Madero amplia geração de caixa, paga dívida com bancos e avança em cartilha de IPO

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO Junior Durski e o CFO Ariel Szwarc explicam como a rede de restaurantes colhe os frutos do foco na operação e da renegociação da dívida

Madero no Shopping Cidade de São Paulo (Foto: Divulgação)
05 de Agosto, 2024 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — Não faz muito tempo, há dois anos, o Grupo Madero, fundado e controlado pelo chef Junior Durski, tinha uma das situações financeiras consideradas mais delicadas do varejo alimentar no país. Dívida na casa de R$ 1 bilhão, alavancagem próxima dos covenants (cláusulas financeiras com limites que, se descumpridos, causam o pagamento antecipado), queima de caixa e apenas R$ 40 milhões em reserva compunham o quadro.

Passados dois anos, o cenário mudou de forma significativa, e o Madero colhe os frutos de um trabalho de disciplina financeira, busca por ganhos de eficiência na operação, com novos processos, e reforço da estrutura de capital que incluiu renegociação e pré-pagamento da dívida com bancos, o que representou redução do seu custo e alongamento dos prazos. Além de volta do crescimento de forma sustentada.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da companhia, o chef Junior Durski, destacou a evolução de indicadores financeiros em diferentes frentes, da geração de caixa operacional que permite o pagamento de parte da dívida e reduz também a alavancagem ao avanço do top line do balanço em dois dígitos.

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O resultado do segundo trimestre, divulgado na noite de sexta-feira (2), reflete de maneira mais evidente o novo momento da rede que conta com 275 restaurantes no país e que, agora com indicadores operacionais e financeiros mais saudáveis e em trajetória de melhoria, volta a figurar entre os candidatos a um IPO (oferta pública inicial) assim que as condições do mercado de capitais estiverem propícias.

A receita líquida cresceu 20,9% de abril a junho no comparativo anual, para R$ 497,1 milhões. O Ebitda, indicador de geração de caixa operacional, atingiu R$ 152,4 milhões, com alta anual de 57,5%. A margem Ebitda ajustada atingiu o patamar de 30,7%, um reflexo da otimização de processos e controles.

“A exemplo do que vimos no primeiro trimestre, nosso Ebitda estará entre os maiores do setor de food service, considerando as principais redes de capital aberto, como McDonald’s, Burger King e IMC [que opera no Brasil Pizza Hut, KFC e Frango Assado], que ainda vão divulgar seus balanços”, afirmou o CEO.

O Ebitda em 12 meses superou o patamar de meio bilhão de reais e chegou a R$ 513,4 milhões.

O Madero voltou a apresentar lucro líquido, desta vez de R$ 43,7 milhões no segundo trimestre (versus prejuízo de R$ 28 milhões um ano antes).

O crescimento da receita tem acontecido sem que a empresa tenha precisado recorrer a expedientes que afetam as margens, como promoções, prática adotada em boa parte da concorrência.

“Não temos cupons. Não fazemos esse tipo de promoção. O cliente volta aos nossos restaurantes pelo ambiente, pela qualidade do produto, pela satisfação com o serviço. Ele não corre atrás de desconto. Crescemos em same stores sales [vendas de lojas maduras] sem nenhuma promoção.”

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O CFO do Madero, Ariel Szwarc, reforçou na mesma entrevista a mensagem de que o foco do grupo é melhorar seus indicadores de rentabilidade sem sacrificar margens de lucro para ganhar market share.

“Reduzimos o custo da dívida, que estava muito elevado. Do ponto de vista financeiro, a dívida está equalizada, com vencimentos alongados. O mais importante é que atingimos esse ponto com o resultado operacional. A companhia está muito bem em faturamento. O resultado é fantástico”, disse o CFO.

O grupo terminou o primeiro semestre com R$ 285,1 milhões em posição de caixa e aplicações financeiras.

Em julho - já no terceiro trimestre, portanto -, o grupo concluiu uma emissão de R$ 500 milhões em notas comerciais escriturais. O valor foi usado para reforço de caixa e liquidação antecipada de toda a dívida bancária - quarto emissão de debêntures e demais dívidas bilaterais -, que somava R$ 423,2 milhões.

Como resultado, o prazo médio da dívida passou de 2,4 anos em junho de 2024 para 3,2 anos. No cronograma de amortizações, o volume a ser pago até 2025 passou de R$ 354 milhões para R$ 192 milhões.

Nem a mudança nas perspectivas do cenário macroeconômico, refletida na desvalorização do real frente ao dólar e na pausa do ciclo de corte de juros no Brasil, afetou os planos.

“Estamos preparados para a hipótese de um pequeno aumento do custo financeiro, se realmente houver. Já passamos pelo sufoco de reduzir a dívida e a tendência é ver o endividamento cair mais”, disse Szwarc.

O nível de alavancagem da companhia (dívida líquida/Ebitda dos últimos 12 meses) fechou junho em 1,31x. Há dois anos, esse indicador estava em 3,1x, o que levou o grupo a negociar uma reestruturação de dívida no ano passado com adoção de novos covenants (cláusulas restritivas).

“Não temos mais nada previsto para fazer em termos de captação. Não vemos mais necessidade”, afirmou o CFO.

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Menor investimento por novo restaurante

Para o segundo semestre, o Madero planeja abrir mais cinco unidades. No segundo trimestre, a companhia abriu apenas uma nova unidade - no formato contêiner -, em São José dos Pinhais (PR).

Segundo o CFO, só a partir do segundo ou do terceiro trimestres de 2025 que o Madero espera acelerar o ritmo de inaugurações de forma mais agressiva.

“Estamos avançando passo a passo, muito devagar. Já conseguimos reduzir o capex [investimento] necessário para abrir uma nova unidade. Antes, uma unidade do Madero Steak House exigia cerca de R$ 6 milhões. Agora fazemos com R$ 4 milhões. Houve um trabalho completo de reengenharia para escolher melhor a estrutura e os equipamentos”, explicou Szwarc.

Junior Durski, por sua vez, destacou a volta prevista de picanha no cardápio do Madero Streak House em setembro, depois de uma pausa de um ano e meio devido aos preços elevados da carne.

“Estamos fazendo alguns testes para a volta da picanha, importando dos melhores frigoríficos do Uruguai. Resolvemos trazer de lá porque a melhor carne que conheço é a do Uruguai”, disse o chef.

“É um país com forte controle da qualidade da carne. Nem na Argentina nem no Brasil, há uma lei rígida obrigando que só se abata um boi se ele for castrado. Isso diferencia a carne. Quando o animal é castrado, a carne é mais macia”, explicou.

Outra novidade, segundo ele, será uma nova receita de salada - “segredo de minha avó”. “Tem um toque alemão, com cebola, pimentão e tomates. Não é uma salada seca, mas em conserva.”

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.