Itaú espera mais que dobrar a migração de clientes para superapp, afirma CEO

Milton Maluhy Filho diz que a demanda de clientes tem sido maior do que a esperada; plataforma que unifica os serviços é vista por analistas como a principal aposta para competir com bancos digitais

Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco
07 de Agosto, 2024 | 05:31 PM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) tem registrado uma migração de clientes em um ritmo mais acelerado do que o previsto para o seu novo superapp, plataforma recém-apresentada que já foi descrita pelo CEO Milton Maluhy Filho como o “projeto mais relevante” do banco para 2024.

O aplicativo tem tido uma demanda maior desde que foi oficialmente apresentado no início de julho. A expectativa do banco agora é migrar até cerca de 5 milhões de clientes para o superapp até o fim deste ano, segundo disse o CEO em teleconferência com jornalistas nesta quarta-feira (7) para comentar os resultados financeiros do segundo trimestre.

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“Vamos antecipar o processo de migração de usuários de cartões para o superapp. O plano inicial era tentar migrar 2,5 milhões até o final do ano. Dá para mais que dobrar o ritmo de migração. Estamos bastante animados com os resultados iniciais”, disse o Maluhy Filho.

O aplicativo é uma aposta do Itaú para unificar os seus serviços em um única plataforma e incrementar o cross-selling de produtos, especialmente para a clientes que não são correntistas mas utilizam outros serviços, como cartão de crédito.

Em julho, o banco projetava que 2,5 milhões de clientes migrariam de seus outros seis aplicativos (Itaú, Itaú Cartões, Credicard, Credicard On, Iti e Hipercard) para o superapp até o final deste ano. A conclusão desse processo era prevista para o final de 2025, totalizando 15 milhões de usuários.

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O produto, uma evolução das funcionalidades do seu principal aplicativo, é visto por analistas como a principal aposta da instituição financeira para enfrentar a competição com bancos digitais.

As ações do Itaú operavam em alta de 0,45% ao final do pregão nesta quarta-feira, revertendo uma queda de até 2,82% durante a sessão.

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Entre as novas funcionalidades incluídas no app, estão o parcelamento de transações à vista, a antecipação de parcelas futuras com desconto e a simulação de compras futuras. Além disso, os clientes com mais de um cartão de crédito têm agora autonomia para distribuir os limites dos cartões contratados.

Investimentos em tecnologia

Maluhy Filho também abordou o tema do superapp durante a teleconferência com analistas do mercado nesta quarta, que mostraram interesse em dimensionar os potenciais ganhos de cross-selling com o aplicativo, resultado dos investimentos do Itaú em tecnologia.

“Parte do investimento adicional em tecnologia com incremento de pessoas é ofertar o empréstimo consignado no canal digital com uma mudança de experiência”, afirmou o CEO, lembrando que hoje esse mercado é bastante disputado pelas instituições e correspondentes bancários.

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A área de tecnologia do banco fez cerca de 700 contratações no segundo trimestre, segundo o analista do Banco Safra, Daniel Vaz. Ao comentar o fato, o CEO do Itaú explicou que o setor de tecnologia deixou de ser visto como uma área de suporte, passando a ser uma unidade de geração de negócios. As maiores contratações buscam acelerar a implantação de projetos digitais, como o do superapp.

“Fizemos estudo para acrescentar mais equipes para acelerar projetos e mudanças de experiências do cliente, com a inclusão de funcionalidades de forma mais rápida. Os resultados da modernização da plataforma são encorajadores e podem mudar o ponteiro”, afirmou Maluhy Filho.

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Entre outros investimentos na área, o Itaú anunciou no segundo trimestre um acordo com a NCR Brasil para a aquisição de ativos de software para a indústria de varejo. A NCR é especializada em expansão de acesso financeiro self-service para bancos e consumidores. Entre as operações está uma solução de TEF (Transferência Eletrônica de Fundos), segundo o Itaú.

Dividendos e reversão de provisão da Americanas

Além da melhora nas expectativas para o superapp, Maluhy Filho também confirmou o plano de anunciar o pagamento de um dividendo extraordinário no início de 2025 devido ao excesso de capital acumulado. A decisão deve ser oficializada no resultado financeiro do quarto trimestre, a ser divulgado em fevereiro do ano que vem.

“Haverá dividendo extraordinário”, disse o CEO, reforçando o que ele já havia dito em relação à possibilidade já levantada na divulgação do balanço do primeiro trimestre, em maio.

Outro assunto abordado pelo executivo foi a reversão da provisão integral feita pelo banco para a inadimplência da Americanas (AMER3) após entrar em recuperação judicial em janeiro de 2023 após a revelação de um rombo contábil. O crédito a receber da varejista pelo Itaú era estimado em R$ 2,9 bilhões.

Com o avanço do plano de reestruturação da dívida da companhia no primeiro semestre, que resultou na conversão de dívida em participação acionária, o Itaú deverá contabilizar os efeitos positivos das operações de pagamento do crédito.

“A participação na companhia é ínfima, irrelevante. Continuamos com alguma linha de crédito. E estamos neste momento discutindo os impactos no balanço. No próximo resultado trimestral, possivelmente, devemos tratar do caso Americanas”, afirmou o executivo.

A visão de analistas sobre o balanço do Itaú

O balanço do Itaú, que apontou um lucro líquido recorrente de R$ 20,1 bilhões no primeiro semestre, um aumento anual de 25%, trouxe um dado que chamou a atenção do analista do Bradesco BBI, Gustavo Schroden durante a teleconferência: a margem financeira com o mercado, que mede os ganhos do banco com operações de tesouraria, atingiu R$ 1,4 bilhão no segundo trimestre, um alta de 31% em 12 meses. O analista quis saber do CEO a composição desse resultado e a tendência para essa linha do balanço.

“Foi um trimestre mais forte, atípico nesse resultado. Olhando para frente, é razoável projetar a margem com o mercado para R$ 1 bilhão, R$ 1,1 bilhão, voltando para a normalidade”, afirmou Maluhy Filho.

Em relatório, o analista do BB Investimentos, Rafael Reis, avaliou que o resultado do Itaú está “repleto de evidências do seu avanço operacional”, como a aceleração do crescimento do crédito no comparativo anual (de 2,8% no primeiro trimestre para 9,9% no segundo, ou 7,7% se desconsiderada a variação cambial).

Segundo ele, o resultado sugere o Itaú deve buscar o topo da sua projeção própria (guidance), estimada em 9,5% em 2024.

“Com uma carteira de crédito que deve continuar acelerando, mix de crédito equilibrado, transacionalidade satisfatória, custos controlados e qualidade do crédito confortável, difícil imaginar para o Itaú algo diferente da continuidade do bom momento”, escreveu Reis.

Com recomendação de compra para as ações do Itaú, o relatório do analista elevou o preço-alvo para a ação de R$ 40 para R$ 43,10, agora para o final de 2025, o que representaria um potencial de valorização de 28% com base no valor atual.

“O novo patamar do ROE, acima de 22%, se sustentável, representa a quebra de um paradigma, estando associado ao quanto o Itaú está de fato conseguindo expandir suas próprias fronteiras, mas agora dentro de um contexto digital”, observou o analista do BB Investimentos.

Na teleconferência, Maluhy Filho disse aos analistas que o Itaú não fornece guidance para o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido), que ficou em 22,4% no segundo trimestre, mas que o banco continuaria trabalhando com ROE acima dos 20%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.