Hollywood fica para trás na retomada do setor de cinema e TV no pós-pandemia

Pressão financeira tem levado grandes estúdios e empresas do setor a cortar produções e empregos nos EUA, em parte transferidos para países que oferecem custos mais baixos e incentivos fiscais

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Bloomberg — Diego Mariscal, operador de câmera que trabalhou em filmes como Os Vingadores e O Protetor, criou um grupo no Facebook chamado “Crew Stories”, que oferece apoio online a pessoas em dificuldades na indústria do entretenimento.

As notícias não têm sido boas para os quase 100.000 membros do grupo: um em cada três posts lamenta que os empregos deixaram Los Angeles, a antiga capital do cinema. Um quinto das pessoas com quem ele trabalhou está de saída do negócio e busca treinamento em outras áreas, disse Mariscal em uma entrevista à Bloomberg News.

O mesmo acontece em grande parte dos Estados Unidos.

O trabalho em cinema e TV está abaixo dos níveis de 2021-2022 em muitos dos estados americanos nos quais Hollywood se instalou – como Nova York, Geórgia e Illinois.

A produção se recuperou mais rapidamente em outros países como Canadá, Austrália e Inglaterra, e os americanos lamentaram o movimento de internacionalização de produções, ou “offshoring. Na quarta-feira da semana passada (18), 33 empresas e associações da Califórnia anunciaram uma nova coalizão para fazer lobby por melhorias no programa de crédito fiscal para produção do tradicional estado.

“É um cenário em transformação para as pessoas do setor cinematográfico, e muitas estão saindo”, disse Mariscal, de 43 anos, que se mudou para Los Angeles há 25 anos para se estabelecer na profissão.

O setor começou a sofrer intensa pressão em 2020, quando o início da pandemia de covid paralisou o trabalho em grande parte do mundo e fechou os cinemas por meses.

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Inicialmente, os lockdowns tiveram um lado positivo: as pessoas presas em casa ansiavam por novos filmes e programas para assistir na TV, as assinaturas de serviços de streaming dispararam e os estúdios liderados pela Netflix (NFLX) e Walt Disney (DIS) investiram bilhões de dólares em programas destinados à exibição nas telinhas.

Mas os investidores não estavam dispostos a suportar as perdas financeiras intermináveis do streaming e, logo depois, os gigantes da mídia foram forçados a cortar a produção, eliminar empregos e se concentrar na lucratividade de seus negócios.

No ano passado, as greves de roteiristas e atores nos EUA paralisaram o setor novamente por seis meses.

Embora alguns trabalhadores tenham conquistado salários mais altos e melhores proteções no emprego, os contratos aumentaram os custos para os estúdios que queriam fazer filmes e programas de TV nos EUA. Os gigantes do entretenimento usaram as greves como uma oportunidade para cortar ainda mais os gastos.

“Eles apenas diminuíram o bolo”, disse o produtor de cinema Jason Blum na conferência Bloomberg Screentime em outubro passado.

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As histórias sobre a queda na produção de Hollywood geralmente se concentram na rivalidade entre a Califórnia e outros estados.

Em agosto, a Warner Bros. Discovery (WBD) disse que planejava investir US$ 8,5 bilhões em filmagens em Las Vegas, a depender do aumento dos descontos de impostos em Nevada.

A realidade é que o trabalho de cinema e TV na Califórnia caiu aproximadamente no mesmo percentual que nos EUA como um todo, de acordo com dados da empresa de pesquisa ProdPro.

No entanto os riscos são maiores na Califórnia, onde a produção de filmes e TV sustenta mais de 700.000 empregos e quase US$ 70 bilhões em salários para os trabalhadores do estado.

As filmagens na cidade de Nova York, que também é um importante centro de produção, sustentam mais de 185.000 empregos no total e representam mais de US$ 18 bilhões em salários totais.

O estado de Nova York oferece apoio à produção por meio de 20 escritórios regionais de cinema. Embora seu programa fiscal ofereça um crédito básico de 30%, esse percentual sobe para 40% para produções filmadas na maioria dos condados do norte do estado, de acordo com o escritório do Empire State Development.

Na Geórgia, onde filmes como Superman: Legacy e diferentes programas de TV, incluindo Stranger Things, Cobra Kai e Will Trent: Agente Especial, são filmados, os gastos com produção neste ano caíram pela metade, o equivalente a US$ 2,42 bilhões, desde 2021, de acordo com a ProdPro.

