Bloomberg Línea — A bilionária família Marinho, dona do Grupo Globo, maior conglomerado de mídia do Brasil, planeja aproveitar o mês de abril para fechar o capital da Eletromidia (ELMD3), sua mais recente aquisição.
O leilão da OPA (oferta pública de ações) para retirar do pregão da B3 a líder nacional do segmento de OOH (out of home, mídia externa) foi marcado para o dia 28 de abril, segundo o edital divulgado na última quinta-feira (27). A oferta é sobre a compra de cerca de 33,385 milhões de ações em circulação, um free float equivalente a 23,84%.
O edital da OPA define que o preço da oferta para comprar ações é composto pela parcela fixa de R$ 27,3817, paga sob qualquer condição. O valor é corrigido pela Selic desde o dia 20 de dezembro de 2024 (data do fechamento), até a data de liquidação, segundo o edital.
Esse valor representa um desconto de 8,9% sobre o preço de tela de R$ 30,06 no fechamento do dia 25, véspera da aprovação do documento na CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Nos 30 dias anteriores, a ação esteve negociada no intervalo entre R$ 29,80 e R$ 30,12.
E indica a possibilidade de uma parcela adicional (contingente) de R$ 2,0283, que seria paga apenas se um evento específico ocorresse como uma incorporação ou uma fusão da companhia.
Há um prazo de earn-out, isto é, um período de 48 meses após o fechamento do negócio, durante o qual um evento específico pode ocorrer e desencadear o pagamento da chamada parcela contingente.
Segundo o edital, o preço da oferta é considerado “preço justo” porque refletiria o valor pago ao antigo dono da companhia e foi avaliado de forma independente por um laudo de avaliação - no caso, do Bank of America.
No anúncio de compra do controle em novembro passado, a Globo acertou o pagamento de R$ 29,00 por ação à H.I.G. Capital (veja mais abaixo), dos quais R$ 2,00 como parcela contingente após a conclusão da OPA, o que é esperado pelo mercado, ou em outros casos específicos.
Avaliada em R$ 4,2 bilhões na bolsa, a líder do segmento de publicidade urbana no país amplia a presença da Globo na disputa por verbas de grandes anunciantes graças a um portfólio de painéis em ruas, shoppings, hubs de transporte, como pontos de ônibus e aeroportos, e edifícios (telas em elevadores).
A compra do controle da Eletromídia pela Globo totalizou R$ 1,7 bilhão e foi anunciada em novembro de 2024.
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O laudo definitivo da avaliação da Eletromidia foi apresentado à CVM na quarta-feira (26).
A Globo Comunicações e Participação contratou o BofA (Bank of America) para elaborar esse documento, cuja versão final apontou uma estimativa de valor por ação da Eletromidia entre R$ 23,92 a R$ 26,30. Em caso de ajuste, a Globo tem de informar o preço final da oferta até um dia útil antes da data do leilão.
Essa estimativa representa um desconto de 12,5% a 20,4% sobre o preço de tela da última terça-feira (25), véspera da aprovação da OPA.
O papel acumula alta da ordem de 6,50% neste ano e acima de 60% em 12 meses. Nesta segunda (31), a ação fechou negociada a R$ 30,30.
Para chegar ao intervalo de valores em seu laudo de avaliação, o BofA considerou a metodologia de fluxo de caixa descontado como a mais adequada na definição do preço justo da Eletromidia, considerando como data base o terceiro trimestre (30 de setembro).
“Entendemos que essa metodologia captura, entre outros fatores, as mudanças esperadas na indústria e a perspectiva de performance futura da Eletromidia no curto, médio e longo prazo”, justificou o BofA no laudo.
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O documento de 55 páginas detalha a situação financeira da Eletromidia e do setor de mídia externa e utiliza como fontes tanto os balanços financeiros da companhia como estudos externos, como relatórios da PwC, empresa de consultoria e auditoria, sobre o setor em outros países.
Pela elaboração do laudo, o BofA recebeu a remuneração de R$ 500 mil.
O banco já prestou outros serviços de consultoria, avaliação e auditoria tanto para a Globo como para a Eletromidia, o que totaliza a remuneração de cerca de US$ 998 mil paga pela Globo e US$ 1,6 bilhão pela empresa de OOH no período de 12 meses.
O BofA informou deter 22.600 ações da Eletromídia, direta ou indiretamente.
“Na data deste laudo, o Bank of America não possui nenhuma informação comercial ou creditícia com a Globo ou Eletromidia de qualquer natureza que possa impactar este laudo. E não possui conflito de interesses que lhe diminua a independência necessária ao desempenho de suas funções em relação à elaboração deste laudo”, disse o banco.
A OPA é intermediada pela Itaú Corretora, em conjunto com o Itaú BBA.
Globo alcançaria 95% do capital
O controle da Eletromidia pertencia anteriormente ao fundo de investimento Vesuvius, da gestora de private equity H.I.G. Capital.
A gestora, que tem sede em Miami, com US$ 67 bilhões sob gestão, investiu na rede hospitalar Kora Saúde (KRSA3) e na provedora de internet Desktop (DESK3). A H.I.G. Capital zerou sua posição na Eletromídia.
