Bloomberg — Daniel Kretinsky está de volta. O bilionário tcheco está se tornando um comprador em série de diversos ativos franceses, principalmente empresas que estão em declínio e precisam desesperadamente de um salvador. As mudanças têm ajudado Kretinsky a subir degraus rumo aos escalões mais altos do mundo dos negócios do país.
Em sua mais nova jogada, o autoproclamado francófilo de 48 anos se ofereceu para assumir os ativos da Atos, disse a empresa de tecnologia na terça-feira (1º de agosto). A Atos receberá € 100 milhões (US$ 110 milhões) em dinheiro e vai transferir € 1,9 bilhão em dívidas para o comprador, afirmou.
Apenas nos últimos meses, Kretinsky, que construiu sua fortuna com ativos de energia - em especial de combustíveis fósseis -, entrou em três acordos franceses de alto nível envolvendo empresas em apuros em setores tão variados quanto supermercados, TI e editoras de livros.
Para o investidor - que estudou e fala francês -, a onda de compras é apenas uma forma de equilibrar suas participações europeias. A Vesa Equity Investment de Kretinsky possui participações na Sainsbury, segunda maior rede de supermercados britânica, e no Royal Mail, entre outros ativos.
“Noto que meu grupo é maior na Alemanha e no Reino Unido do que na França”, disse Kretinsky no mês passado em entrevista ao jornal Les Echos, ao tentar explicar seu interesse na rede de supermercados Casino. “Tornar-se o acionista controlador do Casino, um ator importante, com meu amigo Marc Ladreit de Lacharrière, ajudaria a reequilibrar isso.”
Em setembro, Kretinsky comprou um castelo francês - o Chateau du Marais - por 43 milhões de euros. Ele também comprou uma casa em Paris do bilionário russo Dmitry Rybolovlev e sua ex-esposa em 2020, que faz fronteira com o Palácio do Eliseu, residência do presidente francês.
Veja abaixo estão alguns pontos que explicam as aquisições de Kretinsky na França:
Atos
O bilionário deve assumir o controle do legado dos negócios de tecnologia da informação da Atos, operações que têm lutado para se adaptar à era da nuvem. Uma série de contratempos e alertas de lucro fizeram o valor de mercado da Atos despencar para cerca de € 1,1 bilhão no fechamento de segunda-feira, de € 8,2 bilhões no final de 2020.
A Atos decidiu se separar no ano passado, separando seus negócios legados. Além de assumir as operações mais antigas, o EP Equity Investment da Kretinsky investirá um total de € 217,5 milhões na custosa reestruturação da Atos. Como parte desse acordo, ele deve obter uma participação de 7,5% na Eviden, a nova unidade a ser listada ainda este ano em Paris, que incluirá seus negócios de segurança cibernética, nuvem e supercomputação. O acordo agora em negociação deve ser concluído até o primeiro trimestre do próximo ano, disse .
Casino
Kretinsky tem estado no centro das atenções por entrar na saga do Casino Guichard Perrachon SA. Ele chegou a um acordo na semana passada para recapitalizar o negócio e cortar dívidas da problemática operadora de supermercados, com a ajuda da sócia Fimalac e da credora Attestor Capital.
A Casino está paralisada há anos por vendas estagnadas no competitivo mercado de alimentos francês. A empresa reportou um prejuízo líquido subjacente de € 1,3 bilhão no primeiro semestre deste ano.
Kretinsky fornecerá a maior parte de uma injeção de capital de € 1,2 bilhão para reforçar a liquidez da empresa. Mais de € 1,3 bilhão em dívida garantida e € 3,5 bilhões em dívida não garantida serão convertidos em patrimônio.
Editis
Em junho, uma subsidiária do grupo CMI de Kretinsky assinou um acordo com a Vivendi SE, controlada por Vincent Bollore, para a compra da editora de livros Editis, por um preço definido entre € 500 e € 600 milhões, segundo informações da imprensa . A venda da segunda maior livraria da França está entre as etapas que a Vivendi precisou realizar para aprovar a aquisição da Lagardere SA.
Fnac Darty
Em março, a Vesa Equity Investment da Kretinsky aumentou sua participação na varejista francesa Fnac Darty para 25%.
Le Monde e outros
Kretinsky tem interesse em comprar ativos de mídia na França, com uma participação recente adquirida na mídia online Loopsider. Em dezembro de 2022, ele assumiu uma participação de 47% no estúdio de podcast Louie Media.
O bilionário é acionista minoritário do jornal Le Monde e do canal de TV TF1, além de dono de várias revistas, incluindo a Elle. Ele se tornou assim um dos raros bilionários não franceses a se juntar a um clube de proprietários de mídia do país, incluindo Bernard Arnault, Patrick Drahi e Xavier Niel.
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