Honda faz aposta de longo prazo com aquisição surpreendente da Nissan

Negócio anunciado no começo da semana como uma fusão se assemelha a uma compra, com a segunda maior montadora do Japão prevista para assumir a liderança da futura holding

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Bloomberg — A Honda Motor esboçou planos para um acordo de longo prazo que equivale a uma aquisição da Nissan Motor em tudo, exceto no nome, enquanto duas das maiores montadoras japonesas lutam para se manterem competitivas em um setor automotivo global cada vez mais disputado.

O acordo básico para a criação de uma holding conjunta, anunciado na segunda-feira (23), terá como objetivo a formação de uma holding com ações listadas na Bolsa de Tóquio em agosto de 2026.

Embora seus executivos tenham chamado a transação de uma fusão, a Honda assumirá a liderança na formação da nova entidade e indicará a maioria do conselho. Suas ações subiram 12% nesta terça em Tóquio. A Mitsubishi Motors, parceira da Nissan, também poderá participar do acordo.

“À primeira vista, é uma aquisição,” disse Neal Ganguli, sócio e managing partner para prática automotiva e industrial da empresa de consultoria AlixPartners. “A escala definitivamente traz vantagens, e as pessoas terão que prestar atenção.”

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As japonesas Honda e Nissan enfrentam desafios para competir com montadoras chinesas em ascensão, a tal ponto que o país vizinho se tornou a maior nação exportadora de automóveis do mundo no ano passado e se aproxima de repetir o feito em 2024.

O CEO da Honda, Toshihiro Mibe, falou sobre o nível de dificuldade que as empresas terão pela frente quando explicou, durante uma entrevista coletiva, que o objetivo de ambas é serem competitivas até 2030.

“As sinergias da fusão da Honda e da Nissan levarão tempo para surgir se o acordo for concluído em 2025″, disse Tatsuo Yoshida, analista sênior do setor da Bloomberg Intelligence, em uma nota.

“A Nissan pode obter alívio de sua pressão financeira, enquanto os benefícios de curto prazo da Honda podem ser limitados.”

A Honda ofereceu uma espécie de compensação para seus acionistas, ao anunciar planos de recompra de até ¥ 1,1 trilhão de ienes (cerca de US$ 7 bilhões) de suas ações até o ano que vem. O limite máximo da recompra é de 24% das ações emitidas.

Um resgate pela Honda evitaria um desastre total para a Nissan e a Mitsubishi Motors, cujas posições se deterioraram desde a prisão de seu ex-presidente do conselho e ex-CEO Carlos Ghosn em novembro de 2018.

Pouco mais de um ano depois que a Nissan acusou seu líder de longa data de má conduta financeira e ele acabou sendo preso, ele fugiu do Japão para o Líbano.

Ghosn, hoje com 70 anos, negou todas as acusações e alegou que a Nissan montou uma campanha de difamação.

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A Mitsubishi Motors, que tem a Nissan como importante acionista com 24,5% do seu capital, assinou um acordo preliminar para explorar a adesão ao acordo com a Honda, dizendo que espera firmar a decisão até o final de janeiro de 2025.

As ações da Honda fecharam em alta de 3,8% na segunda-feira em Tóquio, recuperando grande parte de sua perda desde que as negociações sobre o acordo foram relatadas pela primeira vez na semana passada. As ações da Nissan e da Mitsubishi Motors subiram 1,6% e 5,3%, respectivamente.

A combinação das três empresas criaria uma das cinco maiores montadoras do mundo, embora o grupo ainda fosse menor do que a também japonesa Toyota Motor (TM).

A união de forças também poderia reforçar seus esforços para afastar os fabricantes chineses liderados pela BYD, que agora está entre os principais fabricantes de veículos elétricos do mundo.

O maior acionista da Nissan, a francesa Renault, reconheceu o anúncio de seu parceiro de aliança de longa data, dizendo que as negociações com a Honda ainda estavam em um estágio inicial.

A Renault, que detém 36% da Nissan, também disse em um comunicado que considerará todas as opções e continuará a executar a sua estratégia, que inclui projetos conjuntos com a Nissan.

O CEO da Honda, Mibe, disse que a combinação com a Nissan geraria bilhões de ienes em lucros operacionais incrementais, embora não tenha oferecido prazos. O executivo de 63 anos também não falou sobre como as empresas lidariam com questões urgentes, como o fechamento de fábricas.

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"Ambas as empresas continuarão como subsidiárias integrais da holding conjunta com suas respectivas marcas em vigor", disse Mibe.

A recompra de ações da Honda substitui um plano anunciado anteriormente que envolve ¥ 100 bilhões em ações de 7 de novembro deste ano até outubro de 2025.

O programa de recompra está sendo lançada agora porque se espera que a capacidade da Honda de fazê-lo seja restrita durante o período que antecede o acordo que as empresas pretendem fechar em 2026.

Pioneirismo desperdiçado

A Nissan definhou nos anos que se seguiram à destituição de Ghosn e desperdiçou sua posição como uma das primeiras montadoras que abraçaram a mudança para veículos totalmente elétricos.

Na China, a crescente popularidade dos veículos elétricos fabricados localmente deixou algumas marcas estrangeiras em estágio de lutar pela sobrevivência.

A Honda e a Nissan tiveram que reduzir a equipe e a produção, enquanto a Mitsubishi Motors praticamente se retirou do maior mercado de automóveis do mundo.

A Nissan também está em desvantagem em meio ao ressurgimento da popularidade dos carros híbridos nos EUA. Embora a Toyota domine o segmento de motor e transmissão, a Honda está relativamente bem posicionada e poderia dar um impulso bem-vindo.

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A combinação de queda nas vendas nos EUA e na China tem sido devastadora para a Nissan, o que levou a empresa a cortar milhares de empregos, reduzir a capacidade de produção e diminuir sua projeção de lucro anual em 70%.

“A parceria com a Honda não é um sinal de que estamos desistindo de nossos planos de dar a volta por cima”, disse o CEO da Nissan, Makoto Uchida, na segunda-feira.

A Nissan foi resgatada de sua última crise financeira há mais de duas décadas, quando a Renault entrou em cena com uma injeção de dinheiro e enviou Ghosn para orquestrar uma reviravolta.

O executivo exilado comentou sobre as negociações do acordo em Beirute e disse à Bloomberg Television na semana passada que a Nissan está em “modo de pânico”.

Em evento do Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão por teleconferência na segunda-feira, Ghosn apontou que as vendas unitárias da Nissan caíram mais de 40% desde 2018 e que a montadora mal consegue atingir o ponto de equilíbrio financeiro - o breakeven.

Uchida, da Nissan, e Mibe, da Honda, disseram que não sabiam nada sobre o interesse da Hon Hai Precision Co, a fabricante de iPhone de Taiwan conhecida como Foxconn, em assumir o controle da Nissan.

Pessoas familiarizadas com o assunto disseram na semana passada que a Foxconn enviou uma delegação para se reunir com a Renault na França. No entanto a Foxconn suspendeu seu interesse em adquirir a Nissan enquanto as negociações com a Honda se desenrolam, disse uma pessoa.

- Com a colaboração de Craig Trudell.

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