Linha de crédito do governo é fundamental para o setor aéreo, diz CEO da Azul

Em entrevista à Bloomberg News, John Rodgerson diz que ‘ninguém está pedindo ajuda para sair da bagunça’ e aponta para preços de combustíveis mais caros que em Miami

John Rodgerson, CEO da Azul
Por Rachel Gamarski
04 de Março, 2024 | 03:04 PM

Bloomberg — Uma linha de crédito de US$ 1,2 bilhão do governo esperada ainda neste mês será fundamental para as companhias aéreas em dificuldades do Brasil, enquanto elas pedem custos mais baixos de combustível de aviação e ajuda para reprimir litígios de passageiros, disse o CEO da Azul, John Rodgerson.

Diferentemente dos Estados Unidos e da Europa, nações latino-americanas ofereceram pouco resgate para o setor durante a pandemia, o que fez com que as companhias aéreas da região lidassem com a crise por conta própria. Algumas sucumbiram: Avianca Holdings, Latam Airlines e Grupo Aeromexico entraram com pedido de proteção contra credores no Chapter 11 na legislação americana em 2020.

A Gol Linhas Aéreas Inteligentes (GOLL4) buscou proteção contra credores também no Chapter 11 no fim de janeiro passado depois de cerca de uma dúzia de trocas de dívida.

O pedido de concordata - o equivalente à recuperação judicial no Brasil - da Gol “mudou o diálogo” com o governo, disse Rodgerson em entrevista no escritório da Bloomberg News em São Paulo na semana passada. “Ninguém está buscando ajuda do governo para sair da bagunça.”

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Azul (AZUL4), Latam e Gol, as três maiores transportadoras do mercado de aviação do país, estão envolvidas nas negociações, e a linha de crédito - entre R$ 4 bilhões (cerca de US$ 807 milhões) e R$ 6 bilhões (US$ 1,2 bilhão) - seria dividida entre elas, de acordo com Rodgerson.

O Ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, que conduz as negociações dentro do governo, compartilhou os detalhes sobre o tamanho e o timing da ajuda na semana passada, relatou a mídia local.

Outras solicitações, que incluem limitar a quantidade de litígios a que estão sujeitas as companhias aéreas e reduzir os preços do combustível, provavelmente levarão mais tempo, acrescentou.

Um fundo que oferece crédito a “um custo razoável em moeda local pode nos ajudar a desenvolver e trazer mais aeronaves para o país”, disse o CEO da Azul, acrescentando que o setor não está crescendo tão rápido quanto deveria na maior economia da América Latina.

O aumento nos preços do combustível de aviação e os atrasos na produção de novas aeronaves têm pressionado os fluxos de caixa das companhias aéreas desde a pandemia.

O aumento na demanda à medida que a pandemia recuava permitiu-lhes aumentar os preços - em dezembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as passagens aéreas haviam aumentado 65% nos quatro meses anteriores.

O aumento foi tão significativo que estava afetando a inflação, uma preocupação para um país com histórico de preços fora de controle. “Isso nos preocupa”, disse ele na época.

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Para Rodgerson, o governo é responsável pelos problemas estruturais que estão causando diretamente as tarifas altas - incluindo o custo do combustível de aviação, que se tornou um ponto de disputa nas negociações de ajuda.

O CEO da Azul tem se tornado um crítico vocal dos custos de combustível do país, que representam de 40% a 50% das despesas da empresa, dizendo que fatores como a política de preços da gigante estatal de petróleo, a Petrobras (PETR3, PETR4), tornam esse insumo “mais caro do que em Miami”.

“Por que um país produtor de petróleo deveria pagar mais pelo combustível de aviação do que a Suíça, que não produz petróleo? O que estamos pedindo é que tratem as companhias aéreas como seriam tratadas em qualquer outro lugar do mundo”, disse ele. “Você não pode ter um governo que critica os preços e não faz nada para corrigir isso.”

O CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, rejeitou as críticas em ocasiões anteriores e resistiu à pressão para reduzir os preços, dizendo no mês passado que a empresa não pode simplesmente agir nessa direção quando o governo diz para fazê-lo. Ele também argumentou que as tarifas aéreas “anormais” continuaram em 2023, mesmo com a queda nos preços do combustível de aviação.

Na última sexta-feira (1), o jornal O Estado de S.Paulo relatou que a Petrobras decidiu aumentar os preços do querosene de aviação entre 8% e 8,5%, efetivo a partir de 1º de março, citando dados da estatal. A empresa ajusta os preços todo primeiro dia do mês.

Enquanto as discussões sobre os preços do combustível continuam, as tarifas aéreas mais altas propiciam à Azul algum espaço para “respirar”.

“As tarifas hoje no Brasil estão em um nível em que podemos ganhar dinheiro”, disse Rodgerson. No ano passado, a Azul anunciou uma oferta de troca de títulos que a Fitch Ratings considerou uma troca de ativos distressed. Essa renegociação, junto com preços de passagens mais altos, deve manter a empresa [em operação] pelo menos até 2028, quando haverá os vencimentos, acrescentou.

A empresa tem cerca de US$ 2,6 bilhões em dívidas totais, com menos de US$ 100 milhões que vencem nos próximos três anos, dados compilados pela Bloomberg mostram. Em 2028, haverá cerca de US$ 1,4 bilhão em vencimento.

Quando questionado sobre uma possível combinação com a Gol, Rodgerson disse que a Azul está monitorando de perto a situação. “Você tem uma obrigação com seus acionistas de analisar quais oportunidades existem por aí”, disse ele, recusando-se a dar mais detalhes.

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