Link School amplia o foco e aposta em curso com formação tech para empreendedor

Escola de negócios lançada em 2020 chega a 700 alunos e avança em inserção tech e na internacionalização, diz o fundador e CEO Alvaro Schocair em entrevista à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Quando abriu as portas há três anos e meio, a Link School of Business, em São Paulo, tinha o objetivo declarado de formar empreendedores, mais do que executivos para o mercado ou alunos com atributos acadêmicos. Passado esse período e a validação do plano inicial além das expectativas, chegou o momento do próximo passo: a instituição lança neste ano o seu primeiro curso de graduação para a carreira em tecnologia, em Ciência da Computação, o que dá origem à Link School of Tech.

“No planejamento estratégico, há três objetivos que buscamos de maneira muito clara: e o primeiro é aumentar a inserção de tecnologia. Os outros são crescer em venture capital e na internacionalização”, disse Alvaro Schocair, fundador e CEO da Link School of Business, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Existe um déficit de profissionais para o mercado de tecnologia, isso não é novidade. Vemos que novas instituições se propõem a formar programadores, CTOs, líderes em tecnologia. Não é o nosso propósito.”

“Queremos formar cientistas de dados, engenheiros da computação, cientistas de software com a cabeça de empreendedor. Juntar o [Steve] Jobs com o [Steve] Wozniak”, afirmou Schocair, em referência às respectivas competências complementares dos cofundadores da Apple.

Entre as disciplinas previstas para o curso de Ciência da Computação, que começa no segundo semestre e que terá anualmente 200 vagas, estão “Inteligência Artificial” e “Aprendizado de Máquina”, que serão conjugadas com competências para o empreendedorismo.

A Link School of Business chegou a cerca de 700 alunos em seus dois cursos, uma graduação em administração de empresas e um MBA que é chamada internamente de MBE, em alusão ao foco da instituição em empreendedorismo - seria um Master in Business and Entrepreneurship.

“Cerca de 30% dos nossos alunos até o terceiro ano já empreendem, o índice mais elevado de que tenho conhecimento no mundo. E esse é um objetivo desde o momento em que idealizamos a Link: formar empreendedores”, disse o fundador e CEO da Link School of Business.

“Aluno com empresa formada que fatura com produto ou serviço validado pelo mercado: esse é o principal KPI [Key Performance Indicator] que acompanhamos para saber se estamos atingindo nossos objetivos”, disse Schocair, esclarecendo que, por outro lado, não há nenhuma preocupação com métricas acadêmicas como publicação de papers, por exemplo.

Trata-se de uma geração de empreendedores de primeira viagem, em contraste com fundadores seriais, que já estão em sua segunda ou terceira startup ou até mais.

Há alunos do primeiro semestre que já chegam com sua própria empresa, mas daí se dão conta por meio de disciplinas diversas - uma delas se chama “Creating New Ventures” - de que há oportunidades de resolver problemas mais complexos e abrangentes, contou Schocair.

Segundo ele, enquanto outras instituições se propõem a formar executivos, a missão da Link é preparar empreendedores, a exemplo de Babson College, em Boston, apontado como o principal benchmark. Outras referências, para o objetivo de ensinar a criar empresas, são as escola de negócios de Stanford, a GSB, e a do MIT (Massachusetts Institute of Technology), a Sloan.

Schocair destacou ainda a Kaospilot, da Dinamarca, como referência para a metodologia de ensino com uma estrutura que vai muito além da sala de aula.

Até o segundo semestre de 2023, a escola de negócios já tinha sido berço de mais 70 startups de alunos, das quais dezesseis estavam na aceleradora criada na Link, a MI5. E seis já haviam recebido aporte em estágios seed ou inferior.

“Antes de levar uma startup para conversar com fundos, submetemos a alguns círculos internos para eventuais aportes: primeiro, entre os alunos, depois professores, o staff e os acionistas da Link. E todas as captações até aqui foram supridas dentro da escola, não foi necessário ir a mercado.

No ano passado, a Link montou um veículo de investimento, a exemplo de um fundo de venture capital, com R$ 3,5 milhões sob gestão, justamente para realizar aportes em startups de alunos. O crescimento desse fundo é justamente outro objetivo dentro do planejamento estratégico citado por Schocair.

“Nós provemos suporte para o empreendedor, para que não tenha que ir sozinho a mercado. Faz muita diferença quando ele já conta com relacionamento, além de serviços financeiro, contábil, jurídico e de marketing e design. Há também o espaço físico e ajuda com fornecedores e clientes. Há todo um arcabouço para que o empreendedor tenha mais apoio em seu começo”, disse Schocair.

A Link montou a grade curricular com base em um tripé, explicou o fundador e CEO. Um primeiro é o das chamadas business tools: finanças, marketing, legal, operações, vendas, tecnologia etc.

O segundo é o de desenvolvimento humano - “é o que ajuda o aluno a entender quem ele é, onde está, de onde veio e para onde quer ir, o que é fundamental para qualquer pessoa”, resumiu. Há aulas para resolução de problemas, gerenciamento de crises e de comunicação verbal e não verbal.

