Bloomberg Línea — Com um volume de R$ 1 bilhão em novos contratos no primeiro trimestre, a JSL (JSLG3) se prepara para um novo ciclo de crescimento. A estratégia inclui desde o fortalecimento da atuação em setores-chave para a companhia, como o e-commerce, até a aquisição de concorrentes.
Considerada a maior empresa de logística rodoviária do país, a JSL, controlada pela Simpar (SIMH3), também pretende diversificar ainda mais o portfólio.
Uma das apostas da companhia é o elo intermediário da cadeia de entregas do e-commerce, conhecido como “middle mile”, que abrange a transferência de mercadorias de armazéns maiores para centros de distribuição menores, localizados próximos aos grandes centros.
Na visão do CEO da JSL, Ramon Alcaraz, o negócio de entrega de mercadorias diretamente ao consumidor – o chamado “last mile” – ainda tem grandes desafios, principalmente as margens fortemente pressionadas.
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“Ao contrário das entregas de última milha, conseguimos transportar grandes volumes entre os armazéns, seja com veículos próprios ou de terceiros. No last mile, a conta ainda não fechou. No middle mile, a conta já fecha”, afirmou o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.
A companhia atua em diversos setores, de papel e celulose a automotivo, e trabalha para ampliar a carteira de clientes em momento de custos mais altos de operação.
O CFO da JSL, Guilherme Sampaio, disse na mesma entrevista que um caminhão que custava R$ 400 mil, em meados de 2021, sai hoje por quase R$ 1 milhão.
“O mesmo projeto que rodávamos com um determinando número de ativos, em 2022, hoje custa de 60% a 70% a mais, em meio à restrição ao crédito e a um custo de dívida mais alto”, disse Sampaio. “Mas temos um balanço robusto, e a companhia tem 67 anos, sabe lidar com as volatilidades do mercado.”
Alcaraz ressaltou que, embora o cenário macroeconômico tenha influência nos resultados, a estratégia da companhia é diversificar as áreas de atuação, o que lhe confere resiliência nos negócios.
“O segredo é ganhar market share, principalmente em setores em que ainda não estamos presentes”, disse. “Em razão de nossa robustez, acabamos sofrendo menos do ponto de vista das intempéries econômicas. Estamos mais preparados do que grande parte dos nossos concorrentes.”
O executivo destacou o setor de papel e celulose como forte demandante dentro do portfólio da companhia, bem como outras áreas trazidas por empresas adquiridas da JSL em 2023 - a IC Transportes e a FSJ. Uma dessas áreas é o transporte de produtos perigosos e gasosos.
Já em setores que “andaram de lado” na economia mais recentemente, como o automotivo, Alcaraz afirmou que a meta é também ampliar a participação de mercado. “O setor automotivo não oscilou muito nos últimos três anos, mas nós ganhamos market share.”
Consolidação do setor de logística
Com um endividamento considerado estável no mercado, a JSL mantém a meta de consolidar o setor de logística.
A companhia encerrou o primeiro trimestre com uma alavancagem medida pela dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2,7 vezes, ante 3,2 vezes um ano antes.
Alcaraz disse que a estratégia não será de “aquisição por aquisição”, mas de negócios que façam sentido para o portfólio da companhia.
“Visamos crescimento, que pode vir de forma orgânica e inorgânica. Dentro dessa estratégia, olhamos um portfólio gigante. Em algum momento vai dar ‘match’, mas não necessariamente vai acontecer neste ano”, explicou sobre os planos.
Sampaio disse que, desde o IPO da JSL, em 2020, o setor passou por uma série de desafios em meio à pandemia, com destaque para o aumento da taxa de juros e a inflação de insumos.
“Nem todas as empresas conseguiram fazer a lição de casa como nós e alguns concorrentes do setor. O cenário competitivo está mais fragilizado.”
Nesse contexto, o executivo disse enxergar espaço para consolidação.
“Resolvemos manter o ritmo de crescimento e executar o nosso plano estratégico de continuar consolidando o mercado de logística brasileiro. Hoje temos 2% de market share, enquanto as líderes internacionais têm de 8% a 10%”, disse.
“Se conseguirmos achar companhias dentro dessas características [que buscamos], e conseguindo acertar o preço, vamos fazer. Espaço, caixa robusto e estrutura nós temos”, afirmou Sampaio.
Analistas do Santander afirmaram em relatório que, no primeiro trimestre, o balanço da JSL veio sustentado “por sólida gestão da estrutura de capital”, com uma alavancagem estável em relação ao período imediatamente anterior.
Já o time de equity research do Itaú BBA disse que os resultados da companhia no primeiro trimestre mostraram “sinais de um negócio resiliente, apresentando números acima do esperado, apesar da forte sazonalidade do início do ano”.
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De janeiro a março, a receita líquida da JSL foi de R$ 2 bilhões, alta de 32,4% em relação a igual período de 2023. O Ebitda alcançou R$ 396 milhões, avanço de 29,4% na mesma mesma base de comparação. Já o lucro líquido cresceu 25,3% ano contra ano, para R$ 33,6 milhões.
O Itaú BBA salientou a busca da companhia por eficiência e rentabilidade no primeiro trimestre, o que ajudou a sustentar uma forte margem Ebitda de 19,1%. “Além disso, a JSL atuou ativamente na gestão de sua estrutura de capital. Destacamos a forte demanda pelos serviços, resultando em novos contratos assinados no trimestre”, disseram os analistas.
Alcaraz disse que a JSL continua a crescer mesmo com os desafios do mercado. “Estamos cumprindo o que prometemos [desde o IPO]. Estamos crescendo com rentabilidade e mantendo a governança financeira.”
Sampaio enfatizou que o tamanho da geração de caixa da JSL é hoje tão relevante que já é possível desalavancar a companhia mantendo o ritmo de crescimento. “É um novo ciclo para nós.”