Madero prevê retomada de expansão e aposta em modelo integrado com Jeronimo

Em entrevista à Bloomberg Línea, CEO Junior Durski e CFO Ariel Szwarc explicam novo modelo de restaurante que amplia receitas e reduz custos e deve ser levado a 80 unidades

Unidade de operação híbrida do Madero e Jeronino na Oscar Freire
29 de Outubro, 2024 | 04:58 AM

Bloomberg Línea — O Grupo Madero está de volta ao ataque, ainda que cauteloso. Um dos maiores e mais rentáveis grupos de restaurantes do país prevê a retomada do plano de expansão em 2025 e começou a testar uma operação híbrida entre suas duas principais marcas, Madero e Jeronimo, na cidade de São Paulo.

O plano é estender esse modelo para 80 de suas 274 unidades espalhadas pelo país, com o objetivo de otimizar a estrutura de suas cozinhas e logística de delivery, para que cada restaurante tenha capacidade de entregar pratos dos dois cardápios.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO e fundador da companhia, o chef Junior Durski, disse que o novo modelo começou a ser testado na unidade originalmente apenas do Jeronimo na rua Oscar Freire, no bairro dos Jardins, e que houve um aumento de 63% em faturamento na comparação com o resultado sem a operação híbrida.

O desempenho é considerado, segundo ele, encorajador para que possa ser replicado em outras unidades nos próximos meses.

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“Em novembro, vamos iniciar a operação híbrida no Jeronimo do Mauá Plaza Shopping. Ou seja, vamos colocar um Madero nessa unidade. Temos 80 unidades para fazer essa movimentação, já que o sucesso no faturamento está acima do esperado”, disse Durski, sem especificar um prazo para concluir a conversão.

O empresário apontou os ganhos decorrentes da operação híbrida, como maior eficiência na gestão de custos fixos, maior visibilidade para as duas marcas e menor gasto com marketing.

“Na operação híbrida, temos a economia do aluguel. São dois restaurantes que funcionam no mesmo espaço. Há ainda a equipe. Aumentamos de 20 para 23 funcionários e conseguimos atender os pedidos para as duas marcas. Tivemos um incremento de venda, e um restaurante consegue servir as duas marcas no delivery”, afirmou.

O modelo de combinar as operações em um mesmo restaurante não é novo no grupo.

O CEO lembrou que o modelo híbrido começou com a Ecoparada Madero, que oferece um totem de autoatendimento em rodovias em que o cliente tem acesso ao cardápio de todos os restaurantes do grupo.

Em setembro, a rede contava com 274 restaurantes, dos quais 96 do Madero Steak House, 89 do Madero Container e 82 do Jeronimo, além de um Durski e seis Ecoparadas.

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O CEO disse que a escolha da unidade para a conversão da operação híbrida é cuidadosa e que leva em conta a localização da unidade e os diferentes perfis do público. O cardápio do Jeronimo tem preços mais baixos, equivalentes a 60% dos valores mais altos cobrados no Madero.

Outra novidade do grupo é uma parceria com a JBS (JBSS3) para incluir o bife de chorizo no cardápio de seus restaurantes a partir do dia 5 de novembro. Os testes do novo prato começaram em Curitiba no último dia 22, e o chef se mostrou animado com a recepção da novidade com o público.

Madero em operação híbrida com Jeronino

Preço da carne em alta

Entre os desafios da companhia para os próximos meses está a tendência de alta de custos, como o preço da carne bovina. O CFO do Madero, Ariel Szwarc, disse que o mercado terá que absorver esse impacto, ainda que o processo de repasse aos preços ao consumidor não seja instantâneo.

“Trabalhamos com grandes fornecedores e somos bastante cautelosos no gerenciamento dos estoques. Em nossa cozinha central, em Ponta Grossa [no Paraná], fazemos o armazenamento. Isso significa que estamos bem preparados para o ciclo de alta das commodities”, disse o executivo.

No Madero, os reajustes de preços ocorrem durante a mudança trimestral de cardápio. “Os ajustes serão feitos de forma paulatina”, explicou. Segundo ele, a rentabilidade do Madero está “muito boa”.

