Itaú fecha venda de unidade na Argentina para Banco Macro por R$ 250 milhões

Maior banco do Brasil vai manter presença no país vizinho por meio de escritório de representação, enquanto Macro se consolida como maior player privado da Argentina

Agência do Itaú no exterior: país segue com operações próprias em alguns dos maiores países da América do Sul (Foto: Ronald Patrick/Bloomberg)
24 de Agosto, 2023 | 08:03 AM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) anunciou, na manhã desta quinta-feira (24), a assinatura de acordo para a venda de sua operação na Argentina para o Banco Macro, uma das principais instituições financeiras do país vizinho.

O banco brasileiro informou que receberá do Macro o valor de aproximadamente R$ 250 milhões, ajustados pelo resultado líquido do Banco Itaú Argentina auferido entre 1º de abril de 2023 e a data de fechamento, que ocorrerá após o cumprimento das condições previstas no contrato e a obtenção das autorizações regulatórias necessárias na Argentina.

No começo de junho, o Itaú havia divulgado negociações preliminares com o Macro para a venda dos ativos, um movimento atribuído pelo mercado ao agravamento da crise da economia argentina, em um ambiente de hiperinflação e de desconfiança crescente dos investidores.

Na América Latina, o Itaú mantém operações no Chile, na Colômbia, no Paraguai e no Uruguai.

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O banco disse que submeterá à aprovação das entidades reguladoras, na Argentina e no Brasil, um pedido de constituição de escritório de representação para seguir operando as atividades permitidas por sua licença e pelas demais condições do acordo de compra e venda com o Macro.

Em comunicado, André Gailey, CEO regional do banco na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, confirmou que o Itaú vai manter a presença no país vizinho.

“Depois de mais de quarenta anos, temos não apenas orgulho da nossa história argentina mas a clareza que nossa jornada no país não termina aqui. Por isso, continuaremos com presença na Argentina por meio de um escritório de representação local e seguiremos atendendo os nossos clientes corporativos e de wealth e private bank a partir das nossas unidades no Brasil e nas demais unidades externas”, disse o executivo.

Citando dados do banco central da Argentina, referentes a 31 de dezembro de 2022, o comunicado apontou que o Banco Itaú Argentina era o 16º maior banco do país em total de empréstimos em pesos argentinos e o 11º considerando apenas bancos privados, com uma participação no mercado de 2,1%. São 67 agências/PABs (postos de atendimento) e 145 caixas eletrônicos.

O valor do negócio foi questionado por alguns investidores e ficou abaixo do que o jornal argentino La Nación publicou em junho como expectativa do mercado local na época, de US$ 100 milhões.

“Não foi uma venda de urgência. Outros players de mercado foram ouvidos. O Itaú conversou com outros potenciais compradores para chegar a esse valor. Há questões contábeis e cambiais que tornam difícil a qualificação desse valor”, disse uma fonte do banco brasileiro familiarizada com o assunto, que pediu para não ser identificada por se tratar de um assunto privado.

A operação argentina do Itaú era estimada em 4% das unidades espalhadas pela América Latina e 1% da carteira total.

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“O banco informou que essa transação deverá impactar o resultado da companhia em R$ 1,2 bilhão negativo, o que sugere um prejuízo na venda. [Mas] dadas as perspectivas macroeconômicas dos vizinhos, essa pode ter sido a melhor saída possível do país, mesmo com o prejuízo na venda”, avaliou Larissa Quaresma, analista da Empiricus Reserch, em nota.

“Ademais, a venda libera foco e recursos para outras operações do Itaú na América Latina, algumas inclusive maiores do que a da Argentina”, disse a analista.

O Banco Macro

O Macro é listado na bolsa de Buenos Aires e de Nova York, possui rede de agências e oferece produtos e serviços financeiros em todo o território argentino. Atende de pessoas físicas a grandes empresas.

O executivo do Itaú considerou que, com a aquisição, o Banco Macro se consolida como o maior banco privado de capital argentino no país, além de continuar a ser uma entidade privada com a maior rede de postos de atendimento distribuídos por toda a Argentina.

“Com 565 agências e 9.400 funcionários, o Banco Macro atenderá diariamente 6 milhões de clientes. A operação permitirá que ofereça uma proposta de valor superior, consistente com seu o tamanho e a sua relevância”, apontou o comunicado.

O CEO do Banco Macro, Jorge Brito, disse que a instituição vai dobrar sua presença na área metropolitana de Buenos Aires.

“Somos uma empresa argentina que cresce a cada dia e, com a compra do Itaú Argentina, ratificamos nosso compromisso de continuar investindo no país. Com ativos superiores a US$ 2 bilhões, somos o banco argentino com maior capilaridade no interior da Argentina - 80% de nossas agências estão lá”, disse Brito.

Na B3, a bolsa brasileira, as ações do Itaú acumulam valorização de 10,44% neste ano até o fechamento desta quarta-feira (23). O desempenho é superior à valorização de 7,65% do Ibovespa, principal referência do mercado acionário do país. No segundo semestre, o Itaú lucrou R$ 8,78 bilhões, alta de 13,9% em 12 meses, acima da média das projeções do mercado (R$ 8,6 bilhões).

Analistas do setor destacaram a melhora da rentabilidade do Itaú, com ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de 20,8%, impulsionado pelo crescimento da carteira de crédito, receita de seguros e maior rigor na concessão de crédito, a fim de conter a inadimplência, reflexo de juros elevados no Brasil.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.