Bloomberg Línea — Antes da recente recuperação do Ibovespa em 2025, o desconto em ações brasileiras e os múltiplos relativamente baixos abriram oportunidades para gestoras especializadas do país.
Foi o caso da Oncoclínicas, hoje avaliada em cerca de R$ 3,6 bilhões, e que se tornou uma das principais apostas da Latache Capital, do CEO e sócio fundador, Renato Azevedo.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o gestor disse que decidiu entrar no negócio depois de identificar uma oportunidade e que o seu compromisso com a maior empresa de tratamento oncológico do país vai além de conseguir um retorno atraente, mesmo após a ação mais que dobrar de valor.
“O nosso objetivo é fazer um investimento de longo prazo na companhia. Não temos nenhuma pressa. No caso da Oncoclínicas, assim como em outros na bolsa, o preço do papel estava muito depreciado”, disse Azevedo.
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No dia 10 de março, a gestora da Faria Lima focada no mercado de special situations alcançou participação de 10,19% na empresa, segundo dados da B3 referente à posição acionária.
Menos de um mês antes, a fatia da Latache correspondia a 6,68%, quando a companhia de saúde informou pela primeira vez que a gestora havia adquirido participação relevante no negócio.
O movimento coincidiu com uma disparada nos papéis da Oncoclínicas (ONCO3), que saíram de uma mínima de R$ 1,77 em 12 de fevereiro para R$ 5,55 no fechamento de quinta-feira (20).
O preço ainda está distante do valor de R$ 19,75 fixado no IPO (oferta inicial de ações), em agosto de 2021, mas a alta acumulada em 2025 soma 134%.
A aquisição da fatia relevante da Oncoclínicas é a primeira aposta da Latache no setor de saúde entre companhias listadas na B3.
À Bloomberg Línea, Azevedo disse que o atual interesse em alocar recursos na Oncoclínicas surgiu a partir da tese da gestora, que tem mais de R$ 3 bilhões sob gestão e acumula 10 anos de atuação no mercado de crédito distressed.
“A casa é originalmente de special situations, mas não necessariamente isso se traduz em empresas em dificuldades. Se for falar só disso, seria distressed situations. Somos um provedor de capital e investidor oportunístico nas diversas situações buscando retornos diferenciados”, disse o gestor, que anteriormente foi sócio da Blackwood Investimentos e começou sua carreira no Credit Suisse.
Azevedo disse que a Latache não atuará para fazer mudanças na gestão da Oncoclínicas após se tornar acionista relevante. Mesmo com 10% da Oncoclínicas, a gestora não terá assento no conselho de administração da companhia.
“Achamos um há uma boa oportunidade do ponto de vista risco e retorno neste case. Vemos com uma alocação eficiente de capital, sem qualquer ingerência na companhia”, afirmou Azevedo.
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Além da Latache, o grupo de saúde tem ainda como acionistas relevantes o Goldman Sachs (20,76%); o Banco Master (19,90%), do banqueiro Daniel Vorcaro; o fundo de participações Josephina III (16,05%), detido pela Centaurus Brazil Holdings; e o fundador e CEO da companhia, o médico Bruno Ferrari (8,41%).
Em outro caso separado, segundo a Bloomberg News, a Oncoclínicas foi alvo de questionamentos de acionistas minoritários sobre a fatia da Centaurus Brazil Holdings.
A Abraicc, que representa alguns dos acionistas minoritários, pediu à empresa para determinar se a Centaurus precisa fazer uma oferta para comprar ações de terceiros após sua participação ultrapassar o limite de 15%.
Amizade com o fundador da Oncoclínicas
O interesse da Latache de entrar no capital da Oncoclínicas se deve também a uma relação de amizade de longa data entre Azevedo e o fundador Bruno Ferrari.
Ambos são de Belo Horizonte e têm conversas informais sobre a companhia, segundo uma pessoa com conhecimento da Latache ouvida por Bloomberg Línea, que pediu anonimato, pois não tem autorização para comentar o assunto publicamente.
A aposta da Latache na tese de investimento tem como base a tendência de envelhecimento da população, o que elevará a demanda por tratamento de câncer, segundo a pessoa. A Oncoclínicas é considerada a primeira plataforma escalável de tratamento de tumores no Brasil.
A gestora defende de que a Oncoclínicas siga focada em seu core business (tratamento de câncer), evitando ampliar sua oferta para outras especialidades, entrando na disputa com redes de hospitais do país, como Rede D’Or (RDOR3) e Mater Dei (MATD3), segundo a fonte.
O mercado de saúde tem se movimentado nos últimos anos com operações de M&A e parcerias estratégicas, depois de um período de alta sinistralidade, aumento de custos e ajustes após a pandemia. No ano passado, a Dasa (DASA3) e a Amil se uniram para criar o segundo maior grupo de hospitais do país.
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A criação de verticais focadas em tratamento oncológico tem avançado entre os players do mercado hospitalar, como a Rede D’Or, um movimento que exige capital intensivo.
Apesar da alta recente, as ações da Oncoclínicas acumulam queda de 49% em 12 meses. Segundo a fonte ouvida pela Bloomberg Línea, uma das razões da perda de valor é o questionamento de alguns gestores sobre a forma como a companhia contabiliza a locação de imóvel para construir cancer center, se a despesa de aluguel deveria ser incluída no cálculo de seu endividamento.
Na Latache, a avaliação é de que o aumento da sinistralidade de um cliente específico já foi um problema sanado, e que a companhia não está no “mar aberto” do setor de saúde, de acordo com a fonte.
A presença do Goldman Sachs na estrutura de capital da companhia também foi citada pela fonte como um argumento favorável considerado pela Latache em aumentar sua participação na Oncoclínicas.
Outras oportunidades à frente
Na entrevista à Bloomberg Línea, Renato Azevedo disse que a gestora começou 2025 com “muito caixa” e está monitorando novas oportunidades de aporte ao longo do ano.
Independentemente da evolução dos cenários macroeconômico e político, sempre haverá alguma oportunidade em algum nicho do mercado, segundo o gestor.
“Minha preocupação no final das contas é entregar retorno ao meu investidor. Ainda estamos tateando, a exemplo do mercado, para ver onde vamos aportar mais neste ano”, afirmou o CEO da Latache.
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