Bloomberg Línea — O Mercado Livre (MELI) registrou lucro líquido de US$ 359 milhões no terceiro trimestre, um crescimento de 178,2% em relação ao mesmo período do ano passado, em mais um sinal de que a empresa de comércio eletrônico com sede na Argentina tem conseguido obter resultados sólidos mesmo diante da maior concorrência no setor, especialmente por parte de empresas asiáticas.
O lucro por ação ficou em US$ 7,18, superando o resultado esperado por analistas de US$ 5,99. A empresa reportou uma margem bruta de 53%, enquanto a estimativa era de 50%. Os analistas também esperavam um volume de vendas brutas de mercadorias de US$ 10,63 bilhões no trimestre, e o Mercado Livre atingiu US$ 11,36 bilhões.
As ações do Mercado Livre subiram 2,31% após a divulgação dos resultados às 17h36 de Brasília. Em 12 meses, os papéis da empresa acumula ganho de 36,7% ante uma alta de 7,6% do S&P500.
A receita líquida foi de US$ 3,76 bilhões, um crescimento anual de 39,8%, enquanto o consenso esperava US$ 3,56 bilhões. Ainda assim, foi um crescimento mais lento do que os 44,8% do ano anterior.
“Crescer [quase] 40% em cima de uma base muito alta, é um resultado que a gente está super satisfeito, que poucas companhias estão apostando no contexto de crescimento, quanto mais 40%”, argumentou o vice-presidente sênior de Estratégia e Desenvolvimento Corporativo do Mercado Livre, André Chaves, respondendo à Bloomberg Línea em entrevista concedida a jornalistas.
Além disso, a empresa disse que teve uma aceleração da receita de crédito e está “mais confortável com o ambiente de crédito”, acelerando novas originações, segundo Chaves. A empresa teve uma receita de US$ 1,63 bilhão no negócio de fintech, contra US$ 1,58 bilhão esperado pelos analistas.
Resultado puxado pelo Brasil
Mais da metade da contribuição direta do resultado no terceiro trimestre veio do Brasil, onde a receita líquida foi de US$ 2 bilhões, enquanto os analistas esperavam US$ 1,93 bilhão.
“Vemos melhora de Brasil, melhora de México, mas o Brasil foi a estrela do trimestre aqui e isso se reflete em uma geração de caixa muito sólida e uma posição muito confortável de balanço para a companhia”, disse Chaves.
O principal motor para o resultado, segundo o executivo, foi a vertical de e-commerce em todos os países, especialmente Brasil e México. Os analistas esperavam receitas de e-commerce em US$ 1,99 bilhão e a empresa atingiu US$ 2,12 bilhões.
“A unidade de negócios que mais contribuiu para o aumento foi o marketplace (que mais contribuiu para a rentabilidade no trimestre), e isso vem do resultado, de um lado, de alavancagem operacional, com crescimento de receita forte acelerando, mas também do outro lado os investimentos em tecnologia começando a gerar ganhos de eficiência em vários lugares, como na rede logística, como as despesas de marketing. Então a gente começa a ter também um controle de despesas de tecnologia, que começa a refletir no resultado”, disse o diretor.
Adquirência, crédito e publicidade foram, nessa ordem, outros motores do resultado. O braço fintech teve um volume de pagamentos de US$ 47,3 bilhões, enquanto a estimativa era de US$43,79 bilhões. O Mercado Pago também bateu a estimativa de transações de pagamento (2,19 bilhões), que foram 2,58 bilhões.
Segundo Richard Cathcart, diretor de Relações com Investidores, outro ponto de destaque foi o crescimento de 27% ao ano de itens vendidos, o nível mais alto em quase dois anos. Isso reflete no GMV, na receita e diluiu as despesas.
Produtos importados
No México, a receita líquida do segundo trimestre foi de US$ 772 milhões, abaixo da estimativa dos analistas de US$ 810,7 milhões. Ainda assim, a empresa disse que o México se destacou como o mercado com o crescimento mais rápido em receita líquida, com um aumento de 66% em relação ao ano anterior.
Segundo os executivos, a venda de produtos importados continua sendo o foco no México, em que o produto importado está dentro de um centro distribuição do Mercado Livre no México.
“Isso aqui permite um nível de serviço muito bom e permite, pelo sortimento bastante amplo, que a gente acabe competindo contra quem exporta diretamente da Ásia, com um diferencial bastante grande”, disse.
No México, isso é bem representativo e segue sendo o foco principal. Para Chaves, o produto importado em geral só tem a vantagem fiscal porque em geral ele é muito mais caro e por isso ele deveria ser menos competitivo.
“Ele só tem alguma competitividade no Brasil por conta da vantagem fiscal. O que a gente vê é que esse primeiro aumento de imposto de 0 a 17% deveria impactar valores. Por outro lado, abre uma oportunidade para a gente entrar nesse jogo de maneira mais intensa, ou seja, a partir de um volume que era praticamente zero”, disse.
Segundo Chaves, a empresa já está operando de acordo com as regras fiscais da Remessa Conforme para produtos importados, mas como ainda são poucos dias “ainda está cedo para comentar”.
Ele disse que o Mercado Livre começou a participar desse jogo de produtos importados, mas não acredita que no Brasil isso será tão relevante quanto no México, em que os produtos importados representam 10% do negócio. “O México tem um modelo em que a proposta de valor é realmente superior. A gente acha que à medida que a taxação possa vir a crescer no Brasil, a venda local deveria ser mais relevante”.
Eficiência logística
Por conta das pressões inflacionárias no Brasil, o Mercado Livre faz ajustes “pontuais” em tabelas de frete, segundo Chaves. “A medida que a gente ganha eficiência, a gente repassa parte desse ganho para o consumidor. Então, houve alguns ajustes muito pontuais nos fretes abaixo de R$ 80″.
Segundo ele, historicamente o percentual de ajuste tem sido abaixo da inflação por conta de produtividade da rede, que por conta da tecnologia para melhor localização de estoque, há uma melhor gestão de frota e isso se reflete em melhor produtividade.
Os novos investimentos estão indo para a expansão da rede logística, com a abertura de um centro de distribuição no Rio de Janeiro, além da expansão em Pernambuco e no México, segundo Chaves. “A gente segue avançando nos investimentos logísticos ao mesmo tempo que ganhamos produtividade”.
Além disso, o programa de fidelidade oferece frete grátis a partir de R$ 29, e não só a partir de R$ 79. “Fazemos isso como equação econômica muito competitiva e não simplesmente fazendo subsídios. Isso também vem da tecnologia”.
Sem dar orientação de resultados para o próximo trimestre, Chaves disse que segue otimista. “Faremos uma Black Friday forte, como a gente tem feito nos últimos anos”, disse, acrescentando que a cada ano a empresa aprende onde é eficiente investir.
“Temos uma boa posição de estoque, um bom pacote promocional contratado”, disse, ainda que não divulgue os gastos com marketing como a parceria com a Globo - em percentual, o investimento em marketing foi 50% maior do que no ano passado.
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