E o terceiro pilar é o da aceleradora de negócios, o MI5. “Depois que o aluno recebeu as ferramentas de negócios e o desenvolvimento humano, é hora de falar: ‘vamos colocar em prática?’.”

Receitas: até 30% para bolsas

Schocair, que é sócio também da Quebec Impact Assets e fez carreira no mercado financeiro - trabalhou anos na Tarpon - antes de iniciar o projeto da Link em 2018, é o principal acionista da escola de negócios.

Há um grupo de investidores pessoa física que ajudaram não só a financiar o projeto como a formar conexões que ajudam, por exemplo, na atração de professores de grandes empresas e do mercado - e que não está preocupado com eventos de saída para o retorno desse capital. Há também um modelo de partnership em que os executivos ganham uma participação acionária na escola.

Segundo ele, a Link tem geração de caixa positiva desde o começo da operação e não precisa de aportes.

Um dos desafios é atrair e convencer profissionais do mercado financeiro para dar aulas. Segundo ele, há uma diferença para o que se vê em escolas de negócios dos EUA, em que está mais disseminada uma “consciência social de devolver por meio de aulas o conhecimento adquirido”.

“Para os alunos, é uma satisfação quando têm a possibilidade de aprender com alguém de mercado.”

Atualmente, cerca de 20% dos alunos são bolsistas, em alguns casos até de forma integral da mensalidade de R$ 11.100. Essas bolsas são custeadas pela própria escola, que destina de 20% a 30% da receita para essa finalidade. Por outro lado, todas as bolsas devem ser restituídas no médio prazo - em um intervalo que pode chegar a nove anos depois da graduação -, para que possa custear outros alunos.

“Montamos uma escola de elite, em que investimos o que havia de melhor no mercado, pensando em localização [a escola fica na divisa dos Jardins com o Itaim e se mudará para uma nova sede na mesma área em agosto], nível dos professores, tecnologia embarcada etc. Mas sabíamos que, se não houvesse bolsas, ficaríamos refém de uma bolha socioeconômica. E não queríamos isso”, disse.

O processo de seleção, por sua vez, envolve a resolução de casos reais fornecidos por empresas de setores variados, como Nike, TikTok, JPMorgan e Cimed, entre outras.

Avanço da internacionalização

Outro componente considerado fundamental na formação do aluno, segundo Schocair, é o aprendizado em parceria com instituições de ponta do exterior. Esse é justamente o terceiro objetivo do plano estratégico: tornar a Link School of Business and Tech cada vez mais internacionalizada.

“Temos programas internacionais obrigatórios. No segundo semestre, por exemplo, todos os alunos passam por um programa de Communication Skills da Universidade de Stanford. Nós compramos essa aula, que é dada de forma exclusiva para os alunos, com um professor de lá de forma síncrona.”

No terceiro semestre, os alunos viajam por duas semanas para a Flórida para aprender com o programa de “encantamento ao cliente” da Disney, além do ambiente de startups em Miami. Nos semestres seguintes, há programas em Wharton (The Startup Game), na Universidade de Tel Aviv (criação de startups), na Babson College (liderança em empreendedorismo) e na Ásia (mercados asiáticos).

Além disso, a Link abriu unidades que oferecem de estrutura para aulas até moradia em Palo Alto, na Califórnia, e em Berlim, na Alemanha, para que grupos de alunos possam passar períodos no exterior, com aulas em universidades locais e visita a empresas. “Essa vivência ajuda os alunos a entender que podem pensar suas empresas com ambição global.”

São selecionados alunos que apresentem projetos relacionados à viagem e com performance acadêmica, além de outros critérios, para assegurar que a experiência traga resultados de aprendizagem.

Segundo o CEO da Link, devem ser abertas de três a quatro novas unidades como essas nos próximos dois anos, em regiões ou cidades como Ásia e Tel Aviv, em Israel. O primeiro da lista de expansão é o polo de Boston, recém-inaugurado em um conhecido hub de inovação dos EUA.

Nem todos são empreendedores

Schocair esclareceu que, apesar da formação voltada para o empreendedorismo, abrir a própria empresa não é uma obrigação para os alunos. Segundo ele, há alguns perfis mais comuns.

“Há o aluno que chega já com sua pequena empresa. É aquele que na escola já demonstrava uma vocação, vendia brigadeiro ou comprava e revendia ingressos; outro perfil é o de quem decidiu que quer empreender, ter o próprio negócio em vez de trabalhar em uma empresa, mas não tem ideia de como fazer”, contou.

Um terceiro grupo, segundo ele, é o de herdeiros, alunos cujas famílias possuem uma ou mais empresas. “Esse aluno sabe que, em algum momento, essa responsabilidade vai ficar com ele.” O quarto grupo é o de alunos que gostam do tema, mas que não têm planos imediatos de empreender.

“Nós respeitamos os quatro grupos de alunos e sabemos que cada um tem seu momento. Explicamos que eles têm a vida inteira para empreender e que só precisam acertar uma vez. É uma geração que tem muita ansiedade e sofre a pressão da exposição em redes sociais de histórias de sucesso de jovens empreendedores”, disse o fundador da Link.

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