No terceiro trimestre, o Grupo Madero reportou um lucro líquido de R$ 28 milhões, em cima de uma receita líquida de R$ 520,4 milhões, com crescimento de 22,4% na base anual. O resultado foi acima das expectativas da própria companhia.

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O delivery respondeu por 20,2% da receita total, versus 15% antes de 2024.

“Estamos otimistas para o quarto trimestre, quando sazonalmente as vendas são mais fortes. Nunca tivemos esse patamar de R$ 500 milhões de faturamento. Estamos melhorando a geração de caixa a cada trimestre e vamos superar o recorde de faturamento no quarto trimestre”, projetou o CFO.

No terceiro trimestre, as vendas nos mesmos restaurantes (same store sales - abertos há pelo menos um ano) tiveram incremento de 12% em 12 meses. Já o Ebitda ajustado, métrica de geração de caixa operacional, foi de R$ 166 milhões, com melhora de 54,8% em 12 meses.

Redução de alavancagem

A melhora dos resultados financeiros do Madero vem na esteira de dois anos de ajustes na operação.

Após a renegociação de uma dívida bruta que chegou a rondar o patamar de R$ 1 bilhão em 2022, com risco de quebra de covenants, o Madero adotou uma série de medidas para “arrumar” a casa.

A companhia praticamente suspendeu seu plano de abertura de restaurantes em um primeiro momento, realizou ajustes para melhorar sua eficiência operacional, cortou despesas e passou a dar prioridade a medidas para recuperar o fluxo de clientes, ainda impacto pela pandemia.

No terceiro trimestre, a dívida financeira líquida caiu 28,7% na base anual, para R$ 594,9 milhões. E o Madero encerrou o período com R$ 407 milhões em posição de caixa e aplicações financeiras.

“A melhor ação para reduzir alavancagem é gerar caixa de forma genuína e pagar a dívida. Estamos fazendo isso. O resultado operacional está robusto. Como estamos crescendo, vamos devagar no plano de expansão, que está em um ritmo de conta-gotas”, disse o CFO.

Em julho, o Madero emitiu R$ 500 milhões em notas comerciais, em uma operação que resultou em melhora de prazo e na redução da taxa de juros dessa porção da dívida: o custo passou de CDI + 6,50% para CDI + 3,85%, com potencial para ainda maior redução, para CDI + 2,75%, de acordo com a progressão em métricas de crédito.

Segundo o CFO, em 2025 o Madero deve aumentar o número de inaugurações gradualmente, em geografias com maior participação no PIB, como o Sudeste, principalmente o estado de São Paulo.

Retomada da expansão em 2025

“Vamos retomar a expansão devagar no início de 2025. Não serão 35 ou 40 aberturas por ano, mas 15 ou mais. É o que está no planejamento para o ano que vem”, disse o CFO.

No terceiro trimestre, a rede inaugurou duas novas operações no Rio de Janeiro: o Madero ParkShopping Jacarepaguá e o Jeronimo ParkShopping Campo Grande; e reabriu duas unidades em São Paulo, no MorumbiShopping e na Oscar Freire, em que justamente instalou a primeira operação híbrida.

Szwarc disse que a companhia está preparada para realizar uma listagem em bolsa quando houver uma janela de oportunidade no mercado de capitais. “Não tem mercado hoje para IPO, mas a empresa está bem posicionada. Enquanto isso, continuamos focados 100% na operação.”

Segundo o CFO, o Carlyle, fundo de private equity que é acionista, está satisfeito com a evolução positiva dos números da companhia e não há uma previsão para uma saída.

“O Grupo Madero é o único investimento no Brasil que o Carlyle tem diretamente, sem passar pelo veículo da SPX [que faz a gestão de participações em companhias como Tok&Stok, Ri Happy e CVC]. O Carlyle está há cinco anos conosco e está satisfeito com a companhia por causa da evolução dos resultados trimestre após trimestre”, disse o CFO.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.