O negócio do fundo Vesuvius com a Globo foi efetivado no dia 20 de dezembro.
Com isso, a Globo passou a ser dona de 74,10% do capital social da Eletromídia, o que a tornou a sua nova acionista controladora.
Na época, o grupo informou o preço de aquisição da fatia detida pelo Vesuvius em R$ 27,38 por ação e uma parcela contingente de R$ 2,02 por ação. O anúncio do negócio ocorreu em 4 de novembro.
Caso a Globo compre todos os papéis que estão nas mãos dos investidores no próximo dia 28 de abril, a empresa passará a deter pelo menos 95,06% das ações, excluídas aquelas mantidas em tesouraria, permanecendo em circulação não mais do que 4,94% das ações.
Segundo o edital, caso isso aconteça haveria o cancelamento de registro de companhia aberta da Eletromidia e a saída do Novo Mercado da B3.
Novo modelo de negócios
Com o controle da Eletromidia, a Globo diversifica suas fontes de receitas, em um momento em que a TV aberta enfrenta acirrada concorrência com as plataformas de streaming.
O modelo de negócios da empresa de OOH tem como base estabelecer parcerias de longo prazo com entidades públicas ou privadas que administram áreas de alto fluxo, além de instalar displays publicitários em tais locais e monetizar os espaços com a venda de publicidade para clientes.
Quando a Eletromidia ganha uma concessão para um local específico, ela obtém o direito exclusivo de instalar e operar painéis publicitários na área.
Em troca, financia a construção ou a renovação de infraestrutura, como abrigos de ônibus, ou compartilha receita ou paga uma taxa fixa aos seus parceiros, sendo o investimento em infraestrutura a prática mais comum no caso dos abrigos de ônibus, segundo o laudo.
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A receita é gerada diretamente pelos clientes que pagam para anunciar em seus painéis. Esse modelo de negócios também se aplica a outros locais, incluindo hubs de transporte, shopping centers e elevadores.
Segundo o laudo, a Eletromidia tem a maior participação (64%) no mercado de telas digitais no Brasil, seguida pela francesa JCDecaux (19%) e pela americana ClearChannel Outdoor (5%).
Há ainda sete players menores que detêm, juntos, 12% desse segmento: Neooh, do Grupo UOL, Kallas Mídia, OOH Brasil, KM Mídia, RV Digital, além dos negócios de mídia de duas operadoras de shopping, a Allos (ALOS3), dona da Helloo, e a Multiplan (MULT3).
Com a Eletromídia, o Grupo Globo também passa a ser responsável pelo mobiliário urbano do Rio de Janeiro, onde está localizado sua sede.
Em outubro de 2024, a empresa de OOH ganhou concorrência promovida pela Prefeitura do Rio de Janeiro para a concessão de mobiliário urbano de uso público. Esse foi um dos principais focos da companhia, segundo disse o CEO da Eletromidia, Alexandre Guerreno, à Bloomberg Línea em maio.
Foram dois lotes conquistados: um de R$ 456,6 milhões e outro de R$ 430 milhões, destinados à manutenção, retrofit e instalação de sistemas de painéis de informação urbana, conhecidos pela sigla em inglês MUPIs (Municipal Urban Panel Information System).
Com a concessão nas mãos, a Globo tem o direito de explorar a publicidade em 4.000 abrigos de ônibus e em 500 relógios urbanos no prazo de 20 anos, com início das operações previsto para 2027, segundo o laudo do BofA.
A concessão do Rio de Janeiro irá continuar até a conclusão do prazo de concessão vigente (março de 2047), segundo a companhia. “A Eletromidia não considerou a renovação da concessão do Rio de Janeiro dado que ainda está em fase pré-operacional e existe pouca visibilidade sobre as dinâmicas que irão guiar a renovação do contrato de concessão”, citou o laudo.
Gastos de marketing digital
O laudo do BoFa cita o estudo da PwC “Global Entertainment & Media Outlook 2024-2028″.
Segundo esse relatório, os gastos de marketing direcionados a veículos de mídia tradicional por canal no Brasil são liderados pela TV aberta (70%), seguido por TV paga (9%), jornais (8%), rádio (5%) e mídia OOH empatada com revistas com fatia de 3% cada uma. Em último lugar, convenções de negócios com 1%.
Quando se consideram apenas os gastos a veículos de mídia digital no país, a mídia OOH fica em segundo lugar (21%), atrás da TV online (25%).
A seguir aparecem música (22%), revistas (13%), jornais (9%), páginas amarelas (7%, como guias digitais, como Google Maps e TripAdvisor) e podcasts (3%). Os dados dos relatórios da PwC são de 2022.
Segundo o laudo, a Eletromidia atua em 83 cidades brasileiras e alcança cerca de 53 milhões de pessoas por mês. Além disso, a empresa é proprietária da Ótima, que administra pontos de ônibus em São Paulo até 2037, com possibilidade de extensão até 2042.
A Eletromidia tem um portfólio diversificado, com mais de 68.000 pontos publicitários em ruas, transportes, edifícios e shoppings, em áreas de grande fluxo de pessoas.
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