“Após um grande crescimento no pós-pandemia, os números de gastos diretos dos últimos dois anos mostram que o mercado começa a se ajustar às novas normas”, disse Lee Thomas, diretor do Georgia Film Office, em um e-mail à Bloomberg News. “O estado da Geórgia não ficou imune à reinicialização do setor após as greves, mas estamos otimistas em relação a 2025.”

Enquanto isso, o resto do mundo viu os gastos com a produção voltarem ao ponto em que estavam em 2021. Alguns países, incluindo aqueles que competem por produções com os EUA – Reino Unido, Austrália, Hungria e Espanha – viram seus negócios de cinema e TV crescerem nos últimos quatro anos.

Há muitos exemplos recentes de produções que foram retiradas dos EUA com a promessa de custos mais baixos ou assistência governamental.

Wicked, sucesso de bilheteria da Universal Pictures da Comcast (CMCSA), foi filmado na Inglaterra, assim como grande parte de The Batman, filme da Warner Bros.

Blade Runner 2099, uma série de TV derivada dos filmes de mesmo nome e ambientada em Los Angeles, está sendo filmada na República Tcheca a um custo total estimado pela Czech Film Commission em US$ 43 milhões. Isso é o equivalente a apenas dois episódios de séries como Ruptura, da Apple, filmada nos estados de Nova York e Nova Jersey.

No Reino Unido, o governo introduziu a isenção fiscal para filmes em 2007, que permite que as produções solicitem o reembolso de 25% de suas despesas qualificadas como um desconto em dinheiro, sem limite anual.

No início deste ano, o Japão começou a oferecer um abatimento de até 50% das despesas. Na República Tcheca, o governo oferece descontos de até 20% dos custos elegíveis para projetos registrados até o final de 2024, que aumentarão para até 35% para produções a partir de 2025.

“Há algumas grandes produções que já começaram a pré-produção”, disse Pavlina Zipkova, chefe da Czech Film Commission, em um e-mail sobre os próximos projetos a serem filmados no país e que se beneficiarão de seus incentivos. “Mas os estúdios esperam que a melhoria da lei audiovisual entre em vigor.”

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Há outros motivos para filmar no exterior além dos créditos fiscais, de acordo com Larry Kasanoff, produtor de filmes como e a série.

O streaming permitiu que o setor gerasse receita de clientes em todo o mundo, e muitos países têm histórias que ainda não foram expostas aos mercados globais. Além disso, é simplesmente mais barato contratar equipes de filmagem ou animadores em alguns países.

“Você só precisa estar disposto a pegar um avião e ir para o Uzbequistão”, disse ele.

Ou locais que não são tão distantes, mas onde os dólares de produção também vão mais longe. Isso inclui a província canadense de Ontário, onde o filme vencedor do Oscar A Forma da Água e séries de TV populares como The Boys, The Handmaid’s Tale e Suits foram filmadas.

Grandes empresas de mídia como Disney, Warner Bros. e Paramount Global estão interessadas em produzir filmes e programas de TV que atraiam os mercados globais. A Netflix manteve seus gastos com conteúdo estáveis em US$ 17 bilhões anuais, mas tem alocado uma parte cada vez maior de seus gastos nos EUA para programas de comédia e esportes.

Os dados da ProdPro mostram que os gastos com filmes e programas de TV na província canadense de Ontário voltaram aos níveis de 2021.

A província conseguiu manter uma participação saudável no mercado de produção, apesar da contração global do setor, em parte devido à sua infraestrutura de estúdios, ao pool de mão de obra e ao apoio em todos os níveis do governo, de acordo com Jay Cutler, film commissioner da Ontario Creates.

Para combater o declínio na Califórnia, o governador Gavin Newsom disse em outubro que pretende mais que dobrar a assistência à produção de filmes e TV para cerca de US$ 750 milhões. A proposta de Newsom representaria a primeira grande revisão do programa de incentivo da Califórnia para projetos de cinema e TV desde 2014, e pode desacelerar o êxodo.

“É muito tarde para isso”, disse Mariscal, o operador de câmera. “Todos diziam: ‘sobreviva até os 25 anos’, mas o que vejo muito agora são pessoas pegando empréstimos de familiares e estourando o limite dos cartões de crédito para se repaginar e sair do setor.”

-- Com a colaboração de Kyle Kim.

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