Honda faz aposta de olho em resultados de longo prazo com aquisição da Nissan

Negócio anunciado no começo da semana como uma fusão se assemelha a uma compra, com a segunda maior montadora do Japão prevista para assumir a liderança da futura holding

Honda Dealership Ahead of Merger Agreement Announcement
Por Nicholas Takahashi - Tsuyoshi Inajima
24 de Dezembro, 2024 | 05:03 AM

Bloomberg — A Honda Motor esboçou planos para um acordo de longo prazo que equivale a uma aquisição da Nissan Motor em tudo, exceto no nome, enquanto duas das maiores montadoras japonesas lutam para se manterem competitivas em um setor automotivo global cada vez mais disputado.

O acordo básico para a criação de uma holding conjunta, anunciado na segunda-feira (23), terá como objetivo a formação de uma holding com ações listadas na Bolsa de Tóquio em agosto de 2026.

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Embora seus executivos tenham chamado a transação de uma fusão, a Honda assumirá a liderança na formação da nova entidade e indicará a maioria do conselho. Suas ações subiram 12% nesta terça em Tóquio. A Mitsubishi Motors, parceira da Nissan, também poderá participar do acordo.

“À primeira vista, é uma aquisição,” disse Neal Ganguli, sócio e managing partner para prática automotiva e industrial da empresa de consultoria AlixPartners. “A escala definitivamente traz vantagens, e as pessoas terão que prestar atenção.”

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As japonesas Honda e Nissan enfrentam desafios para competir com montadoras chinesas em ascensão, a tal ponto que o país vizinho se tornou a maior nação exportadora de automóveis do mundo no ano passado e se aproxima de repetir o feito em 2024.

O CEO da Honda, Toshihiro Mibe, falou sobre o nível de dificuldade que as empresas terão pela frente quando explicou, durante uma entrevista coletiva, que o objetivo de ambas é serem competitivas até 2030.

“As sinergias da fusão da Honda e da Nissan levarão tempo para surgir se o acordo for concluído em 2025″, disse Tatsuo Yoshida, analista sênior do setor da Bloomberg Intelligence, em uma nota.

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“A Nissan pode obter alívio de sua pressão financeira, enquanto os benefícios de curto prazo da Honda podem ser limitados.”

O CEO da Nissan, Makoto Uchida, a partir da esquerda, o CEO da Honda, Toshihiro Mibe, e o CEO da Mitsubishi, Takao Kato, em entrevista coletiva de imprensa na segunda-feira (23) (Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg)

A Honda ofereceu uma espécie de compensação para seus acionistas, ao anunciar planos de recompra de até ¥ 1,1 trilhão de ienes (cerca de US$ 7 bilhões) de suas ações até o ano que vem. O limite máximo da recompra é de 24% das ações emitidas.

Um resgate pela Honda evitaria um desastre total para a Nissan e a Mitsubishi Motors, cujas posições se deterioraram desde a prisão de seu ex-presidente do conselho e ex-CEO Carlos Ghosn em novembro de 2018.

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Pouco mais de um ano depois que a Nissan acusou seu líder de longa data de má conduta financeira e ele acabou sendo preso, ele fugiu do Japão para o Líbano.

Ghosn, hoje com 70 anos, negou todas as acusações e alegou que a Nissan montou uma campanha de difamação.

Leia mais: Como a Honda entrou na disputa com a Tesla com seu primeiro modelo elétrico

A Mitsubishi Motors, que tem a Nissan como importante acionista com 24,5% do seu capital, assinou um acordo preliminar para explorar a adesão ao acordo com a Honda, dizendo que espera firmar a decisão até o final de janeiro de 2025.

As ações da Honda fecharam em alta de 3,8% na segunda-feira em Tóquio, recuperando grande parte de sua perda desde que as negociações sobre o acordo foram relatadas pela primeira vez na semana passada. As ações da Nissan e da Mitsubishi Motors subiram 1,6% e 5,3%, respectivamente.

