Índice Zara: por que a Shein custa 70% mais no Brasil que nos EUA, segundo o BTG

Analistas do banco de investimento apontam que o país é um dos mercados em que os produtos da gigante chinesa são mais caros, mas ainda há vantagem sobre varejistas nacionais

Rede chinesa é mais cara no Brasil do que nos EUA, apesar de preços competitivos versus players como Renner
21 de Janeiro, 2024 | 08:34 AM

Bloomberg Línea — Apesar de praticar preços mais baixos do que muitas varejistas de moda no Brasil, a Shein, por aqui, está 70% mais cara do que nos Estados Unidos, segundo o Índice Zara, calculado pelo time de analistas de equity research do BTG Pactual (BPAC11).

Isso reflete como o mercado brasileiro segue como um dos mais caros do mundo no varejo de moda. Com o ajuste da paridade do poder de compra (PPP), que leva em conta as diferenças de custo de vida entre países para tornar os valores mais comparáveis, os preços da Shein no Brasil são 219% mais altos do que nos EUA.

O relatório produzido pelos analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima conta com metodologia proprietária que levou em conta uma cesta de oito produtos de vestuário em 15 mercados diferentes. No caso da Zara - que empresta nome ao índice existente há vários anos -, a cesta considera 12 produtos vendidos pela marca espanhola, que é referência global em fast fashion, em 54 países (veja mais abaixo).

“Combinado com um aumento potencial na tributação (impostos de importação mais altos), isso deve significar que a Shein competirá em condições semelhantes (ou pelo menos mais próximas) às dos produtores/varejistas locais (o que poderia resultar em preços mais altos)”, apontaram os analistas no relatório distribuído a clientes na quinta-feira (18).

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É uma referência ao contexto do setor desde o ano passado, de ameaças de aumento de tributação pelo governo federal e de decisão da Shein de ampliar a fatia de produtos fabricados no país que são vendidos em sua plataforma local.

Os analistas destacaram ainda que a Shein “enfrentará desafios semelhantes na expansão da capacidade de produção local, embora sua rapidez de entrada no mercado e sua abordagem poderosa de venda social permaneçam uma grande vantagem em um mercado competitivo”.

Por ora, a Shein ainda tem preços 28% mais baixos do que os da Renner (LREN3), 31% menores do que os da Riachuelo (GUAR3) e 33% mais baixos do que os da C&A (CEAB3), segundo o relatório com base na cesta de produtos usada como referência.

Isso ajuda a explicar, junto com fatores como adaptação das coleções às preferências dos consumidores brasileiros, testes em pop-up stores e estratégias de marketing, que a rede chinesa de fast fashion continue a desfrutar de momentum para crescer no país, segundo os analistas.

A estimativa do BTG Pactual é a de que a Shein tenha atingido R$ 10 bilhões em volume total transacionado (GMV) no Brasil em 2023, um crescimento acima de 40% ante os R$ 7 bilhões em 2022.

Ainda segundo Guanais, Disselli e Lima, “as recentes iniciativas da Shein para expandir a produção local devem diversificar sua produção, melhorar os níveis de serviço e aproveitar o alto envolvimento e tráfego orgânico já existentes em sua plataforma”.

Zara também mais cara no Brasil

A Zara, que levou à criação do índice pelos analistas do BTG Pactual, ainda é 3% mais cara no Brasil do que nos EUA — número que sobe para 85% quando ajustado à PPP.

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O país ainda é um dos mais caros para os consumidores da varejista, com Portugal e Espanha ainda sendo dois dos lugares com os produtos mais baratos para a rede, dado que a Inditex (dona da Zara) possui instalações de fabricação no seu país nativo e terceiriza a produção para fábricas em Portugal, Marrocos e Turquia.

No relatório deste ano, os analistas do BTG se dedicam também a analisar o que classificam como o dilema que envolve volume e preço para as marcas de moda.

“Em uma análise mais perene, dadas as restrições de renda nos últimos anos, também observamos um aumento no debate sobre o poder da marca (e o poder resultante de precificação) versus a batalha para aumentar volumes entre os participantes com preço baixo e operações de fast fashion.”

Esse dilema, segundo eles, “se tornou ainda mais relevante à medida que a Shein e outras operações cross border ganharam espaço no Brasil”, em referência a players também como Shopee e Temu.

“Globalmente, bens de luxo tornaram-se uma tendência estrutural desvinculada do setor de consumidores discricionários, aproveitando o poder da marca para impulsionar volumes nos últimos anos e seu poder de precificação [...] o que tem garantido uma combinação consistente de alto retorno sobre o capital investido (ROIC) e margens, proporcionando retornos atraentes para os investidores.”

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.