JBS propõe volta dos irmãos Joesley e Wesley Batista ao conselho de administração

Maior empresa de processamento de carnes do mundo informou que os dois acionistas controladores foram nomeados para o conselho, do qual saíram em 2017 após acordo de delação premiada

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Bloomberg Línea — A direção da JBS indicou os acionistas controladores Joesley e Wesley Batista para integrar o conselho de administração da companhia, segundo documento arquivado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na noite desta terça-feira (26), depois do fechamento do mercado.

A volta ao conselho depois de quase sete anos (veja mais abaixo) dos dois empresários, que controlam também a holding J&F Investimentos, precisará ser aprovada em assembleia geral extraordinária (AGE) de investidores da JBS marcada para o próximo dia 26 de abril, junto com a proposta de ampliação do mesmo colegiado para até onze assentos, dois a mais do que o atual limite.

A assembleia também vai deliberar pela ratificação da eleição dos ex-ministros Kátia Abreu e Paulo Bernardo e do ex-presidente da Fiat Chrysler no Brasil e na América Latina Cledorvino Belini para o conselho de administração, todos enquadrados como independentes.

O retorno acontece no momento em que a JBS (JBSS3) busca avançar com o objetivo de longa data de listar a companhia também no mercado americano, na Bolsa de Nova York, para que tenha condições de ampliar o acesso a capital com custo mais competitivo e, assim, dar um novo salto de crescimento.

“Joesley Batista possui mais de 35 anos de experiência no setor de proteínas, expertise em operações de produção de proteínas e experiência em gestão de negócios”, apontou a JBS ao destacar no documento à CVM a experiência do nome indicado, que foi anteriormente também CEO da JBS.

“Atualmente, atua como presidente do Instituto J&F, uma organização sem fins lucrativos criada há 14 anos para transformar negócios em empresas comprometidas com a educação de suas comunidades, bem como é membro do conselho de administração da Pilgrim’s Pride Corporation.”

Trecho semelhante foi utilizado para justificar a indicação de Wesley, com a diferença de que ele é vice-presidente do Instituto J&F. Ele foi CEO global da empresa de carnes.

A JBS também apontou no documento que não há qualquer impedimento legal para que tanto Joesley como Wesley sejam reconduzidos ao conselho da companhia, usando o mesmo trecho:

“Não esteve sujeito, nos últimos 5 anos, a qualquer condenação criminal, ou à condenação em processo administrativo da CVM, do Banco Central do Brasil ou da Superintendência de Seguros Privados, ou a qualquer condenação transitada em julgado, na esfera judicial ou administrativa, que o tenha suspendido ou inabilitado para a prática de atividade profissional ou comercial qualquer.”

Em outubro passado, a CVM absolveu os irmãos Batista de três processos remanescentes referentes à acusação de insider trading por ocasião da revelação, em maio de 2017, do acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.

Os dois empresários estão afastados do conselho justamente desde essa sequência de episódios em 2017, quando renunciaram aos respectivos assentos - Joesley era o presidente do colegiado, e Wesley, o vice - dias depois da divulgação de parte do acordo.

A revelação específica de uma conversa de Joesley com o então presidente da República, Michel Temer, no Palácio do Jaburu, deu origem a uma crise política que teve como consequência o que ficou conhecido como “Joesley Day” no mercado financeiro brasileiro, com disparada de 10% do dólar e queda semelhante das ações no Ibovespa, a ponto de acionar o circuit breaker.

Sob a liderança de Joesley e Wesley Batista, filhos do fundador José Batista Sobrinho, a JBS deu um salto de tamanho principalmente nos anos 2000 e 2010, passando de uma empresa de carnes com relevância regional para se tornar o maior grupo do mundo no setor. O valor de mercado na B3 era de R$ 49,7 bilhões nesta terça.

Esse processo se deu tanto por meio de aquisições como com crescimento orgânico e ganhos de eficiência na operação, no primeiro caso com apoio de aportes e financiamento do BNDES no governo Lula, em particular no segundo mandato do atual presidente da República.

Os irmãos também conduziram a expansão da J&F, a holding da família, que se tornou um dos maiores grupos empresariais do país, com negócios em setores diversos como financeiro (PicPay e Banco Original), higiene e limpeza (Flora), mineração (J&F), energia (Âmbar), educação (Instituto J&F) e celulose (Eldorado). O grupo emprega cerca de 290 mil trabalhadores no mundo, segundo o seu site.

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