A Gol Linhas Aéreas acusou sua rival Latam Airlines de aproveitar-se de seus recentes problemas financeiros ao tentar se apropriar de seus pilotos e aeronaves da Boeing.
A companhia aérea disse em documentos apresentados à Justiça americana na quinta-feira (8) que a Latam enviou recentemente uma carta aos parceiros comerciais da Gol (GOLL4) em que pergunta sobre o aluguel de aeronaves da Boeing e que também buscou por pilotos brasileiros com experiência em comandar tais aeronaves em um post de emprego na internet.
A Latam historicamente opera uma frota de aeronaves da Airbus, e os aviões da Boeing sobre os quais teria questionado são de um modelo específico de aeronave de “corpo estreito” (narrow body) que a Gol opera, afirmou o documento.
A companhia aérea brasileira disse que a Latam perguntou sobre a aquisição de aeronaves da Boeing 737 no dia seguinte à entrada da Gol no Chapter 11, em 25 de janeiro, momento em que ela “está em situação mais vulnerável”.
A Gol pediu ao juiz Martin Glenn, que supervisiona o seu processo de concordata na Justiça americana - equivalente à recuperação judicial no Brasil -, permissão para emitir uma intimação de documentos da Latam enquanto investiga o escopo das supostas solicitações.
“Dados os recentes eventos na indústria, pensamos que você pode estar interessado em saber que o grupo Latam continua a buscar aeronaves”, supostamente disse a Latam em uma carta enviada a seus parceiros comerciais em 26 de janeiro.
A carta, uma cópia da qual está incluída na petição judicial desta quinta-feira, diz também que a afiliada brasileira da Latam está em busca de ampliar os seus voos no país e na região.
A Gol disse acreditar que a Latam está tentando interferir em seus negócios e que seu concorrente pode ter violado a suspensão automática prevista na concordata da companhia aérea brasileira, que protege empresas pelas regras do Chapter 11.
Latam nega as acusações
A Latam negou as alegações da Gol.
A empresa afirmou nesta sexta-feira (9) que está no mercado em busca de aeronaves narrow body devido a problemas na cadeia de suprimentos que afetam a disponibilidade de aeronaves Airbus e Boeing.
A Latam disse que opera algumas aeronaves Boeing e voou com modelos Boeing 737 até 2014. Apesar de a Gol usar exclusivamente aeronaves Boeing 737, a Latam afirmou que “os devedores operam apenas uma fração do mercado geral dessas aeronaves incrivelmente populares”.
Em e-mails com os advogados da Gol incluídos na petição de quinta-feira, o advogado da Latam, Brian Shaughnessy, disse que “as acusações da Gol contra a Latam são completamente erradas e, francamente, frívolas, bem como inconsistentes com a jurisprudência bem estabelecida”.
Em um e-mail de 6 de fevereiro para os advogados da Gol, Shaughnessy escreveu: “do nosso ponto de vista, é a Gol que está tentando interferir nos negócios da Latam”.
A Gol já obteve aprovação do juiz Glenn para começar a utilizar um empréstimo emergencial de US$ 950 milhões fornecido por credores no escopo do Chapter 11, incluindo a Elliott Investment Management.
A companhia aérea é uma das maiores da América do Sul, mas tem lutado com passivos financeiros decorrentes da queda nas viagens durante a pandemia, de dívidas substanciais e de altas taxas de juros no Brasil. A dívida bruta chegava a R$ 19,5 bilhões ao fim de setembro passado.
- Matéria atualizada às 18h46 com as alegações dadas pela Latam nesta sexta-feira.
Leia também
Pedido de recuperação da Gol evidencia crise do setor aéreo da América Latina
Gol tem aval nos EUA para acessar US$ 950 milhões, mas juiz alerta sobre custo