Luxo em consolidação: Coach e Michael Kors se unem em negócio de US$ 8,5 bilhões

Transação entre as controladoras Tapestry e Capri Holdings deve ser concluída em 2024 e é sujeita à aprovação dos reguladores e acionistas da Capri

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Bloomberg — Tapestry, a proprietária de marcas como Coach e Kate Spade, concordou em adquirir a Capri Holdings, empresa controladora da Michael Kors, em um acordo de US$ 8,5 bilhões que mostra que a onda de consolidação no setor de produtos de luxo está longe de acabar.

A empresa sediada em Nova York está pagando US$ 57 por ação em dinheiro, de acordo com um comunicado desta quinta-feira (10), uma alta de 65% sobre o último preço de fechamento da Capri. A transação deve ser concluída em 2024 e é sujeita à aprovação dos reguladores e acionistas da Capri.

“Estamos confiantes de que essa combinação entregará valor imediato aos nossos acionistas”, disse o CEO da Capri, John Idol, no comunicado. “Ao nos juntarmos à Tapestry, teremos recursos e capacidades maiores para acelerar a expansão de nosso alcance global.”

As ações da Tapestry caíram até 6% no início das negociações antes de reduzirem suas perdas. A Capri subiu 59%.

Tanto a Tapestry quanto a Capri construíram suas próprias coleções de marcas de alto padrão nos últimos anos, mas não conseguiram competir com a amplitude e profundidade das gigantes europeias do luxo LVMH e Kering. As gigantes continentais possuem marcas que abrangem uma variedade de setores, incluindo vestuário, prêt-à-porter, joias, relógios e bebidas alcoólicas.

A combinação das seis marcas “cria uma nova casa global de luxo poderosa, desbloqueando uma oportunidade única para impulsionar um valor aprimorado para nossos consumidores, funcionários, comunidades e acionistas em todo o mundo”, disse Joanne Crevoiserat, CEO da Tapestry, no comunicado.

A aquisição da Capri pela Tapestry é uma tentativa de competir de forma mais eficaz contra os principais players do luxo, especialmente em bolsas — pontos fortes tanto para a Coach quanto para a Michael Kors — e sapatos. A Tapestry é proprietária da marca de calçados Stuart Weitzman e a Capri é dona da Jimmy Choo.

“A adição da Michael Kors consolida a Tapestry como a líder do mercado de bolsas de luxo acessível nos Estados Unidos, com ampla margem”, escreveu Ike Boruchow, analista do Wells Fargo, em relatório.

Os itens de luxo acessíveis das empresas são muito menos caros do que as marcas de alto padrão, como a Louis Vuitton da LVMH. O setor de luxo acessível tem enfrentado desafios nos últimos trimestres nos EUA, à medida que os compradores reduzem os gastos com o declínio do boom de luxo causado pela pandemia.

Expansão na China

A Tapestry, cuja marca Coach está presente na China há décadas, provavelmente se concentrará em acelerar o lançamento da Michael Kors no país, o que poderia ajudar a compensar as vendas mais fracas recentemente no mercado interno das empresas nos EUA. A Tapestry gera cerca de 15% de sua receita na China, enquanto a Capri faz cerca de 6% a 8% das vendas no país.

Ao adicionar a Versace às suas marcas, a aquisição dá à Tapestry seu primeiro acesso direto a uma marca de luxo europeia. A Capri comprou a Versace em 2018 e focou em aumentar as vendas de bolsas e outros acessórios da marca, impulsionando com sucesso a receita.

As empresas disseram que não há condições de financiamento ligadas ao acordo. A Tapestry garantiu US$ 8 bilhões em financiamento ponte totalmente comprometido do Bank of America (BAC) e do Morgan Stanley (MS). A empresa espera financiar o preço de compra de US$ 8,5 bilhões por meio de uma combinação de notas sênior, empréstimos a prazo e dinheiro excedente da Tapestry, usando parte dele para pagar parte da dívida da Capri.

As ações da Capri caíram recentemente à medida que a redução nos gastos dos consumidores dos EUA em lojas de departamento prejudicou as vendas da marca de massa Michael Kors. As ações da empresa caíram cerca de 31% nos últimos 12 meses.

A Capri, também sediada em Nova York, estava programada para divulgar os resultados do primeiro trimestre fiscal em 8 de agosto. A empresa anunciou que reagendaria os resultados para quinta, sem explicação.

O que a Bloomberg Intelligence diz

“O plano da Tapestry (dona da Coach, Kate Spade e Stuart Weitzman) de comprar a Capri (Michael Kors, Versace, Jimmy Choo) traz algumas economias, mas também desafios consideráveis, especialmente na reconstrução do valor da marca premium Michael Kors. A CEO da Tapestry, Joanne Crevoiserat, enfrentará obstáculos significativos à frente, embora isso pareça refletido no preço de US$ 8,5 bilhões em dinheiro, que inclui US$ 3,4 bilhões de dívida da Capri.” — Deborah Aitken, analista sênior de consumidores

As gigantes do luxo vêm adquirindo marcas menores, mesmo com a inflação potencialmente prejudicando a perspectiva de gastos discricionários. A empresa de cosméticos Estée Lauder adquiriu a Tom Ford em um acordo de US$ 2,8 bilhões anunciado no ano passado e concluído em abril.

A Kering, que havia negociado a compra da Tom Ford antes de ser vendida para a Estée Lauder, fechou um acordo no mês passado para uma participação de 30% na casa de moda Valentino por cerca de US$ 1,9 bilhão. A Kering também concordou em junho em adquirir a fabricante de perfumes Creed por uma avaliação não divulgada.

Enquanto isso, a Tapestry se beneficiou de uma recuperação mais forte do que o esperado nas vendas na China no trimestre encerrado em 1º de abril. A empresa espera um crescimento de vendas de um dígito médio na China em seu ano fiscal atual. As ações da Tapestry subiram quase 20% no último ano, avaliando a empresa em cerca de US$ 9,6 bilhões.

A Tapestry disse que a aquisição gerará sinergias de custos de mais de US$ 200 milhões dentro de três anos após o fechamento do acordo devido a eficiências na cadeia de suprimentos e outras operações. A nova empresa empregará mais de 33.000 pessoas em todo o mundo.

A Tapestry disse que está comprometida com uma classificação de investimento e espera atingir uma relação dívida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) abaixo de 2,5 vezes dentro de dois anos após o fechamento do acordo — uma meta que pretende manter a longo prazo.

A Tapestry suspenderá a recompra de suas ações para priorizar a redução da dívida após a aquisição. A empresa disse que o acordo será imediatamente lucrativo por ação.

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