Bloomberg Línea — O Grupo GPS (GGPS3), que atua no setor de prestação de serviços (segurança, limpeza e alimentação), tem aproveitado a saída de empresas globais do Brasil para realizar uma série de aquisições, com o objetivo de ganhar escala, reduzir custos e mudar de patamar de receita.
A última ofensiva foi anunciada ontem (27) depois do fechamento do mercado, quando acertou a compra da GRSA, uma empresa de grande porte de soluções de alimentação, controlada pelo grupo britânico Compass. A aquisição permitirá avançar no segmento de catering em todo o território nacional.
O negócio está sujeito à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão antitruste. Só após a esperada aprovação, o valor da transação, que não envolverá troca de ações, deverá ser divulgado, disseram executivos da GPS em conversa com analistas na manhã desta quinta-feira (28).
Leia também: Após 3 anos de reorganização, IMC acelera expansão e prevê megalojas de rua para KFC
Com a aquisição da GRSA, a GPS vai competir em melhores condições com as gigantes Sodexo e Sapore no mercado de catering, pois vai ganhar abrangência geográfica e acesso a sistemas mais avançados de gestão de insumos alimentícios e cardápio.
Esses sistemas são considerados fundamentais para elevar as margens operacionais, depois que a inflação desafiou o segmento nos últimos anos e ampliou a necessidade de monitoramento e adaptação constantes na planilha de custos, disse Marcelo Hampshire, COO do Grupo GPS e dono de 3,70% da companhia.
Marita Berhnoeft, diretora de governança e relações com investidores (RI), não forneceu previsão sobre quando o deal deve passar pela análise do Cade. Esse foi um dos pontos questionados por analistas para tentar antever um cronograma do processo de integração de equipes e sistemas, bem como o timing do impacto da incorporação de receitas nos futuros resultados financeiros do grupo.
Entre os desafios da integração, os executivos apontaram o porte da GRSA, que possui cerca de 450 clientes privados na carteira, tem mais de 25.000 funcionários e atua em todo o território brasileiro, principalmente na região Sudeste.
Hampshire disse que a intenção é manter as equipes de gerentes que atuam junto aos clientes. Ele estimou que a integração demore mais tempo do que as aquisições anteriores, que eram de ativos menores.
O negócio também representará uma pausa na sequência de 22 aquisições realizadas pela companhia nos últimos anos. Atualmente, o grupo conduz sete processos de integração de ativos adquiridos no ano passado.
Leia também: Para onde vai o mercado de benefícios ao trabalhador? Sodexo tem nova aposta
“Será uma integração mais complexa, mas que resultará em uma grande captura de sinergias no final, quando retornaremos ao patamar histórico de nossas margens”, afirmou o COO, explicando que haverá despesas da integração que vão deprimir as margens ao longo do processo.
Após a esperada conclusão da transação, a GPS vai absorver a operação da concorrente em catering de hotelaria marítima e obter melhores condições de preços de insumos com fornecedores, aumentando sua vantagem competitiva, segundo Hampshire.
“A GPS vai mudar de patamar e bater de frente com Sodexo e Sapore. Vamos competir em condições de igualdade, ganhando escala de compra de insumos”, resumiu o executivo.
Saída de empresas globais
A saída de algumas companhias globais do mercado nacional de serviços de alimentação se deve principalmente às dificuldades de adaptar seus sistemas de gestão ao ambiente de negócios, segundo o COO da GPS. Ele disse ainda que o grupo britânico tem feito desinvestimentos em outros países.
“O sistema de gestão das multinacionais funciona na Europa. O Brasil tem um ambiente peculiar. Os sistemas dessas companhias estrangeiras não funcionam aqui. Por isso, não pensamos em entrar em outros países, apesar de a tentação ser grande. Lá fora, as gestões de folha de pagamentos e benefícios são diferentes. Não faria sentido para nós, pois perderíamos nosso diferencial competitivo, tendo que começar do zero”, justificou Hampshire.
Na conversa com analistas, ele foi questionado sobre o peso das provisões de processos trabalhistas da companhia adquirida. O COO respondeu que o tema não representa uma preocupação para a GPS.
Ele também disse que, após a esperada conclusão da integração nos próximos anos, a companhia planeja fazer uma incorporação do “ágio relevante” decorrente da aquisição.
Receita anual de R$ 3,3 bi
Segundo o fato relevante divulgado nesta quinta, a transação será concretizada com a GPS Participações S.A. adquirindo 100% das cotas das sociedades GR Serviços e Alimentação Ltda., Foodbuy Alimentos Sociedade Unipessoal Ltda., GR Manutenção e Facilities Sociedade Unipessoal Ltda., Clean Mall Serviços Ltda. e GRSA Serviços Ltda — ativos que conjuntamente compõem o Grupo GRSA no país.
A receita bruta do Grupo GRSA no período de 12 meses, até setembro de 2023, foi de R$ 3,3 bilhões e agregará uma parcela relevante ao segmento de alimentação do Grupo GPS, segundo o fato relevante.
A GPS abriu capital na B3 em abril de 2021. Neste ano, até ontem (27), a ação acumulava alta de 9%, acima do desempenho do Ibovespa (-4,8%), com fechamento a R$ 19,45. No final da manhã desta quinta, o papel era negociado a R$ 20,55, avanço de 5,6%.
A visão de analistas do sell side
Em relatório divulgado após o fato relevante, a equipe de analistas de equity research do Goldman Sachs manteve a recomendação de compra para a ação da GSP, prevendo níveis saudáveis de retorno para a companhia, com preço-alvo de R$ 28,80, o que implica um upside (potencial de alta) de quase 50%.
“Continuamos vendo o prestador de serviços terceirizados como um consolidador de mercado com uma avaliação atrativa.”
Para o Goldman Sachs, se o negócio for realmente concluído, a aquisição seria mais do que suficiente para o grupo superar sua projeção de fusões e aquisições de aproximadamente R$ 2 bilhões em receitas para 2024.
“Uma das principais preocupações dos investidores diz respeito à capacidade da empresa de cumprir o seu guidance de crescimento inorgânico”, apontaram no relatório.
Os analistas observaram ainda que a GPS historicamente adquiriu empresas muito menores (receitas brutas principalmente entre R$ 100 milhões e 500 milhões) e que o novo anúncio pode sugerir uma mudança na estratégia de fusões e aquisições (M&A).
“As receitas brutas da GRSA equivalem a aproximadamente 30% das receitas brutas da GPS (em 2023), o que sugere riscos aumentados relacionados à integração da empresa ao portfólio da GPS”, citou o banco.
Na teleconferência com analistas, os executivos admitiram que o processo de integração envolve esse risco, destacando principalmente a manutenção ou não do atual time de gerentes que cuidam diretamente dos contratos dos 450 clientes. “O principal risco é perder pessoas, mas vamos buscar a preservação dessas equipes”, disse o COO.
Leia também
Nubank quer ir além do ‘pejotinha’, mas sem pressa para mirar ‘middle market’
Ray Dalio alerta para o risco de ‘década perdida’ na China se governo não agir