Light propõe desconto mínimo de 60% para credores em ‘leilão reverso’

Empresa de energia que atende o estado do Rio prevê ainda a opção de conversão da dívida em ações em plano de recuperação judicial apresentado na noite de sexta (14)

Light apresentou plano de recuperação judicial com dívidas da ordem de R$ 11 bilhões (Foto: Dado Galdieri/Bloomberg)
15 de Julho, 2023 | 11:21 AM

Bloomberg Línea — Em recuperação judicial há dois meses com uma dívida declarada da ordem de R$ 11 bilhões, a Light (LIGT3) apresentou na noite de sexta-feira (14) na Justiça do Rio de Janeiro o seu plano para pagamento com desconto de credores.

O objetivo é reduzir o tamanho da dívida da companhia de geração e distribuição de energia, que atende a maior parte dos municípios do estado do Rio de Janeiro. A recuperação judicial da Light é um dos maiores casos do ano na crise que tem afetado empresas brasileiras de diferentes setores, tendo em comum um elevado grau de alavancagem financeira.

O plano propõe diferentes alternativas para os credores de acordo com a sua categoria e de que maneira preferem assumir as perdas com o não pagamento das dívidas pela Light. A empresa prevê ainda uma capitalização de pelo menos R$ 1 bilhão que pode ser feita de diferentes formas, de subscrição de acionistas privados ou públicos até nova captação de dívida.

Segundo informou a Light em comunicado, as diferentes opções “levam em consideração a pulverização da dívida da empresa e um universo heterogêneo de credores: são mais de 40 mil investidores pessoa física, 250 fundos de investimento e 10 instituições financeiras, nacionais e estrangeiras”.

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Leilão reverso

Um dos principais mecanismos previstos é a realização de “leilões reversos” com desconto mínimo de 60% para as dívidas, até o limite somado de R$ 3 bilhões a ser desembolsado pela empresa. Nessa modalidade, credores que aceitarem descontos maiores terão direito ao recebimento à vista da fração que sobrar.

Credores que não aceitarem o leilão reverso com desconto a partir de 60% terão a opção de receber o equivalente a 80% da dívida atual somente depois de 15 anos, com correção pelo IPCA - e isso na hipótese de a empresa conseguir executar o plano de recuperação judicial proposto.

A Light também propôs aos credores a alternativa de nova emissão de dívida - debêntures, bonds ou outros instrumentos - com desconto de 20% em relação ao valor atual, com a exigência de que abram mão do direito de processar a empresa na Justiça.

O valor somado não deve superar R$ 3,5 bilhões. Nesse caso, a amortização do principal se dará apenas a partir do quinto ano da emissão da nova dívida.

Há também previsão de troca da dívida atual por nova a ser emitida, sem desconto, para “credores parceiros” - que apoiarem, por exemplo, a separação total da estrutura de capital da Light Energia -, com recebimento do principal a partir de datas que podem variar de 2025 a 2028.

Dívida conversível em ações

Outra proposta é para que credores possam converter 100% das dívidas em ações da Light, de olho em uma possível valorização dos ativos se o plano for bem-sucedido e, portanto, eventual redução do prejuízo acumulado a depender do ponto de entrada na base acionária da companhia.

As ações foram negociadas no fechamento de sexta-feira (14) a R$ 8,25, com desconto de cerca de 66% em relação ao pico recente de mais de R$ 24 no início de 2021, por exemplo. Para muitos desses investidores, a perspectiva de recuperação do valor alocado é menor.

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Por outro lado, investidores que enxergaram oportunidades da crise da empresa nos meses de março e abril, quando a ação foi negociada na casa de R$ 2, hoje já acumulam ganhos de 300%. Foi o caso do investidor Nelson Tanure, que montou posição na crise e se tornou um dos principais acionistas.

Debenturistas

Para investidores que possuem debêntures emitidas pela empresa, a Light oferece pagamento de até R$ 10 mil por CPF ou CNPJ, o que, segundo ela, abrange cerca de 25 mil investidores que são pessoa física (60% do total).

A proposta não endereça, portanto, um dos principais grupos organizados de credores, que são investidores institucionais que compraram debêntures da companhia.

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