Bloomberg — A Honda Motor e a Nissan Motor deram seus primeiros passos históricos em direção a uma fusão para criar uma nova força na indústria automotiva global, enquanto a forte competição da China força montadoras tradicionais a repensar seus modelos de negócios.
As duas montadoras japonesas assinaram um acordo básico para negociações de fusão nesta segunda-feira (23), de acordo com uma entrevista coletiva de imprensa conjunta realizada em Tóquio. A Honda também anunciou que recomprará até ¥ 1,1 trilhão (US$ 7 bilhões) de suas próprias ações.
Será criada uma holding para abrigar a nova entidade, que deve ser listada até agosto de 2026, disseram as empresas, acrescentando que a Honda poderá nomear a maioria do conselho - a montadora tem valor de mercado equivalente a quatro vezes o da Nissan.
O prazo para que um acordo firme seja alcançado é junho de 2025 - nesse cenário positivo, acionistas de ambas as empresas votariam pela aprovação da integração em abril de 2026.
A Mitsubishi Motors, cujos 24,5% do capital são de propriedade da Nissan, também assinou o memorando de entendimento e provavelmente fará parte do grupo, com uma decisão final esperada até o fim de janeiro de 2025. Se somadas as três, a holding teria na largada um market cap de US$ 58 bilhões.
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A nova holding nasceria como um dos três maiores grupos automotivos do mundo, com receitas somadas estimadas em ¥ 30 trilhões (cerca de US$ 190 bilhões).
O CEO da Honda, Toshihiro Mibe, afirmou que as sinergias da empresa combinada devem levar a um aumento no lucro operacional de mais de ¥ 1 trilhão (US$ 6,4 bilhões), subindo a ¥ 3 trilhões (US$ 19,2 bilhões) eventualmente.
“Ambas as empresas continuarão como subsidiárias integrais da holding conjunta, com suas respectivas marcas”, disse Mibe. A holding incluirá as marcas da Honda e da Nissan, e envolverá a grande divisão de motocicletas da Honda.
Tal aliança colocaria o trio em condições de enfrentar a Toyota Motor no mercado doméstico e montadoras chinesas, incluindo a BYD e a Geely Automobile Holdings, no exterior.
A Toyota detém participações na Subaru, na Suzuki Motor e na Mazda Motor, uma potência de marcas respaldada por sua classificação de crédito de alto nível.
Todas as três montadoras japonesas, Honda, Nissan e Mitsubishi, enfrentam, até certo ponto, uma ameaça existencial trazida pela mudança vertiginosa da indústria automotiva global para veículos elétricos movidos a bateria e sistemas de transmissão híbridos, afastando-se dos carros com motor de combustão.
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Na China, a crescente popularidade dos veículos elétricos fabricados localmente deixou as marcas estrangeiras lutando para sobreviver, enquanto as montadoras japonesas enfrentam excesso de capacidade.
Honda e Nissan tiveram que reduzir suas equipes e produção, enquanto a Mitsubishi Motors praticamente se retirou do mercado chinês, o maior para carros do mundo.
Enquanto isso, uma recuperação das vendas de carros híbridos a gás e elétricos na América do Norte deixou a Nissan em desvantagem, enquanto a Toyota, pioneira em tecnologia híbrida, recebeu um impulso bem-vindo.
A Nissan perdeu essa janela de oportunidade devido à sua linha de produtos considerada desatualizada, sem opções atrativas de híbridos e muito menos veículos elétricos competitivos.
Para a Nissan, a fusão com a Honda poderia trazer o alívio tão necessário após vendas consideradas insignificantes nos EUA e na China, que resultaram em uma queda massiva na receita. Esse quadro forçou a montadora a cortar empregos, reduzir capacidade de produção e diminuir sua previsão de lucro anual em 70%.
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“A parceria com a Honda não é um sinal de que estamos desistindo de nossos planos de reverter a situação da Nissan,” disse o CEO da Nissan, Makoto Uchida, nesta segunda-feira (23).
A Nissan foi resgatada de sua última crise financeira há mais de duas décadas, quando a montadora francesa Renault fez uma injeção de capital e enviou o executivo franco-brasileiro Carlos Ghosn para liderar a recuperação. A prisão e destituição chocantes de Ghosn no final de 2018 pavimentaram o caminho para Uchida assumir o comando.
Ghosn reside em Beirute, no Líbano, desde sua fuga ousada do Japão há cinco anos. O executivo exilado se pronunciou novamente sobre a fusão na segunda-feira, dizendo que, para ele, o negócio não faz sentido porque não há sinergias.
Em evento do Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão via teleconferência, Ghosn destacou que as vendas unitárias da Nissan caíram mais de 40% desde 2018, e a montadora passou de bilhões em receita anual para mal conseguir equilibrar suas contas.
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