Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) anunciou, na manhã desta quinta-feira (24), a assinatura de acordo para a venda de sua operação na Argentina para o Banco Macro, uma das principais instituições financeiras do país vizinho.
O banco brasileiro informou que receberá do Macro o valor de aproximadamente R$ 250 milhões, ajustados pelo resultado líquido do Banco Itaú Argentina auferido entre 1º de abril de 2023 e a data de fechamento, que ocorrerá após o cumprimento das condições previstas no contrato e a obtenção das autorizações regulatórias necessárias na Argentina.
No começo de junho, o Itaú havia divulgado negociações preliminares com o Macro para a venda dos ativos, um movimento atribuído pelo mercado ao agravamento da crise da economia argentina, em um ambiente de hiperinflação e de desconfiança crescente dos investidores.
Na América Latina, o Itaú mantém operações no Chile, na Colômbia, no Paraguai e no Uruguai.
O banco disse que submeterá à aprovação das entidades reguladoras, na Argentina e no Brasil, um pedido de constituição de escritório de representação para seguir operando as atividades permitidas por sua licença e pelas demais condições do acordo de compra e venda com o Macro.
Em comunicado, André Gailey, CEO regional do banco na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, confirmou que o Itaú vai manter a presença no país vizinho.
“Depois de mais de quarenta anos, temos não apenas orgulho da nossa história argentina mas a clareza que nossa jornada no país não termina aqui. Por isso, continuaremos com presença na Argentina por meio de um escritório de representação local e seguiremos atendendo os nossos clientes corporativos e de wealth e private bank a partir das nossas unidades no Brasil e nas demais unidades externas”, disse o executivo.
Citando dados do banco central da Argentina, referentes a 31 de dezembro de 2022, o comunicado apontou que o Banco Itaú Argentina era o 16º maior banco do país em total de empréstimos em pesos argentinos e o 11º considerando apenas bancos privados, com uma participação no mercado de 2,1%. São 67 agências/PABs (postos de atendimento) e 145 caixas eletrônicos.
O valor do negócio foi questionado por alguns investidores e ficou abaixo do que o jornal argentino La Nación publicou em junho como expectativa do mercado local na época, de US$ 100 milhões.
“Não foi uma venda de urgência. Outros players de mercado foram ouvidos. O Itaú conversou com outros potenciais compradores para chegar a esse valor. Há questões contábeis e cambiais que tornam difícil a qualificação desse valor”, disse uma fonte do banco brasileiro familiarizada com o assunto, que pediu para não ser identificada por se tratar de um assunto privado.
A operação argentina do Itaú era estimada em 4% das unidades espalhadas pela América Latina e 1% da carteira total.
“O banco informou que essa transação deverá impactar o resultado da companhia em R$ 1,2 bilhão negativo, o que sugere um prejuízo na venda. [Mas] dadas as perspectivas macroeconômicas dos vizinhos, essa pode ter sido a melhor saída possível do país, mesmo com o prejuízo na venda”, avaliou Larissa Quaresma, analista da Empiricus Reserch, em nota.
“Ademais, a venda libera foco e recursos para outras operações do Itaú na América Latina, algumas inclusive maiores do que a da Argentina”, disse a analista.
O Banco Macro
O Macro é listado na bolsa de Buenos Aires e de Nova York, possui rede de agências e oferece produtos e serviços financeiros em todo o território argentino. Atende de pessoas físicas a grandes empresas.
O executivo do Itaú considerou que, com a aquisição, o Banco Macro se consolida como o maior banco privado de capital argentino no país, além de continuar a ser uma entidade privada com a maior rede de postos de atendimento distribuídos por toda a Argentina.
“Com 565 agências e 9.400 funcionários, o Banco Macro atenderá diariamente 6 milhões de clientes. A operação permitirá que ofereça uma proposta de valor superior, consistente com seu o tamanho e a sua relevância”, apontou o comunicado.
O CEO do Banco Macro, Jorge Brito, disse que a instituição vai dobrar sua presença na área metropolitana de Buenos Aires.
“Somos uma empresa argentina que cresce a cada dia e, com a compra do Itaú Argentina, ratificamos nosso compromisso de continuar investindo no país. Com ativos superiores a US$ 2 bilhões, somos o banco argentino com maior capilaridade no interior da Argentina - 80% de nossas agências estão lá”, disse Brito.
Na B3, a bolsa brasileira, as ações do Itaú acumulam valorização de 10,44% neste ano até o fechamento desta quarta-feira (23). O desempenho é superior à valorização de 7,65% do Ibovespa, principal referência do mercado acionário do país. No segundo semestre, o Itaú lucrou R$ 8,78 bilhões, alta de 13,9% em 12 meses, acima da média das projeções do mercado (R$ 8,6 bilhões).
Analistas do setor destacaram a melhora da rentabilidade do Itaú, com ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de 20,8%, impulsionado pelo crescimento da carteira de crédito, receita de seguros e maior rigor na concessão de crédito, a fim de conter a inadimplência, reflexo de juros elevados no Brasil.
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