Gol caminha para nova reestruturação e S&P corta nota de crédito

Segundo analistas, movimento pode “estimular discussão sobre a estrutura de capital da empresa, dadas as fracas perspectivas de geração de fluxo de caixa”

Por

Bloomberg — A Gol (GOLL4) planeja reestruturar seu balanço mais uma vez, em meio a uma pesada carga de dívida e aos altos custos de se operar uma empresa aérea no Brasil.

A companhia aérea contratou a Seabury Capital para revisar sua estrutura de capital, incluindo a gestão de passivos, enquanto ajusta a sua frota e outras obrigações financeiras, disse a empresa em um fato relevante na sexta-feira (1º).

O movimento levou a S&P Global Ratings a rebaixar a sua nota de crédito da Gol de CCC+ para CCC- na terça-feira (5), alertando ainda para um potencial corte adicional em meio a riscos de refinanciamento.

A contratação segue uma série de medidas corporativas que levantaram questões sobre a capacidade da companhia aérea de baixo custo de navegar em um setor de viagens aéreas que foi abalado pela pandemia de covid-19.

A empresa evitou uma recuperação judicial, diferentemente de muitos de seus pares. Mas foi forçada a realizar 10 processos de gestão de passivos ou aumentos de capital desde o início de 2020, disse a empresa em março.

O último movimento da Gol pode “estimular uma discussão mais ampla sobre a estrutura de capital da empresa, dadas as fracas perspectivas de geração de fluxo de caixa e a dependência de refinanciamento nos próximos dois anos”, escreveram as analistas da S&P Amalia Bulacios e Luisa Vilhena, em nota.

Este ano, a Gol anunciou um reestruturação de dívida com o Abra Group, holding criada para controlar as operações da Gol e da Avianca.

Tudo isso pouco tranquilizou os investidores: os bonds da Gol em dólar com vencimento em 2025, que são negociados a cerca de 41 centavos de dólar, entregaram aos investidores uma perda de 2,6% no acumulado do ano. A dívida de outras companhias aéreas na região retornou, em média, acima de 18%, segundo dados da Bloomberg.

O último anúncio “sugere que a empresa ainda enfrenta desafios financeiros significativos”, disse em nota o analista do Citi (C) Stephen Trent. A entrada da empresa na estrutura do Abra “não foi uma panaceia”, acrescentou.

Embora as ações tenham subido 13% em 2023, o papel registra desempenho inferior ao da concorrente Azul (AZUL4) em cerca de 30 pontos percentuais.

Um porta-voz da empresa não respondeu a mensagens pedindo comentário.

A Gol, que obtém a maior parte de sua receita em moeda local e tem algumas despesas atreladas ao dólar, reportou um prejuízo líquido de R$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre e recentemente reduziu suas projeções para receita e margens do ano.

A reestruturação recente ajudou a alongar vencimentos e proporcionou alguma flexibilidade financeira, segundo a S&P. No entanto, a Gol espera terminar o ano com uma relação dívida líquida/Ebitda de cerca de 4 vezes, superior à última estimativa fornecida pela Azul, de 3,7 vezes.

Embora a Gol não enfrente amortizações significativas de dívida nos próximos 12 meses, “terá dificuldades para enfrentar eventos de liquidez de alto impacto sem a necessidade de refinanciamento, enquanto seu acesso ao mercado de dívida é limitado”, disse a S&P.

Globalmente, as viagens aéreas voltaram aos níveis acima de 2019, mas as companhias de baixo custo não conseguiram lotar os aviões. Alguns dos pares da Gol nos Estados Unidos estão lidando com uma perspectiva mais sombria, com companhias aéreas com foco doméstico, como Frontier e JetBlue, enfrentando obstáculos no próximo ano.

A Gol tem tido dificuldade para expandir a capacidade e ganhar com a recuperação dos voos domésticos no Brasil em razão, em parte, a um atraso nas entregas da Boeing (BA).

A empresa até agora recebeu apenas uma das 15 aeronaves 737 Max encomendadas à fabricante americana para este ano. O melhor cenário é conseguir mais quatro até o final de dezembro, disse o CEO Celso Ferrer a analistas no mês passado.

A empresa contava com essas entregas para devolver aeronaves consideradas menos eficientes. A Gol tem tido que lidar com despesas de arrendamento relacionadas a aeronaves que estão paradas – deixando-a com uma frota operacional reduzida e pressionando o fluxo de caixa.

Isso deixou a empresa com uma liquidez mais fraca em comparação com outras grandes companhias aéreas regionais, de acordo com Omar Zeolla, analista da Oppenheimer & Co.

A medida mais recente visa, em parte, endereçar os acordos com credores para a sua frota de 141 aviões. A Seabury está trabalhando com a SkyWorks nessas negociações, de acordo com o comunicado de sexta-feira. A Azul completou um reestruturação semelhante de arrendamentos neste ano.

“Parece que a Gol vai finalmente reestruturar os arrendamentos – o que eles precisam”, disse Zeolla.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também:

BTG Pactual dobra a aposta em estratégia para avançar em venture capital

CEO da Vale diz que China não pode controlar preço do minério de ferro