Valor de mercado da Honda é quatro vezes o da Nissan e ainda maior do que o da Mitsubishi

A combinação das três empresas criaria uma das cinco maiores montadoras do mundo, embora o grupo ainda fosse menor do que a também japonesa Toyota Motor (TM).

A união de forças também poderia reforçar seus esforços para afastar os fabricantes chineses liderados pela BYD, que agora está entre os principais fabricantes de veículos elétricos do mundo.

O maior acionista da Nissan, a francesa Renault, reconheceu o anúncio de seu parceiro de aliança de longa data, dizendo que as negociações com a Honda ainda estavam em um estágio inicial.

A Renault, que detém 36% da Nissan, também disse em um comunicado que considerará todas as opções e continuará a executar a sua estratégia, que inclui projetos conjuntos com a Nissan.

O CEO da Honda, Mibe, disse que a combinação com a Nissan geraria bilhões de ienes em lucros operacionais incrementais, embora não tenha oferecido prazos. O executivo de 63 anos também não falou sobre como as empresas lidariam com questões urgentes, como o fechamento de fábricas.

Leia mais: Carlos Ghosn diz que negociação de fusão com a Honda indica ‘pânico’ da Nissan

"Ambas as empresas continuarão como subsidiárias integrais da holding conjunta com suas respectivas marcas em vigor", disse Mibe.

A recompra de ações da Honda substitui um plano anunciado anteriormente que envolve ¥ 100 bilhões em ações de 7 de novembro deste ano até outubro de 2025.

O programa de recompra está sendo lançada agora porque se espera que a capacidade da Honda de fazê-lo seja restrita durante o período que antecede o acordo que as empresas pretendem fechar em 2026.

Pioneirismo desperdiçado

A Nissan definhou nos anos que se seguiram à destituição de Ghosn e desperdiçou sua posição como uma das primeiras montadoras que abraçaram a mudança para veículos totalmente elétricos.

Na China, a crescente popularidade dos veículos elétricos fabricados localmente deixou algumas marcas estrangeiras em estágio de lutar pela sobrevivência.

A Honda e a Nissan tiveram que reduzir a equipe e a produção, enquanto a Mitsubishi Motors praticamente se retirou do maior mercado de automóveis do mundo.

A Nissan também está em desvantagem em meio ao ressurgimento da popularidade dos carros híbridos nos EUA. Embora a Toyota domine o segmento de motor e transmissão, a Honda está relativamente bem posicionada e poderia dar um impulso bem-vindo.

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A combinação de queda nas vendas nos EUA e na China tem sido devastadora para a Nissan, o que levou a empresa a cortar milhares de empregos, reduzir a capacidade de produção e diminuir sua projeção de lucro anual em 70%.

“A parceria com a Honda não é um sinal de que estamos desistindo de nossos planos de dar a volta por cima”, disse o CEO da Nissan, Makoto Uchida, na segunda-feira.

A Nissan foi resgatada de sua última crise financeira há mais de duas décadas, quando a Renault entrou em cena com uma injeção de dinheiro e enviou Ghosn para orquestrar uma reviravolta.

O executivo exilado comentou sobre as negociações do acordo em Beirute e disse à Bloomberg Television na semana passada que a Nissan está em “modo de pânico”.

Em evento do Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão por teleconferência na segunda-feira, Ghosn apontou que as vendas unitárias da Nissan caíram mais de 40% desde 2018 e que a montadora mal consegue atingir o ponto de equilíbrio financeiro - o breakeven.

Uchida, da Nissan, e Mibe, da Honda, disseram que não sabiam nada sobre o interesse da Hon Hai Precision Co, a fabricante de iPhone de Taiwan conhecida como Foxconn, em assumir o controle da Nissan.

Pessoas familiarizadas com o assunto disseram na semana passada que a Foxconn enviou uma delegação para se reunir com a Renault na França. No entanto a Foxconn suspendeu seu interesse em adquirir a Nissan enquanto as negociações com a Honda se desenrolam, disse uma pessoa.

- Com a colaboração de Craig Trudell.

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