Bloomberg Línea — A Panvel “fincou bandeira” na região nobre da Avenida Paulista, em São Paulo, em novo passo para ganhar espaço no maior mercado do varejo farmacêutico do país.
A maior rede de farmácias da região Sul assume o espaço no Conjunto Nacional que antes era ocupado desde 2022 pela também gaúcha Chocolate Lugano.
A ambição da rede de farmácias é abrir mais três lojas na capital paulista neste ano, o que levará a um total de 16 unidades nesse mercado.
A chegada da Panvel (PNVL3) à icônica galeria comercial na ponta norte do Jardim Paulista, inaugurada como uma joia da arquitetura em estilo modernista em 1958, em projeto de David Libeskind, reforça a presença do comércio de remédios e artigos de higiene e beleza no local.
A rede paranaense Farmácias Nissei abriu uma unidade no fim do ano passado e se juntou a um ponto da Drogaria São Paulo, do Grupo DPSP. A Ultrafarma, do empresário paranaense Sidney Oliveira, já contou com uma loja no Conjunto Nacional.
“Contar com uma loja na Paulista estava nos nossos planos há muito tempo, mas não é barato investir em um ponto relevante da avenida. E não gostaríamos de estar em um lugar sem relevância”, disse Roberto Coimbra, diretor executivo de operações da Panvel, à Bloomberg Línea.
“Finalmente achamos o ponto ideal no Conjunto Nacional tanto pela localização como pela importância arquitetônica e histórica”, disse o executivo.
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A rede de farmácias investiu cerca de R$ 2 milhões na nova loja, que foi inaugurada no último dia 10, segundo o executivo. No final de 2024, a Panvel tinha um total de 631 lojas e um market share histórico de 13,2% na região Sul no quarto trimestre.
No Rio Grande do Sul, a Panvel tem um market share acima dos 20%, segundo o executivo. Nos outros dois estados da região (Paraná e Santa Catarina), a fatia está entre 7% e 8%.
Os canais digitais responderam por mais de 20% do faturamento da rede no trimestre.
“No ano passado, em São Paulo, nós crescemos mais de 40%. O que nos interessa é ter uma expansão em São Paulo que seja sustentável. Não posso abrir 20 ou 30 lojas aqui e começar a ter um desempenho que coloque em risco o restante da minha expansão”, afirmou Coimbra.
A venda média mensal por unidade foi a maior da história da companhia, fundada em 1967, com o valor de R$ 750 mil no quarto trimestre. Mas em São Paulo esse indicador é mais alto.
Em uma conta com apenas as 13 unidades de São Paulo, esse valor alcança R$ 1,5 milhão ao mês.
“Estamos agora em condições de aumentar um pouco o ritmo de aberturas em São Paulo, porque temos uma equipe de trabalho, uma marca mais conhecida e uma venda média mensal importante”, afirmou Coimbra.
A estratégia de crescimento da Panvel projeta a inauguração de cerca de 60 novas unidades ao ano no país.
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Segundo a companhia, a loja da Paulista será uma vitrine para os produtos de marca própria da Panvel, cujas vendas cresceram 10,3% no quarto trimestre. Essas linhas abrangem desde cosméticos e itens de higiene e beleza até produtos de cuidados ortopédicos e infantis.
M&As no cenário
O plano no horizonte de até dois anos é expandir, com cautela, a presença no estado com o maior mercado do Brasil, o que inclui a possibilidade de analisar oportunidades de aquisições
“Estamos abertos a conversas. Ainda temos o estado de São Paulo inteiro, como a Grande SP e o interior, para trabalhar em nosso plano de expansão”, disse o diretor da Panvel.
O executivo ressaltou, no entanto, que a Panvel segue critérios de seletividade no momento de escolher os imóveis para a abertura de lojas, em modelo que considera o padrão de unidades.
“Algumas redes de farmácias que ficaram antigas têm lojas pequenas, sem estacionamento, com uma venda média mensal baixa. Se a companhia estiver diante de uma oportunidade de aquisição, buscaremos características que sejam semelhantes e coerentes ao que fazemos”, ressalvou Coimbra.
