Hypera rejeita fusão com EMS e cita proposta baixa e portfólios distintos

Conselho de administração apontou que o foco da EMS em genéricos não está alinhado com segmentos que enxerga como estratégicos, além de diferença de governança entre as empresas

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Bloomberg Línea — A Hypera rejeitou a proposta de fusão apresentada pela EMS, segundo fato relevante divulgado nesta quinta-feira (24).

A decisão unânime do conselho de administração era esperada por analistas, que avaliaram, assim como os principais acionistas, como baixo o preço de R$ 30 por ação fixado tanto para a troca de ações como para uma OPA (oferta pública de aquisição de ações) para comprar 20% do capital.

O preço fixado implicava prêmio de 16,9% sobre o fechamento do pregão anterior (R$ 25,67), mas estava em linha com o valor de negociação durante vários meses de 2024.

“Concordamos em absoluto com a decisão do conselho de administração pela recusa da proposta e reiteramos nosso compromisso de apoiar o plano estratégico de longo prazo da companhia, bem como as diretrizes de governança corporativa e cultura construídas ao longo dos últimos anos”, disse João Alves de Queiroz Filho, principal acionista da Hypera, em correspondência divulgada hoje em outro comunicado.

Leia mais: EMS propõe fusão com Hypera para criar gigante farmacêutica com receita de R$ 16 bi

O conselho da Hypera apontou três justificativas para recusar a oferta:

  • O portfólio de produtos da EMS, substancialmente focado em medicamentos genéricos, não está alinhado com os segmentos que a companhia avalia como estratégicos;
  • A Hypera e a EMS têm cultura organizacional e práticas de governança corporativa absolutamente distintas, sendo a Hypera uma companhia aberta desde 2008, com substancial dispersão acionária, e a EMS uma empresa familiar de capital fechado;
  • A avaliação atribuída à companhia na proposta subestima significativamente o valor da Hypera.

A apresentação da oferta da EMS, que pertence à família Sanchez, na última segunda-feira (21) ocorreu após a Hypera ter alertado seus clientes sobre a necessidade de otimizar o capital de giro, com redução de prazos de pagamento concedidos a eles, citando o impacto da alta dos juros e os riscos de crédito.

O plano da Hypera é buscar uma redução do ciclo de recebíveis, de 116 dias no segundo trimestre para 60 dias no quarto trimestre de 2025.

A Hypera também apresentou resultados preliminares considerados decepcionantes no terceiro trimestre e abandonou o guidance (projeção) para o ano de 2024, segundo apontaram analistas do Goldman Sachs em relatório.

A discussão de uma potencial fusão com outros players ou uma aquisição entre as duas empresas já ocorreu no passado, quando a ação da Hypera era muito mais valorizada, observou o analista Vinicius Figueiredo, do Itaú BBA, em relatório. Ele já previa que a OPA de R$ 30 teria dificuldades de ser aceita.

Oferta hostil pela imprensa

“A companhia lamenta que a proposta lhe tenha sido enviada ao mesmo tempo em que divulgada pela imprensa e ainda com o pregão em curso, e registra que zelará pelos interesses da companhia e dos seus acionistas, assim como pelo cumprimento das normas aplicáveis ao mercado de valores mobiliários”, escreveu o diretor de relações com investidores da Hypera, Adalmario Ghovatto Satheler do Couto, no fato relevante.

O executivo acrescentou que a administração da Hypera segue focada na execução da estratégia de otimização de capital de giro divulgada ao mercado no último dia 18, com “enorme potencial de geração de valor para seus acionistas de longo prazo”.

As ações da Hypera acumulam queda de 27% em 2024, ante um Ibovespa negativo de 3% no período. A companhia é avaliada em R$ 16,6 bilhões na B3. Depois do anúncio da oferta, as ações subiram quase 10% em dois pregões.

A combinação das empresas criaria uma gigante do setor farmacêutico nacional, com cerca de R$ 16 bilhões em receitas ao ano.

Em 2023, a EMS, controlada e comandada pelo empresário Carlos Sanchez, registrou uma receita líquida de R$ 7,95 bilhões, com atuação concentrada nos segmentos de medicamentos genéricos e similares, além de marcas como Multigrip, Caladryl e Dermacyd.

Já a Hypera, que tem João Alves Queiroz Filho como cofundador e principal acionista, contabilizou uma receita líquida de R$ 7,91 bilhões no ano passado e possui marcas tradicionais do mercado como Benegrip, Coristina D, Engov, Epocler, Estomazil e Neosaldina, entre outras.

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