Bloomberg — As ações da Nissan saltaram nesta sexta-feira (21) depois que o Financial Times noticiou que um grupo japonês de alto nível elaborou planos para buscar investimentos da Tesla, de Elon Musk, para ajudar a montadora em dificuldades.
O grupo acredita que a fabricante de veículos elétricos está interessada em adquirir as fábricas da Nissan nos Estados Unidos, de acordo com o jornal, que citou pessoas que não foram identificadas.
A proposta prevê o envolvimento de um consórcio de investidores, com a Tesla como a maior apoiadora, mas também inclui a possibilidade de um investimento minoritário da Hon Hai Precision Industry - a Foxconn - para evitar uma aquisição total pela fornecedora da Apple, disse o relatório.
As ações da Nissan saltaram mais de 12% com a notícia do possível investimento, antes de fecharem em alta de 9,5% em Tóquio nesta sexta.
A Nissan se viu na necessidade de buscar uma “tábua de salvação” mais uma vez depois que um acordo com a Honda Motor para combinar as duas marcas em uma única empresa holding foi formalmente encerrado no início deste mês.
Embora a Nissan esteja agora em busca de um novo parceiro - o CEO Makoto Uchida disse que seria difícil sobreviver sem um -, a ideia de um acordo com a Tesla foi recebida com ceticismo por observadores do setor.
Leia também: Honda e Nissan confirmam fim das negociações para fusão de operações
Isso se deve, em parte, às dificuldades enfrentadas pela própria Tesla com a desaceleração da demanda por veículos elétricos: no mês passado, a empresa relatou uma queda nas vendas anuais pela primeira vez em mais de uma década e cortou mais de 10% de sua força de trabalho.
Mas a compra de uma participação em outra montadora seria uma mudança notável em relação a seus investimentos habituais, que se concentram em negócios que apoiam suas ambições de EV de alta tecnologia.
Também não está claro quais ativos da Nissan seriam um atrativo.
A montadora tem três fábricas nos EUA e já avisou anteriormente que pode desacelerar o aumento planejado da produção de veículos elétricos em suas instalações em Canton, no estado do Mississippi, devido às incertezas sobre as políticas de energia e comércio sob a presidência de Donald Trump.
Para a Tesla, é difícil pensar que há algum mérito em comprar a Nissan”, disse Yasuhiko Hirakawa, chefe de investimentos da Rakuten Investment Management. “Ela obviamente não precisa do legado da Nissan.”
“Obviamente, ela tampouco não precisa de ativos antigos, como motores e linhas de montagem. É difícil imaginar algo que a Tesla precise e que a Nissan possa oferecer.”
A proposta está sendo liderada por Hiromichi Mizuno, ex-diretor de investimentos do Fundo de Investimento do Governo do Japão, que fez parte do conselho da Tesla como diretor independente de 2020 a 2023, informou o Financial Times.
O impulso também é apoiado pelo ex-primeiro-ministro Yoshihide Suga, disse.
Um porta-voz da Nissan não quis comentar a reportagem.
A Tesla não respondeu imediatamente a um pedido de comentário enviado por e-mail. Mizuno e um representante da Hon Hai não responderam imediatamente. O escritório de Suga não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Musk respondeu à reportagem no X, sua plataforma de mídia social, e disse que a “linha de produção da Cybercab não se compara a nada mais na indústria automotiva”.
Leia também: Carlos Ghosn diz que negociação de fusão com a Honda indica ‘pânico’ da Nissan
As consequências do acordo desfeito com a Honda foram especialmente marcantes para a Nissan, que tem sofrido com vendas fracas, excesso de capacidade, uma linha desatualizada de modelos impopulares e uma liderança de porta giratória desde a destituição de Carlos Ghosn em 2018.
Mas, apesar dos desafios da Nissan, suas vastas operações de fabricação e o reconhecimento da marca ainda estão atraindo pretendentes.
A Foxconn, como a Hon Hai é mais comumente conhecida, manifestou interesse renovado na Nissan após o fracasso do acordo com a Honda, e a Bloomberg News informou no início deste mês que a KKR & Co. está avaliando um investimento na Nissan.
A montadora continua a enfrentar os riscos de sua reestruturação, bem como o cenário geopolítico desafiador. Na sexta-feira, a Moody's Ratings cortou sua classificação de crédito para grau especulativo e manteve uma perspectiva de classificação negativa.
"Seja quem for o comprador, a reestruturação da Nissan é inevitável", disse Rieko Otsuka, estrategista da MCP Asset Management Japan.
-- Com a colaboração de Hideyuki Sano, Momoka Yokoyama, Tsuyoshi Inajima, Sakura Murakami e Craig Trudell.
Veja mais em bloomberg.com