Bloomberg — A Diageo descartou uma meta de vendas mantida havia muito tempo, dado que enfrenta um crescimento lento e uma possível batalha tarifária nos Estados Unidos, seu maior mercado.
A fabricante de marcas como Johnnie Walker, Tanqueray, Don Julio e Guinness retirou o guidance de médio prazo de crescimento orgânico de 5% a 7% das vendas líquidas e atribuiu a decisão à incerteza econômica e política em muitos de seus principais mercados.
As tarifas planejadas pelos EUA sobre o México e o Canadá poderiam “muito bem impactar” o impulso da Diageo, especialmente suas marcas de tequila e uísque canadense, disse a CEO global, Debra Crew.
As ações da Diageo chegaram a cair 3,4% no início das negociações em Londres nesta terça-feira (4). A cotação caiu cerca de 20% nos últimos 12 meses até o fechamento de segunda-feira (3).
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A remoção do guidance é um abandono de uma meta estabelecida em 2021 pelo antecessor de Crew, Ivan Menezes, no auge da pandemia, quando a demanda por destilados para coquetéis caseiros estava em alta.
A Bloomberg News informou no mês passado que a Diageo provavelmente reduziria suas ambições de crescimento e redefiniria as expectativas em meio a gastos mais fracos dos consumidores nos principais mercados dos EUA, na América Latina e na China.
Mercados mais difíceis
A Diageo prometeu há muito tempo que o crescimento da população e o aumento da renda em muitos de seus principais mercados levariam os consumidores para as marcas mais premium da empresa.
Mas a empresa enfrenta pressão dos investidores para reduzir uma meta que tinha dificuldades para alcançar, devido à demanda mais fraca e às mudanças na dinâmica do mercado, especialmente nos EUA.
O sentimento tem mudado nos EUA e as pessoas querem bebidas alcoólicas, mas “estão sentindo a pressão em suas carteiras”, disse Crew. “As famílias estão vendo os preços das cestas de supermercado chegarem a uma alta de 30 anos”, acrescentou.
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O crescimento das vendas será ainda mais difícil agora se o presidente Donald Trump levar adiante a ameaça de impor tarifas ao México e ao Canadá.
Um adiamento de 30 dias foi garantido pelos dois países vizinhos na segunda-feira, mas o risco para empresas como a Diageo, que gera 38% de suas vendas na América do Norte, permanece.
Cerca de 45% das vendas da Diageo nos EUA também incluem produtos fabricados no Canadá e no México, de acordo com Nik Jhangiani, diretor financeiro (CFO) da Diageo.
O executivo disse que a Diageo pode mitigar uma parte significativa do impacto das tarifas sobre o lucro operacional. Mas ainda há temores de que os consumidores passem a usar produtos domésticos mais baratos nos EUA se a Diageo e suas rivais tiverem que aumentar os preços para absorver totalmente o custo mais alto do comércio entre os países por causa das tarifas.
Planos de contingência
Crew disse que a Diageo tem tomado medidas de contingência para se planejar para possíveis tarifas, incluindo a gestão da cadeia de suprimentos e dos estoques, e que continua a se envolver com a administração dos EUA. A executiva disse que a empresa aumentou sua participação de mercado nos EUA durante o primeiro semestre, devido ao forte desempenho da tequila Don Julio e do uísque canadense Crown Royal.
De modo geral, a Diageo registrou crescimento de participação de mercado em quatro de suas cinco regiões, com uma recuperação mais acentuada do que o esperado na América Latina e na África, de acordo com analistas da Jefferies.
“A declaração de resultados continha muito do que queríamos ouvir”, disse James Edwardes Jones, analista da RBC Capital Markets.
“O notória guidance de crescimento de 5% a 7% das vendas a médio prazo e dos lucros antes dos juros foi retirado e substituído por uma orientação mais abrangente a curto prazo.” A empresa também promete maior produtividade e disciplina de capital mais rigorosa, acrescentou.
-- Com a colaboração de Joel Leon.
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