Bloomberg — Investidores pessoas física estão tentando se desfazer de títulos de dívida do Banco Master, em movimento que puxa os rendimentos oferecidos para cima e complica a captação de recursos pelo banco que enfrenta dificuldades para cobrir obrigações de curto prazo.
Um total de mais de R$ 10 bilhões de Certificados de Depósito Bancário do Banco Master, os CDBs, estão à venda nas plataformas online de varejo da XP e do BTG Pactual, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Os papéis oferecem rendimentos de inflação mais 11,5% para vencimentos em maio de 2026, em comparação com inflação mais 8,5% para CDBs do Banco Pine, um rival menor, com vencimento em junho de 2026.
Os preços sugerem que o Master teria que pagar ainda mais para conseguir vender novos títulos de dívida aos poucos investidores ainda dispostos a comprar.
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As pessoas físicas estão se desfazendo de CDBs do Master depois que o banco anunciou, em março, um acordo controverso para ser comprado pelo BRB, banco de propriedade do governo de Brasília.
Críticos do acordo dizem que ele equivale a um socorro governamental de um banco que foi autorizado a assumir riscos demais por muito tempo pelas autoridades regulatórias.
Representantes do Banco Master e do BRB não responderam aos pedidos de comentários da Bloomberg News.
O Banco Master tem cerca de R$ 8,3 bilhões em depósitos com vencimento no primeiro semestre deste ano e mais de R$ 4,6 bilhões no segundo semestre, de acordo com seu balanço de 2024. Um total de R$ 16 bilhões em dívidas deve vencer neste ano.
A preocupação aumenta com o fato de que a maioria dos ativos do banco é difícil de vender, incluindo precatórios e ações de pequenas e médias empresas, algumas das quais em dificuldades financeiras.
Dois analistas que falaram com a Bloomberg News questionaram se o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) deveria fornecer uma linha de crédito emergencial ao Master para evitar potenciais problemas de liquidez.
Os analistas pediram para não serem identificados, pois o assunto é delicado. Essa linha de liquidez poderia dar mais tempo enquanto uma solução de longo prazo é discutida pelo Banco Central, pelo BRB e pelos maiores bancos brasileiros, que são os maiores contribuintes do FGC.
O FGC não comentou.
A expansão do Banco Master foi rápida nos últimos anos.
Com sua carteira de crédito que cresceu em média 86% ao ano, o banco alugou um escritório luxuoso em Miami e começou a adquirir concorrentes.
Mas, para crescer tão rapidamente, o Master tomou dinheiro emprestado de pessoas físicas, contando fortemente com um incentivo oferecido pelo FGC, que assegura o pagamento de CDBs no Brasil de até R$ 250 mil por pessoa física por banco.
Esse modelo já era questionado no mercado, e uma mudança de regra do Banco Central em dezembro de 2023 colocou o futuro do banco em dúvida, levando-o a buscar um comprador.
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Pelo acordo anunciado com o BRB, parte do banco permaneceria em uma holding separada que não faria parte do negócio. Não está claro quais ativos e passivos fariam parte da holding ou se o acionista controlador do Banco Master, Daniel Vorcaro, precisaria injetar dinheiro na transação ou receber recursos dela.
Vorcaro teria 51% das ações com direito a voto do Banco Master, que permaneceria como uma entidade separada sob o BRB.
A transação com o BRB também precisaria ser aprovada pelo Banco Central, que aguarda mais detalhes para decidir, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto.
Uma solução envolvendo bancos privados comprando ativos também está em discussão, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.
O FGC tem R$ 107,8 bilhões em liquidez, de acordo com seu balanço, e precisaria de um valor de até R$ 50 bilhões para pagar os investidores do Master, incluindo juros, segundo estimativas de analistas.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, se reuniria na manhã desta sexta-feira (11) com executivos do Banco Master, incluindo Vorcaro, de acordo a agenda oficial da autoridade monetária.
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