Iguá negocia novo sócio e injeção de capital para financiar expansão, dizem fontes

Segundo fontes à Bloomberg Línea, entrada de capital é crucial para reduzir a dívida e abrir espaço para buscar novos ativos; gestora global Macquarie chegou a negociar com a empresa

Cedae
12 de Abril, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Depois de três anos de grandes movimentações no mercado de saneamento, as maiores empresas do setor se preparam para uma nova fase. A Iguá, uma das maiores operadoras privadas de água e esgoto do país, negocia a entrada de um novo sócio, em um momento em que tenta equacionar o alto endividamento, segundo apurou a Bloomberg Línea com pessoas próximas às negociações.

Com uma dívida bruta de R$ 7,1 bilhões e uma dívida líquida de R$ 6,17 bilhões (ao final de 2023), a companhia tem compromissos de investimentos expressivos a cumprir, principalmente relacionados ao chamado bloco 2 da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).

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O contrato de concessão tem duração de 35 anos e os investimentos estimados são da ordem de R$ 2,7 bilhões, além do pagamento de R$ 8 bilhões de outorga pelo leilão vencido há três anos.

A entrada de capital ajudaria a equacionar a alavancagem e o endividamento e abriria espaço para que a companhia possa disputar novos projetos e, assim, ganhar mais escala, uma estratégia crucial para a rentabilidade e a competitividade das empresas de saneamento.

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Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, o endividamento da Iguá é uma grande preocupação da companhia, especialmente em um cenário de juros ainda elevados.

A Iguá, que é controlada pela gestora brasileira IG4, vem conduzindo um processo de busca de capital que envolve três opções: novo sócio com investimento na companhia como um todo, equity novo para algum projeto específico; e aporte com aumento de participação dos atuais acionistas.

As negociações para a entrada de um sócio na Iguá estão em andamento, disse um executivo ligado à companhia, que falou sob condição de anonimato porque as discussões são privadas.

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A Bloomberg Línea apurou que houve negociações em duas oportunidades distintas com a gestora australiana Macquarie, mas ambas não chegaram a um desfecho.

Em uma delas, discutiu-se a entrada do grupo diretamente no capital da Iguá, mas a proposta foi considerada insuficiente pela operadora de saneamento, afirmou uma pessoa próxima à companhia, que prefere não ser identificada porque as conversas são sigilosas.

Segundo a fonte, o principal ponto de embate foi o tamanho do passivo da Iguá – o que levou a uma proposta de valuation mais baixa.

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Em outra ocasião, no final do ano passado, as negociações foram capitaneadas por um dos sócios, afirmou uma pessoa próxima às discussões, mas também sem êxito.

Procurado pela Bloomberg Línea, o grupo Macquarie informou por meio de nota que não vai comentar o assunto.

Em resposta à Bloomberg Línea, a Iguá afirmou que “está atenta às movimentações do mercado e aberta às diversas possibilidades de captação de recursos para financiar a expansão da empresa”.

O IG4 já tem um relacionamento com o grupo Macquarie: ambos são co-controladores da empresa CLI (Corredor Logística e Infraestrutura), operadora independente de terminais portuários, incluindo dois ativos comprados da Rumo (RAIL3) no Porto de Santos em 2021.

Atualmente, a gestora brasileira tem 48,4% de participação na Iguá. Os fundos canadenses CPP (29,9%) e Aimco (10,8%), além do BNDESPar (10,9%), completam a composição acionária da operadora de saneamento.

Venda de ativos

No ano passado, a Iguá anunciou a venda de até onze concessões de pequeno e médio porte. Segundo uma pessoa próxima às negociações, o processo está em fase final, embora apenas a alienação da participação societária na Tubarão Saneamento, em Santa Catarina, tenha entrado em caixa. A fonte relatou que a companhia espera concluir o programa de venda de ativos até junho deste ano.

Atualmente, a Iguá tem 15 concessões e três parcerias público-privadas (PPPs) nos estados de Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Alagoas. A maior delas é a concessão da Cedae.

No último dia 1º de abril, a Iguá Rio (responsável pelo bloco 2 da Cedae) concluiu a 5ª emissão de debêntures incentivadas no valor de R$ 2,7 bilhões.

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A Iguá encerrou 2023 com um saldo de caixa de R$ 962,7 milhões e uma alavancagem de 7,1x na métrica da dívida líquida sobre o Ebitda.

Embora a companhia esteja avaliando um potencial IPO (oferta pública inicial), o mercado ainda não está favorável para esse tipo de operação, afirmou uma fonte ligada à empresa, que falou sob anonimato porque as discussões são privadas.

Novas oportunidades

A Iguá iniciou suas atividades em 2006 com operações de pequeno e médio porte, concentradas principalmente no Centro-Oeste.

Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea, a grande virada aconteceu com a entrada de fundos canadenses no quadro societário, o que ajudou a impulsionar a empresa com recursos necessários para disputar leilões importantes.

Em um mercado que vem recebendo crescente atenção de investidores, as operadoras privadas de saneamento buscam formas de continuar a crescer.

Conforme apurou a Bloomberg Línea, o interesse da Iguá no processo de privatização da Sabesp (SBSP3) - o mais esperado do ano no setor - é limitado, embora a companhia avalie a oportunidade.

O leilão de água e esgoto previsto para acontecer em Sergipe, por outro lado, se encaixa mais no perfil da Iguá, segundo uma pessoa ligada à empresa, mas, para tanto, será necessário justamente obter capital para financiar a operação.

A Iguá afirmou em nota à Bloomberg Línea que “está analisando e avaliando oportunidades de novas concessões e PPPs, priorizando projetos alinhados com seu perfil”.

Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.