JPMorgan eleva fatia no C6 Bank para 46% e avança em plano de varejo digital global

Banco americano cita avanço em clientes e na carteira de crédito desde o aporte inicial em 2021, em um dos dois mercados em que investiu no segmento fora dos EUA

Sede do C6 Bank no bairro dos Jardins, em São Paulo (Foto: Divulgação)
29 de Agosto, 2023 | 06:58 PM

Bloomberg Línea — Conhecido globalmente pelas atividades de banco de investimento, com atuação destacada em gestão de ativos e de patrimônio (Asset e Wealth Management) e no segmento corporate e de middle market, de atendimento a grandes e médias empresas, o JPMorgan Chase (JPM) passou a operar há dois anos no segmento de varejo bancário digital em dois mercados externos, o Reino Unido e o Brasil.

No primeiro caso, de forma orgânica com a marca Chase UK, que atingiu a marca de 1,6 milhão de clientes e cerca de 15 bilhões de libras esterlinas em depósitos, segundo dados de maio deste ano.

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No Brasil, a estratégia de entrada se deu por meio da aquisição de 40% do capital do C6 Bank, o banco digital fundado por Marcelo Kalim, Leandro Torres, Luiz Marcelo Calicchio, o Teco, Carlos Fonseca e outros ex-sócios, como eles, do BTG Pactual (BPAC11). O valor da transação não foi divulgado à época. Fonseca deixou o banco ainda em 2019 para fundar a Galapagos Capital.

Um novo passo acaba de ser dado com o aumento da fatia do JPMorgan no C6 Bank para 46% do capital, segundo comunicado do banco americano nesta terça-feira (29). Os termos não foram divulgados.

“Nosso investimento estratégico no C6 Bank é uma parte importante da estratégia global de serviços bancários digitais do JPMorgan Chase”, disse Sanoke Viswanathan, head de estratégia e crescimento no JPMorgan Chase e CEO para o varejo bancário global, no comunicado.

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“O rápido crescimento de clientes, produtos e balanço patrimonial demonstra o sucesso da abordagem do C6 Bank. Nós estamos felizes em reforçar nosso comprometimento com essa parceria.”

Segundo dados citados no comunicado, desde o anúncio da entrada no capital do C6, em junho de 2021, o número de clientes do banco digital brasileiro cresceu de 8 milhões para 25 milhões, enquanto o portfólio total de crédito avançou de R$ 9,5 bilhões para R$ 40 bilhões.

O C6 Bank, que, desde o começo de sua operação em agosto de 2019, adotou a estratégia de oferecer uma “prateleira” ampla de produtos e serviços, como conta corrente, cartão de crédito, transferências etc., para pessoas físicas e jurídicas, também ampliou essa frente nos dois últimos anos.

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Produtos como o financiamento para a compra de automóveis e o lançamento de um serviço de atendimento personalizado a clientes de alta renda foram citados pelo JPMorgan no comunicado. O C6 foi um dos pioneiros na oferta de uma conta global em dólar e euro no país, além da plataforma aberta de investimentos no Brasil e no exterior no varejo bancário.

Foi um modelo oposto ao adotado, por exemplo, pelo Nubank (NU), fundado seis anos antes do C6 por David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible, que começou com um único produto, um cartão de crédito sem anuidade, e só passou a escalar a oferta de produtos a partir de 2017, rentabilizando a operação gradualmente.

Para o JPMorgan, segundo declarações anteriores, o modelo de varejo bancário digital passou a fazer sentido do ponto de estratégia pela possibilidade de ser competitivo em vez de enfrentar um mercado consolidado de agências físicas, como predominava no Brasil e em outros países até alguns anos atrás.

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O mercado brasileiro reúne características apontadas como favoráveis para a ofensiva do maior banco americano, como o seu tamanho - é considerado o terceiro maior do mundo no varejo -, a ampla penetração de serviços digitais entre a população e as inovações regulatórias.

“Depois de dois anos de colaboração, tomamos a decisão conjunta de ampliar este relacionamento”, afirmou Kalim, CEO do C6 Bank, em comunicado. “Os dois bancos já têm trabalhado juntos para desenvolver novos produtos. Cada vez mais vamos atuar conjuntamente”, disse em referência a sinergias.

O C6 já tem distribuído alguns produtos do JPMorgan no Brasil, como fundos de investimento e CDBs.

Valuation e prejuízo de R$ 2,2 bilhões

O último valuation divulgado do C6 foi de R$ 11,3 bilhões em dezembro de 2020, por ocasião de uma injeção de capital de R$ 1,3 bilhão com a emissão de ações ordinárias, coordenada pelo Credit Suisse. À época, o banco tinha R$ 9,7 bilhões em ativos, uma carteira de crédito de R$ 5 bilhões e 4 milhões de clientes.

O total de ativos ao fim de 2022 estava em R$ 39 bilhões, segundo dados de suas demonstrações financeiras. O banco digital teve um prejuízo de R$ 2,2 bilhões no ano passado, em um sinal do desafio de rentabilizar a sua operação, algo já conseguido por pares como o já citado Nubank e o Inter (INTR). São bancos que já conseguiram ampliar a receita por cliente e ganhar dinheiro com crédito.

Nos Estados Unidos, o JPMorgan tem cerca de 65 milhões de clientes ativos digitais, com a marca Chase. No ano passado, contando o banco completo, o lucro líquido foi de US$ 37,7 bilhões.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.