Itaú acusa ex-CFO de suposto desvio na contratação de pareceres; executivo nega

Banco alega ter identificado transferências a Alexsandro Broedel por meio de empresas intermediárias; executivo nega acusações e questiona motivação do Itaú

Agencia do Itaú Unibanco
07 de Dezembro, 2024 | 05:32 PM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco acusa seu ex-diretor financeiro Alexsandro Broedel de má conduta ética e conflito de interesses na contratação de um fornecedor e entrou com um processo contra o executivo e as empresas envolvidas para reaver os valores.

Broedel nega as acusações, chamando-as de infundadas, e questiona a motivação por trás delas. O executivo trabalhou no Itaú por mais de 12 anos e deixou a instituição brasileira neste ano para assumir uma posição global no Santander, baseado na Espanha. Ele foi CFO do Itaú de janeiro de 2021 a julho de 2024.

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O Itaú (ITUB4) afirma que, após uma apuração interna, identificou que Broedel teria aprovado a contratação de pareceres e pagamentos no valor total de R$ 13,255 milhões para uma empresa que era ligada a um fornecedor do qual ele era sócio. Os pagamentos teriam sido feitos entre 2019 e 2024.

O banco afirma ainda que foram apurados indícios de que o fornecedor teria redirecionado parte do valor dos pagamentos para contas do executivo, em 23 transferências realizadas entre 2019 e 2024, no valor total de R$ 4,86 milhões, usando uma empresa intermediária.

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Do total de pagamentos feitos pelo Itaú ao fornecedor, R$ 10,455 milhões se referem ao período entre 2022 e 2024, que ainda não prescreveram. O banco entrou com um processo interruptivo de prescrição para buscar reaver os valores anteriores a 2022.

Os resultados da apuração conduzidas pelo Comitê de Auditoria foram apresentadas aos acionistas em uma Assembleia Geral Extraordinária no dia 5 de dezembro. A ata da reunião foi publicada no sábado (7) em informe em jornais impressos.

Segundo o Itaú, o ex-executivo teria violado o Código de Ética ao exercer atividade externa incompatível com o cargo e manter sociedade com fornecedor do banco, não declaradas.

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Em nota à imprensa, o Itaú diz que entrou com medidas legais contra Broedel e o fornecedor para buscar o ressarcimento dos valores. Apesar das acusações, o banco afirma que não houve impacto relevante nas demonstrações financeiras e que os balanços da instituição foram revisados e certificados por consultores externos. Além disso, o banco destacou que reportou o caso aos órgãos reguladores.

“Ética é um valor inegociável do Itaú Unibanco, por isso, não toleramos e não toleraremos qualquer desvio de conduta, de qualquer hierarquia, e buscaremos reparação, mesmo em casos como este, em que o envolvido não faz mais parte dos nossos quadros”, diz o comunicado do banco.

As informações foram inicialmente publicadas pelo site Pipeline, do Valor Econômico, no começo desta madrugada de sábado.

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O que diz Alexsandro Broedel

Broedel nega as acusações do Itaú e questiona o momento em que elas surgiram. Em nota à imprensa, ele diz que sempre agiu de forma ética e transparente ao longo de seus 12 anos no banco.

“Causa profunda estranheza que o Itaú levante suspeitas sobre supostas condutas impróprias somente depois de Broedel ter apresentado sua renúncia aos cargos no banco para assumir uma posição global em um dos seus principais concorrentes, cumprindo o período de quarentena definido pelo banco”, afirmou a defesa do ex-diretor.

A nota também rebate as alegações de irregularidade ao destacar que os serviços prestados pelo fornecedor mencionado já ocorriam “há décadas”, segundo o comunicado, muito antes de Broedel ingressar na diretoria do banco, e que esses serviços eram do conhecimento das áreas internas do Itaú. Broedel declarou que tomará “todas as medidas judiciais cabíveis” para proteger sua reputação.

Procurada pela reportagem da Bloomberg Línea, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diz que não comenta casos específicos, mas “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.

A acusação do Itaú contra Broedel ocorre dias depois de o banco demitir ex-diretor de marketing (CMO) Eduardo Tracanella, que trabalhava na instituição havia 27 anos, alegando uso indevido do cartão corporativo. Ele não comentou as acusações.

-- Atualizada às 20h29 para esclarecer que a ata da AGE do Itaú foi publicada em jornais neste sábado, e não na sexta-feira, como informado anteriormente.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.