Lemann diz que tenta salvar Americanas junto com sócios e cita ‘30.000 empregos’

Empresário e investidor deu declarações sobre a fraude contábil na varejista em evento no último sábado (6) em Harvard: ‘temos que lidar com isso’, afirmou sobre a crise

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Bloomberg — O bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann disse que, junto com seus parceiros de longa data, está tentando salvar a Americanas depois da fraude contábil de R$ 25 bilhões que levou a varejista à recuperação judicial no começo do ano passado.

O trio de fundadores da 3G Capital - Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira - tem participações na Americanas (AMER3) desde o início da década de 1980 e a fatia que detinha era de cerca de 30% quando o escândalo estourou. Agora, com uma reestruturação e uma recapitalização da empresa, eles serão donos de cerca de metade do negócio.

“Tivemos uma crise em uma de nossas empresas, a primeira empresa que compramos”, disse Lemann, referindo-se à Americanas, durante a Brazil Conference, organizada por alunos brasileiros na Universidade Harvard, no sábado (6). “Temos que lidar com isso. Estamos lidando com isso. Ela tem 30.000 funcionários, então temos que tentar salvar a empresa.”

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A nova direção da empresa culpou a equipe de gestão anterior liderada por Miguel Gutierrez, que ficou 20 anos como CEO, dizendo que ele teria enganado o conselho e escondido certas contas ligadas a contratos de marketing e financiamento da cadeia de abastecimento para inflar os resultados.

Embora a Americanas represente uma fração da fortuna de Lemann, de cerca de US$ 23 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index, o caso representou uma mancha em sua longa e ilustre carreira de investidor.

Os principais acionistas estão investindo R$ 12 bilhões para recapitalizar a empresa e se comprometeram a não vender ações por pelo menos três anos dentro do acordo com os principais credores, entre os quais estão alguns dos maiores bancos do país.

Além de um comunicado conjunto com Telles e Sicupira no início de 2023, é a primeira vez que Lemann fala publicamente sobre a fraude contábil na Americanas. Seu sócio Sicupira é mais atuante na empresa há muito tempo e ainda faz parte do conselho de administração.

Lemann, de 84 anos, é mais conhecido por ser cofundador da 3G e ter construído separadamente um império no setor de bebidas que levaria à formação da AB InBev, maior fabricante de cerveja do mundo.

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Através da 3G, Lemann e seus sócios compraram o Burger King e outras cadeias de fast food. Eles também fizeram parceria com Warren Buffett para comprar a Heinz, depois a Kraft e fundiram as duas, o que deu origem à Kraft Heinz

O valor de mercado da Americanas encolheu para apenas cerca de R$ 500 milhões, ante R$ 10,5 bilhões antes da crise no início de 2023.

“Se você está delegando, você também corre riscos. Temos nos saído muito bem com a delegação, mas há problemas aqui e ali. As pessoas não são exatamente como você esperava ou reagem de maneira diferente”, disse Lemann.

Conselho aos jovens: ‘assumam riscos’

Durante a conversa de quase uma hora, Lemann também falou sobre surfar e jogar tênis no Rio de Janeiro quando era jovem, suas dificuldades iniciais com o curso em Harvard e seus primeiros empreendimentos comerciais. Ele incentivou os alunos a assumir riscos e obter experiência na vida real, em vez de correrem direto para a escola de negócios.

Sobre questões de governança, também falou sobre o processo de preparação para entregar o controle à próxima geração.

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“Nós, que construímos e operamos esses negócios no passado, não poderemos mais operá-los porque estamos envelhecendo”, disse Lemann. “Temos que criar um sistema de trabalho por meio de conselhos e um tipo de governança diferente do que tínhamos no passado, quando estávamos lá promovendo as coisas nós mesmos.”

Seus filhos, Marc e Paulo Alberto, participam de diversos conselhos, e os de seus sócios também ocuparam cargos em negócios associados. Telles transferiu sua participação na AB InBev para seu filho no final do ano passado.

Lemann raramente fala publicamente e não costuma dar entrevistas à mídia. Uma das últimas vezes que falou publicamente foi em uma conversa com o empresário brasileiro Abilio Diniz, que morreu em fevereiro.

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