Bloomberg Línea — O Grupo Madero, fundado e controlado pelo chef Junior Durski, acertou com bancos credores a possibilidade de desengavetar o projeto de listagem na bolsa por meio de um IPO (oferta inicial de ações), segundo disse o CFO da companhia, Ariel Szwarc, em entrevista à Bloomberg Línea.
O executivo fez a ressalva de que a decisão de lançar a operação de uma das maiores redes de restaurantes e lanchonetes do Brasil dependerá não só de condições favoráveis do mercado de capitais como da recomendação de bancos coordenadores da potencial oferta.
Na última semana, o Madero anunciou ao mercado uma renegociação de dívida de R$ 435 milhões com Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4) e BTG Pactual (BPAC11), que incluiu ainda debêntures de fundos geridos pelo Itaú Unibanco (ITUB4).
“Conseguimos reduzir o custo financeiro da dívida e alongamos prazos dos vencimentos. Isso representará um reforço de caixa de R$ 130 milhões”, afirmou o executivo.
Os novos aditivos aos contratos de dívidas com os bancos apontam a redução da taxa de juros para CDI + 6,5% ao ano e o alongamento do prazo de carência de amortização do principal em 12 meses, prorrogando o vencimento da primeira parcela para setembro de 2024, segundo o fato relevante.
“Antes, a taxa de juros era CDI + 7,18% ao ano. Alinhamos a redução com os bancos para CDI + 6,5%. Além de baixar a taxa da dívida, o prazo médio dos vencimentos melhorou. A primeira parcela venceria agora em setembro”, afirmou Szwarc.
Os prazos totais das dívidas permanecem inalterados. O que mudou é que o montante referente à amortização prevista para o período de setembro de 2023 e agosto de 2024 passa a vencer em março de 2027, juntamente com a última parcela das dívidas.
“Os bancos viram que estamos melhorando nosso desempenho operacional e segurando investimentos. O que falta agora é uma melhora das condições de mercado para ter espaço para a realização do IPO”, disse o CFO. Segundo ele, o Madero evitará tomar nova dívida para financiar seu plano de expansão.
A companhia já está pronta para o IPO, com o registro de companhia aberta concedido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), incluindo a publicação de resultados financeiros. O Madero engavetou o plano de IPO no segundo semestre de 2021, após a piora das condições de mercado no Brasil e no mundo com o aumento das taxas de juros, processo que só acabou no Brasil há um ano.
“Vamos esperar o sinal dos bancos para o IPO. Dependemos dessa recomendação. O mercado está evoluindo para esse caminho com a expectativa de cortes dos juros”, afirmou Szwarc.
Com a retomada de ofertas subsequentes (follow-on) por empresas de diferentes setores e a perspectiva de queda ainda maior dos juros futuros, bancos de investimento já vislumbram a retomada de IPOs até o fim do ano e no início de 2024. Empresas como Compass, Iguá Saneamento e Aegea, segundo informações do Valor Econômico, estariam entre as potenciais candidatas a “puxar a fila”.
Enquanto aguarda pelo timing para o IPO, o Madero segue com o plano de melhorar os resultados operacionais. A decisão de segurar investimentos para não afetar o endividamento está alinhada entre o controlador, Junior Durski, com 60% do capital, e o fundo americano Carlyle, com 34,4%, pois a renegociação com os bancos incluiu novamente cláusulas restritivas (covenants).
O balanço do segundo trimestre do Madero, divulgado na noite da última sexta-feira (28), apontou uma dívida bruta de R$ 994 milhões e líquida de R$ 880 milhões, com nível de alavancagem de 2,33 vezes.
“Cumprimos o covenant, que era de 2,5 vezes para o nível de alavancagem [na relação dívida/Ebitda]. E ficou abaixo do primeiro trimestre, que foi de 2,39 vezes. A dívida líquida se manteve em um patamar estável de R$ 880 milhões˜, disse Szwarc.
Ficou acertado com os bancos credores, segundo o CFO, uma opção para o Madero aumentar sua dívida bruta até o limite de R$ 1,2 bilhão, mas, nesse caso, o segundo covenant fica mais rigoroso: a alavancagem tem de ser inferior a 1,8 x. Nesse cenário, a companhia também teria que focar em um IPO, o que abriria a possibilidade de uma mudança em sua estrutura societária.
“Estamos prontos para abrir capital se o mercado permitir. Seguiríamos um processo mais rápido, já que temos o registro de companhia aberta. Não temos data prevista para isso. Precisamos primeiro ter o apetite dos investidores de volta com melhores condições de mercado”, explicou o CFO.
Desempenho em Congonhas
No segundo trimestre, as receitas operacionais líquidas cresceram 14,9% na comparação em 12 meses, totalizando R$ 411,2 milhões. O número de restaurantes subiu de 267 em junho do ano passado para 274 unidades ao fim do primeiro semestre deste ano. Segundo o CFO, um dos destaques do período foi a abertura da unidade do Madero Steakhouse no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
“Recebemos uma média de 50 mil clientes por mês em Congonhas. É nossa quarta operação em terminal, depois do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro e dos terminais de Brasília e Curitiba”, ressaltou o executivo.
O tíquete médio da rede também teve leve aumento de R$ 72 para R$ 74 em 12 meses no Madero Steakhouse, enquanto o do Jeronimo passou de R$ 31 para R$ 35.
“Acertamos no gerenciamento de cardápio, incluindo o frango frito no Jeronimo e os pratos italianos do Legno no menu do Madero Steakhouse”, afirmou Szwarc.
Estreia de menu executivo
Uma novidade a caminho é a inclusão de um menu executivo ao preço de R$ 63 nas unidades. O Madero hoje não trabalha com preço único para entrada, principal e sobremesa. “Fizemos testes em Curitiba e houve uma performance positiva”, disse o executivo.
O fluxo de clientes ainda está abaixo do patamar de 2019, antes da pandemia, quando o Madero não tinha ainda serviço de delivery, que respondeu por 15% do volume do segundo trimestre.
“Ainda estamos de 15% a 20% abaixo do fluxo na comparação com o segundo trimestre de 2019″, afirmou o CFO.
O executivo pregou cautela na gestão da rede diante do endividamento elevado e do compasso de espera para o processo de recuperação de renda dos brasileiros com o esperado ciclo de queda dos juros, após o aumento da inflação nos últimos dois e meio anos.
“Não pretendemos sair abrindo novas unidades, tomando mais dívida. O momento ainda é de muita cautela com o plano de expansão. Vamos fazer tudo com muita calma e estudo. Estamos felizes com a redução recente dos preços dos alimentos, com a trégua da inflação, mas o fluxo de clientes ainda não voltou ao patamar pré-pandemia”, afirmou Szwarc.
No balanço financeiro, o CEO do Madero, Junior Durski, demonstrou confiança com o reperfilamento da dívida com os bancos credores. “O restante da dívida da companhia é principalmente composto pelo CRA [Certificados de Recebíveis do Agronegócio], que não sofre nenhuma alteração e terá o início de sua amortização em setembro de 2023″, disse o empresário.
Leia também
Primeiro W no Brasil acirra disputa da hotelaria de luxo na região da Faria Lima
De Uberaba à Faria Lima: os planos da WNT, nova acionista de Light, Westwing e TC