HSBC abandona sonho de longa data de rivalizar com gigantes de Wall Street

Durante anos, o maior banco europeu tentou se tornar um ator importante como banco de investimento em Nova York e em Londres; agora, decidiu fechar essas operações diante de necessidade de corte de custos

Nos EUA, o banco ficou em 15º lugar no ano passado no mercado de transações de ações (Foto: Luke MacGregor/Bloomberg)
Por Harry Wilson - Jan-Henrik Förster - Manuel Baigorri
01 de Fevereiro, 2025 | 06:15 AM

Bloomberg — Durante anos, o HSBC sonhou em se tornar um ator importante em Wall Street e no centro financeiro de Londres. Nesta semana, ele, por fim, decidiu dar um tempo a essas ambições.

O banco com sede em Londres começou a informar gerentes de suas equipes de assessoria financeira corporativa e coordenação de ofertas de ações em Nova York, em Londres e na Europa continental que iria encerrar suas atividades na última sexta-feira (31).

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No entanto, para a maioria dos funcionários, o anúncio feito na terça-feira (28) foi um choque total, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News, que pediram para não serem identificadas.

Quando os funcionários entraram nos escritórios do HSBC, eles estavam apenas cientes de que precisavam participar de uma call importante.

Durante a call — conduzida pelo CEO Georges Elhedery e por Michael Roberts, novo chefe de banco corporativo e institucional —, ficou claro que, assim que encerrassem seu pipeline de negócios atual, seus empregos desapareceriam.

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O número de funcionários afetados será de poucas centenas, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto. Em vez de perderem seus empregos, alguns banqueiros terão a opção de se mudarem para Hong Kong ou Dubai, onde o HSBC manterá sua presença total como banco de investimento (IB), disseram eles.

Um porta-voz do HSBC não quis comentar.

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Fechamento das operações é a mais recente medida do plano para cortar cerca de US$ 3 bilhões da base de custos geral (Foto: Paul Yeung/Bloomberg)

Na chamada telefônica, Elhedery fez o anúncio inicial antes que Roberts enfatizasse o ponto: o HSBC não toleraria mais o custo e a despesa de administrar operações que não tinham chance de competir com empresas como o JPMorgan Chase (JPM) ou o Goldman Sachs (GS).

Participação baixa em IB

O HSBC é o maior banco da Europa e um dos maiores distribuidores de títulos de dívida do mundo - mas quando se trata de fusões e aquisições (M&A) e coordenação de ações, é um participante menor.

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Nos Estados Unidos, o banco ficou em 15º lugar no ano passado no mercado de transações de ações e vinculadas a ações, uma melhora marginal em relação à sua colocação no ano anterior, mas bem atrás de rivais menores, como Jefferies Financial Group e Mizuho Financial Group.

O quadro é semelhante no Reino Unido e na Europa, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

No setor de M&A, o banco não foi classificado sequer entre os 20 maiores participantes nos EUA no ano passado e ficou em 15º lugar no Reino Unido, ante 26º no ano anterior.

Em um comunicado aos funcionários, o banco disse que seu objetivo era ser o número um em um mercado e se concentrar em seus negócios principais na Ásia e no Oriente Médio, que oferece mais desafios a Wall Street.

"O HSBC tem se esforçado para ganhar massa crítica em ações americanas e europeias, bem como em fusões e aquisições ao longo dos anos", disse Joseph Dickerson, analista de bancos da Jefferies.

Na emissão de dívidas na Europa, que não é afetada pelas mudanças, o HSBC é um banco sólido entre os dez primeiros e frequentemente está entre os cinco primeiros na região, de acordo com dados compilados pela Bloomberg News.

Na Ásia, o HSBC é frequentemente o banco a ser batido.

“Nossa estrutura regional foi projetada para facilitar a conexão de nossos clientes com oportunidades de investimento e financiamento em todo o mundo, usando nossa rede inigualável”, disse Roberts em um comunicado enviado por e-mail.

"Somos um banco global que oferece a nossos clientes uma gama de produtos e serviços bancários de ponta que outros bancos têm dificuldade em igualar, abrangendo desde o setor bancário transacional até os mercados de capitais."

Bônus extras

Para os funcionários que estiverem no meio de negociações, haverá bônus especiais para mantê-los incentivados até o fim do trabalho. O banco reconheceu que a notícia do fechamento das unidades seria “perturbadora”.

O HSBC presta assessoria em transações em andamento, incluindo a oferta de £ 350 milhões (US$ 435 milhões) da Fortress para o grupo de restaurantes Loungers, listado no Reino Unido.

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Sair dos mercados de fusões e aquisições e de capital acionário é uma medida rara para um banco corporativo. Os negócios de assessoria financeira não requerem muito capital e, ao mesmo tempo, geram receitas de taxas que os ajudam a compensar o impacto da queda das taxas de juros.

A saída do HSBC também ocorre em um momento em que a atividade de negociações se recupera na Europa e em todo o mundo.

Essa é a última medida do plano de Elhedery para cortar cerca de US$ 3 bilhões da base de custos geral do HSBC, que já viu a diretoria executiva da empresa ser reduzida em cerca de um terço e as operações serem reorganizadas em quatro novas divisões.

Para os negócios do HSBC no Oriente Médio, que foram colocados sob o guarda-chuva da Ásia como parte da reformulação, há uma sensação de alívio por terem evitado alguns dos cortes que agora atingem a Europa, de acordo com pessoas familiarizadas com a situação.

“Esse parece ser um passo muito pequeno no contexto do grupo como um todo, mas eles enfrentam dificuldades há algum tempo nessas áreas”, disse Edward Firth, analista de bancos da Keefe, Bruyette & Woods, em Londres.

-- Com a colaboração de Nicolas Parasie, Pamela Barbaglia, Helene Durand e Swetha Gopinath.

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