Indústria de urânio renasce com volta da demanda por combustível nuclear

Busca pelo metal aumenta para atender ao uso crescente de energia nuclear para combater as mudanças climáticas, o que beneficia países produtores como EUA, Canadá e Cazaquistão

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Bloomberg — Nos Estados Unidos e em países aliados, os proprietários de minas de urânio abandonadas estão reiniciando as operações para capitalizar em cima da crescente demanda por combustível nuclear.

Pelo menos cinco produtores americanos estão reativando minas em estados como Wyoming, Texas, Arizona e Utah, onde a produção floresceu em anos passados até que os governos se desinteressaram pelo elemento radioativo, em particular após o desastre nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011.

A maioria dessas minas americanas ficou inativa após Fukushima, período em que os preços do urânio despencaram e países como Alemanha e Japão iniciaram planos para desativar gradualmente os reatores nucleares, em busca de fontes renováveis e com menos riscos.

Mas agora, à medida que os governos recorrem à energia nuclear para cumprir as metas de emissões e os principais produtores de urânio lutando para atender à demanda, os preços do metal estão subindo. Portanto, essas operações de urânio, que antes não eram lucrativas, podem preencher uma lacuna no fornecimento.

O urânio é usado como fonte de energia há mais de seis décadas, abastecendo usinas e reatores nucleares. Cerca de dois terços da produção global vêm do Cazaquistão, do Canadá e da Austrália.

O urâniofoi o foco das discussões para milhares de executivos de mineração, geólogos e banqueiros para a reunião da Prospectors & Developers Association of Canada. O evento anual atraiu pelo menos dez empresas de urânio, incluindo a Denison Mines, a Fission Uranium e a IsoEnergy.

À medida que os países consideram cada vez mais a energia nuclear para lidar com as mudanças climáticas, a demanda por urânio deve disparar. A Agência Internacional de Energia Atômica estima que o mundo precisará de mais de 100.000 toneladas de urânio por ano até 2040 – uma quantidade que exige quase o dobro da mineração e do processamento em relação aos níveis atuais.

A Cameco, do Canadá, e a Kazatomprom, do Cazaquistão, que juntas respondem por metade do suprimento global, tiveram dificuldades para aumentar a produção. Elas alertaram para contratempos operacionais que resultarão em uma produção de urânio menor do que a esperada nos próximos anos.

Oferta aquém da demanda

“Estamos em um aperto de oferta à moda antiga, pura e simples”, disse Scott Melbye, vice-presidente executivo da Uranium Energy. “A demanda está aumentando novamente, com a entrada em operação de novos reatores”.

A produção não manteve o ritmo devido a anos de subinvestimento em mineração e exploração, disse Melbye, cuja empresa está reabrindo minas paradas desde 2018.

A Energy Fuels iniciou planos no final do ano passado para reiniciar as operações no Arizona, em Utah e no Colorado, e a Ur-Energy afirmou que deve reabrir uma mina desativada em Wyoming. Empresas de médio porte na Austrália e no Canadá anunciaram planos semelhantes.

Sem dúvida, a produção dessas minas – cuja maioria é pequena e está próxima do fim da vida útil – constituiria uma pequena fração do suprimento mundial de urânio.

“O setor está claramente tentando responder com a reabertura de minas menores, mas quando se tem uma mina que não opera há tanto tempo, obviamente não é muito substancial”, disse John Ciampagli, CEO da Sprott Asset Management, que opera o Sprott Physical Uranium Trust.

Principais produtores

As restrições de fornecimento devem diminuir com os principais países com capacidade produzindo os milhões de quilos de urânio que deixaram no solo quando os preços estavam baixos. A Kazatomprom aumentou a produção depois de anos com operação bem abaixo de sua capacidade.

A Cameco aumentou a produção na maior mina e usina de urânio de alta qualidade do mundo – MacArthur River e Key Lake, na província de Saskatchewan, no oeste do Canadá – depois de interromper as operações entre 2018 e 2021 devido às péssimas condições do mercado.

As duas empresas “ficarão muito preocupadas com a perda de sua participação no mercado para um grupo de empresas juniores e, portanto, vão querer recuperá-la”, disse Tom Price, analista sênior de commodities do banco de investimentos Libereum, com sede em Londres. “Isso tirará muito do calor do mercado.”

Ainda assim, a reabertura de minas nos EUA marca o renascimento de um setor americano que corria o risco de desaparecer há apenas cinco anos.

A produção americana de urânio atingiu a mínima histórica de 79 mil quilos em 2019 – uma queda em relação ao pico de 20 milhões de quilos em 1980 –, à medida que os EUA começaram a aumentar a dependência de importações de países como Canadá, Austrália, Cazaquistão e Rússia.

O impulso do setor dos EUA também é político, já que o governo busca garantir o acesso ao fornecimento em meio à incerteza geopolítica. As sanções impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia em 2022 criaram desafios para as remessas de urânio a caminho do Cazaquistão, já que as exportações do antigo estado soviético normalmente passam por portos russos.

Para acompanhar a demanda, a Uranium Producers of America prevê que os EUA precisarão de oito a dez novas minas importantes para iniciar a produção na próxima década.

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