Entendimentos na sigla em inglês), em Hangzhou.

O executivo disse que as conversas com os chineses começaram no final de 2023 e que envolveram uma centena de funcionários de diversas áreas da empresa brasileira.

O anúncio do acordo deu impulso para as ações do Magalu nesta segunda-feira. O papel fechou em alta de 12,28%, cotado a R$ 12,16. Com isso, reduziu a desvalorizada acumulada no ano para 35,6%, desempenho negativo em linha com outras ações de varejistas, descontadas pelos investidores devido à expectativa de menor redução da taxa de juros.

Análise

O anúncio do negócio chega no momento em que o cenário do e-commerce brasileiro ganha um novo player asiático de peso. No início de junho, a Temu, marketplace chinês do grupo Pinduoduo, começou a vender seus produtos no Brasil, oferecendo itens de baixo valor, entre R$ 5 e R$ 10, com frete grátis. A estreia da plataforma coincidiu com a aprovação no Senado da taxação de 20% sobre mercadorias importadas acima de US$ 50.

Analistas do setor não esperam um aumento significativo de Ebitda (geração de caixa) para o Magazine Luiza por causa da parceria com o AliExpress.

“Magazine Luiza parece estar abraçando a presença crescente de players estrangeiros como uma realidade de LT [lifetime, tempo que o cliente compra de uma empresa] para o setor, o que é uma novidade para nós”, escreveram os analistas do Citi, João Pedro Soares, e Felipe Reboredo, em nota enviada aos clientes.

Eles mantiveram a recomendação “Neutro/Alto Risco” para o papel, com preço-alvo de R$ 18.

“Acreditamos que a parceria também pode gerar alguns volumes para Magalu em 1P [estoque próprio], sem alguma canibalização. Dito isto, não esperamos grandes incrementos de Ebitda por enquanto”, observaram.

Já a corretora Genial manteve a recomendação de compra para MGLU3 com novo preço-alvo, de R$ 19,50 no horizonte de 12 meses, com a ressalva de que a piora do cenário macroeconômico global tem criado um movimento de sell-off em toda cobertura de varejo, com o mercado precificando uma Selic de longo prazo de cerca de 12% (versus a antiga perspectiva da corretora de 9,5%).

“As perspectivas de lucro operacional devem ser mantidas para Magazine Luiza, contudo, com uma assimetria negativa para o lucro líquido, dado o maior impacto de despesas financeiras (vs. nossa estimativa anterior)”, disseram os analistas da corretora Genial, Iago Souza e Nina Mirazon, em relatório.

Eles escreveram que a parceria tem o potencial de elevar a competitividade do canal de marketplace para as duas companhias no setor, o que pode vir a ser “uma futura dor de cabeça” para o líder do e-commerce brasileiro, o Mercado Livre (MELI34).

“Acreditamos que o take rate não deva exceder a média praticada pelo Magazine Luiza – em torno de 15%, segundo as nossas estimativas. Como o custo logístico é do AliExpress, a taxa remunerada só deveria alcançar esse patamar no caso de a plataforma chinesa investir em ADS (advertising) para melhorar o posicionamento de seus produtos no super-app do Magalu”, apontaram.

Atualiza às 17h30 com comentário de analistas e cotação de fechamento

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.