Na cidade de São Paulo, o perfil do frequentador das lojas da Panvel aponta para um padrão de bairros de alta renda, como Jardim Europa, Ibirapuera e Vila Mariana.
“O nosso plano é ter lojas que gerem não apenas volume de negócios mas também emprestem essa visibilidade para a marca, como nossa loja na avenida Europa e a que fica perto do Parque do Ibirapuera. São trajetos importantes e de elevada frequência”, afirmou o executivo.
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O cenário macroeconômico também é um ponto de atenção, segundo o diretor, mas o varejo farmacêutico nacional tem se mostrado resiliente diante dos desafios do ciclo de alta de juros, aumento do custo de vida e endividamento das famílias, apesar do nível elevado de emprego.
“Olhamos tudo com bastante cautela. Por outro lado, costumamos dizer que nosso segmento possui resiliência. As pessoas precisam manter seus tratamentos mesmo quando a economia está um pouco mas severa”, disse.
Análise do sell-side
A ação da Panvel tem recomendação de outperform (desempenho superior ao do mercado) com preço-alvo de R$ 13,00, segundo o analista Vinicius Pretto, do Itaú BBA, em relatório no dia 28 de março.
O papel acumula queda de 23% em 12 meses, enquanto a líder do setor, RD Saúde (RADL3) tem desvalorização de 14%, enquanto a Pague Menos (PGMN3) ganhou 32% no período - até o pregão da última terça-feira (15).
“No quarto trimestre, a Panvel continuou a apresentar resultados sólidos, com forte crescimento em lojas maduras e ganhos de participação de mercado em todos os estados do Sul. Continuamos a observar uma combinação atraente de resultados resilientes (segmento não discricionário e exposição a uma base de consumidores de renda mais alta) e uma narrativa de crescimento”, avaliou Pretto.
A equipe de research da Genial Investimentos, em relatório assinado por Iago Souza e Nina Mirazon, apontou que o último resultado trimestral da Panvel veio abaixo das expectativas devido ao pagamento de bônus anual superior ao projetado (consolidado em R$ 13 milhões versus estimado em R$ 10 milhões).
A Panvel reportou um lucro ajustado de R$ 34 milhões, com uma margem líquida de 2,3% (-0,20 ponto percentual na visão anual).
“Frente a despesas de remuneração mais pesadas do que o esperado, o resultado veio abaixo tanto das nossas expectativas (-7% versus estimativa da Genial) quanto do consenso (-14% versus o consenso da Bloomberg)”, escreveram os analistas em relatório sobre o balanço.
Os analistas destacaram, no entanto, que a decisão da companhia de encerrar sua operação de atacado em dezembro foi considerada positiva.
O segmento operava com uma margem bruta de aproximadamente 11%, significativamente abaixo da média da vertical de varejo, que registrou 29,7% nos últimos 12 meses, segundo eles.
“Embora 2025 deva ser um ano desafiador para o setor farmacêutico, com o reajuste de CMED [Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos] abaixo da inflação e inferior ao autorizado em 2024, o encerramento desse canal posiciona a Panvel para outperformar o setor, especialmente em termos de margem bruta e operacional”, avaliaram os analistas da Genial.
O reajuste médio permitido por lei no preço de medicamentos e autorizado para 2025 foi de 3,83%, o menor índice desde 2018, abaixo da inflação acumulada no período, de 5,06%.
A equipe de research do Itaú BBA apontou como tema a ser monitorado no segmento em 2025 o impacto da crescente presença de marketplaces na venda de produtos na categoria de higiene, perfumaria e cosméticos (HPC).
“Uma tendência semelhante foi observada nos resultados da Panvel, com o HPC crescendo 12,6% no ano contra ano, contra um crescimento consolidado de 17,8%, com perda de 1,9 ponto percentual em participação nas vendas”, escreveram os analistas sobre a perda de market share.
“É um tema importante a ser monitorado no setor, pois pode não apenas impactar o crescimento futuro mas também pressionar as margens brutas devido ao perfil de margem mais alto desta categoria”, alertaram os analistas do Itaú BBA.
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