Latam Airlines está mais forte financeiramente e de olho em oportunidades, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg News em Santiago, Roberto Alvo diz que mercados internacionais têm se recuperado e que companhia tem capacidade financeira para crescer e investir

Roberto Alvo, CEO da Latam Airlines Group com sede em Santiago, no Chile -é a maior companhia aérea da América do Sul
Por Eduardo Thomson - Emma Sanchez
12 de Abril, 2024 | 12:59 PM

Bloomberg — Dezessete meses após sair do processo de concordata na justiça americana - equivalente à recuperação judicial no Brasil -, a Latam Airlines, com sede em Santiago, se sente confiante o suficiente com suas finanças para procurar novas transações e se declarar “aberta a oportunidades”, segundo seu principal executivo.

“A pandemia e o processo pelo Chapter 11 foram muito difíceis para a Latam e para seus acionistas que perderam tudo, mas nos permitiram ressurgir como um grupo financeiramente muito mais forte do que antes da pandemia”, disse o CEO, Roberto Alvo, à Bloomberg News em Santiago. “E hoje temos a capacidade financeira para aproveitar oportunidades, crescer e investir.”

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Em uma de suas primeiras entrevistas desde que um avião da Latam perdeu altitude subitamente no ar - o que deixou dezenas de feridos - sobre a Nova Zelândia no mês passado, ele também expressou confiança na Boeing, fabricante de aviões dos Estados Unidos que apresentou uma série de falhas de segurança em suas aeronaves.

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Duas oportunidades que a empresa estuda ativamente são listar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York, conforme anunciado em 3 de abril, e refinanciar títulos em dólar com vencimento em 2027 e 2029 assim que se tornarem resgatáveis em outubro. Esses títulos foram emitidos como parte da reestruturação da dívida e da estrutura de capital da empresa aérea.

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A empresa ainda precisa escolher o momento certo para realizar a listagem novamente, disse Alvo. "Vemos uma alternativa interessante para refinanciar essa dívida porque o prêmio de risco da Latam está mais baixo, há mais clareza sobre o que conquistamos, sobre nosso histórico, e os rendimentos também estão um pouco mais baixos."

É uma grande reviravolta para a maior empresa aérea da América do Sul, que iniciou o processo de recuperação judicial em 2020 depois que a pandemia de Covid levou a lockdowns, fechamento de fronteiras e cancelamento de voos.

Suas perdas naquele ano e em 2021 totalizaram cerca de US$ 4,9 bilhões. Desde então, a empresa reduziu sua dívida em cerca de US$ 3,6 bilhões e conseguiu apresentar lucro líquido positivo nos últimos cinco trimestres. De acordo com dados compilados pela Bloomberg, analistas agora preveem que a empresa reportará um lucro de US$ 178 milhões no primeiro trimestre deste ano.

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O processo de proteção contra credores pelo Chapter 11 levou a uma drástica mudança de propriedade. A família Cueto, proprietária de 16,4% antes da pandemia por meio de sua empresa controladora Costa Verde Aeronáutica, viu sua participação cair para cerca de 5%. Seu maior acionista agora é a Sixth Street Partners, com sede em São Francisco, com quase 28%.

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O balanço mais saudável da Latam coincide com a recuperação da demanda em suas rotas domésticas e internacionais mais importantes. Sua oferta de assentos-quilômetro disponíveis (ASK, na sigla em inglês), uma métrica do setor para medir a capacidade de transporte, já superou os níveis pré-pandemia em seus mercados internos e deve atingir essa marca internacionalmente até o final do ano, disse Alvo.

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"Os mercados domésticos começaram a se recuperar na segunda metade de 2022 e os mercados internacionais estavam ficando para trás", disse Alvo. "O ritmo de recuperação da demanda internacional realmente começou nos últimos 12 meses."

A Bloomberg Intelligence (BI) concorda que o CEO da Latam tem motivos para ser otimista.

“A saúde financeira da Latam ajuda e se compara favoravelmente a outras companhias aéreas da região, permitindo oportunidades de crescimento”, disse o analista da BI, Francois Duflot, por e-mail. “Ainda assim, o aumento da capacidade até 2025 pode pressionar as tarifas e os yields [de títulos].”

Prédio da Latam Airlines no Aeroporto Internacional Arturo Merino Benitez em Santiago, no Chile (Foto: Cristobal Olivares/Bloomberg)

A Latam opera uma frota de 333 aeronaves com idade média de cerca de 11,5 anos. Ela é composta por 256 modelos de corpo estreito - narrow body - e corredor único da Airbus, da França, além de 57 aviões wide body e 20 cargueiros da Boeing, de acordo com seu relatório anual de 2023.

A empresa tem planos para receber 111 aviões A320, da Airbus, nos próximos cinco a seis anos, que substituirão parcialmente modelos mais antigos. Ela também anunciou recentemente um pedido de cinco novos Boeing 787 Dreamliners, que são a “espinha dorsal” dos planos de crescimento internacional da Latam, disse Alvo.

As companhias aéreas estão enfrentando uma quadro de crescente incerteza com origem justamente na Boeing, a gigante da aviação com sede na Virgínia, nos EUA, uma vez que suas entregas continuam limitadas enquanto o fabricante enfrenta um maior escrutínio regulatório sobre suas operações.

A Boeing solicitou às companhias que operam modelos 787 Dreamliner que realizem mais inspeções depois que um voo da Latam com destino a Auckland sofrer um incidente em março.

Reguladores chilenos disseram em um relatório preliminar que a cadeira do capitão começou a se mover para a frente sozinha e que outras etapas da investigação estão pendentes. Alvo se recusou a comentar sobre o processo.

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Em relação aos problemas da Boeing, Alvo afirmou que está confiante de que a empresa americana será capaz de superar seus problemas. “A Boeing produz aviões fantásticos”, disse Alvo. “Operamos esses aviões sem nenhuma preocupação.”

Atrasos nas entregas e JV com a Delta

Uma questão que tem atormentado o setor são os atrasos nas entregas de novas aeronaves. “Tem sido difícil recuperar toda a cadeia de produção”, disse Alvo. “Uma aeronave tem milhões de peças e há milhares de fornecedores envolvidos, e recuperar tudo isso desde a pandemia tem sido difícil tanto para a Airbus quanto para a Boeing, o que está gerando atrasos.”

A Latam anunciou um acordo de compartilhamento de voos com a Delta Air Lines em 2019, por meio do qual a companhia americana adquiriu uma participação de 20% na Latam. Essa participação foi diluída para 10% após o processo pelo Chapter 11.

Com relação à joint venture, Alvo afirmou que a aliança está amadurecendo rapidamente. "Crescemos muito em 2023 junto com a Delta, em parte devido à recuperação natural após a pandemia, mas também nos permitiu abrir importantes novas rotas internacionais", disse Alvo. "Veremos resultados sólidos dessa aliança em 2025."

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