Indústria de máquinas de construção aposta no agronegócio para impulsionar demanda

Setor de máquinas, conhecida como “linha amarela”, projeta para 2024 um crescimento de 6% dos volumes de vendas mesmo diante de um cenário ainda adverso

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Bloomberg Línea — A demanda da indústria de máquinas de construção tem se transformado ao longo dos últimos anos. Além do aumento das vendas para locadoras, as fabricantes do setor apostam no agronegócio para crescer em quadro de juros ainda altos e crédito mais escasso.

Para 2024, as empresas projetam um avanço de 6% dos volumes vendidos, mesmo em um ambiente adverso para a compra de produtos que podem custar até R$ 2 milhões.

O setor, também conhecido como de “linha amarela” – devido à cor característica das máquinas –, vem se beneficiando das obras de infraestrutura, do mercado imobiliário e da mecanização crescente no campo.

“Os grãos e o minério de ferro são commodities importantes para o país. A demanda de máquinas vai permanecer em alta, com o agronegócio sendo um grande motor de crescimento”, disse o vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), Eurimilson João Daniel.

Atualmente, o setor tem nove indústrias instaladas no Brasil, incluindo gigantes como a Caterpillar (CAT) e a Volvo Construction Equipment. Outras 12 empresas globais importam máquinas que são vendidas em território nacional.

Eurimilson Daniel afirma que, em 2023, as fabricantes venderam 31 mil unidades, queda de 21% em relação ao ano anterior. “O mercado vinha de um período de preocupação com a falta de componentes e também de máquinas. O ano de 2022 foi atípico.”

Ele destaca que, ainda assim, o desempenho da indústria no ano passado figurou entre os cinco melhores da série histórica.

“A indústria sentiu a queda em 2023, mas os números foram bons. Entramos em 2024 num cenário interessante, apesar das incertezas sobre a economia”, afirma. “A depender das medidas macroeconômicas, que podem contaminar os projetos, para este ano mantemos um grau de otimismo.”

Segundo o diretor comercial da Volvo Construction Equipment, Gilson Capato, a questão do crédito impactou o mercado em 2023.

“O mercado registrou uma queda do patamar alto de 2022, mas apesar da retração tivemos boas oportunidades”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

Capato afirma que o segmento de construção foi importante para a demanda da companhia, bem como o de locação. No mix total da Volvo, 17% dos volumes foram destinados ao agronegócio. “As vendas para o agro crescem na magnitude do crescimento da produção de grãos.”

Na visão do executivo, o mercado de linha amarela pode crescer até 10% este ano, em meio ao desempenho positivo dos setores agrícola e da construção civil.

“As perspectivas para a agricultura são boas, mas a questão climática é um desafio”, pondera. Os efeitos do El Niño para o agronegócio são uma preocupação do mercado, diante de atrasos no plantio e na colheita, além de impactos nos volumes.

Locação de máquinas

Eurimilson Daniel, da Sobratema, afirma que a questão do crédito vem impactando a indústria. Nos últimos anos, uma máquina que custava R$ 400 mil passou a custar R$ 700 mil. “O crédito ficou pulverizado e escasso, insuficiente.”

Neste contexto, ele diz que os fundos de investimentos perceberam essa lacuna do mercado e resolveram entrar mais fortemente na locação. Com isso, o dirigente relata que a oferta de máquinas deve crescer no país para atender o aumento dessa demanda.

“As locadoras de máquinas estão investindo para colocar mais opções na prateleira e ter preços competitivos, conquistando assim mais market share.”

Ele lembra que o mercado de construção, no Brasil, era dominado por poucas empreiteiras até a deflagração da Operação Lava Jato.

Com a queda da demanda de máquinas a partir de 2014, o mercado de linha amarela desceu ladeira abaixo, encerrando 2017 com vendas de 8 mil máquinas – ante um patamar médio anual de 30 mil unidades.

De lá para cá, explica o dirigente, a indústria vem se recuperando em meio a uma pulverização maior das construtoras, com diversificação também das concessionárias de obras públicas.

“Hoje, temos um setor de locação de máquinas com empresas bastante capitalizadas, preparadas para atender qualquer nível de pedidos. De 2018 para cá, tivemos a entrada de fundos de investimentos em empresas de locação”, diz.

Uma delas é a Armac (ARML3). Fundada em 1994, a empresa paulista recebeu em 2020 um aporte de R$ 125 milhões do fundo Speed, gerido pela Gávea, para viabilizar um novo ritmo de crescimento da companhia. No ano seguinte, a Armac concluiu um IPO, levantando R$ 1,5 bilhão.

Ainda em 2018, a gestora canadense Brookfield comprou o controle da Ouro Verde (atualmente Unidas), que atua na locação de veículos leves e pesados, incluindo máquinas de construção.

Em 2022, a Randon e a Gerdau (GGBR4), por meio da Gerdau Next, se uniram em uma joint venture para o mercado de locação de veículos pesados, o que também inclui máquinas de construção e agrícolas.

Para o diretor da Volvo, há uma tendência de crescimento da locação de máquinas. “O Banco Volvo criou um produto pensando nessa fatia do mercado”, diz Capato.

No curto prazo, ele não acredita que o mercado de locação de máquinas no Brasil vá se aproximar dos números dos Estados Unidos, onde a proporção de demanda das locadoras chega a 60% das vendas totais da indústria. Por aqui, as vendas para o segmento de locação somam 30% do total.

“Não vamos chegar aos números dos Estados Unidos no curto prazo, mas o segmento de locação está comprando mais no Brasil, estamos preparados para atender”, diz Capato.

Em sua visão, os inúmeros projetos de rodovias que ainda precisam ser desenvolvidos no país provavelmente devem resultar em demanda adicional para as locadoras.

Na avaliação do vice-presidente da Sobratema, o setor de linha amarela chama cada vez mais a atenção do mercado financeiro. “Há demanda e espaço para crescimento dessas empresas. Do lado da oferta, as fabricantes vão estar preparadas para ter disponibilidade de produtos.”

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