Bloomberg — O grupo BHP manteve contatos com a concorrente Anglo American sobre uma possível compra da empresa centenária em um movimento que promete desencadear a maior mudança na indústria global de mineração - que tem a Vale como um de seus principais players - em mais de uma década.
A Anglo American disse na quarta-feira (24) à noite que recebeu uma proposta de fusão não solicitada, toda em ações, da maior mineradora do mundo, após a Bloomberg News reportar que a BHP estava considerando uma possível oferta de aquisição.
O conselho de administração da Anglo American está revisando a proposta e alertou que não há certeza de que uma oferta será concretizada. A companhia disse que a proposta da BHP estava condicionada a uma separação de suas unidades de platina e minério de ferro na África do Sul.
Se bem-sucedida, uma aquisição marcaria um retorno às negociações de grande porte para a BHP, que retomou seu apetite por aquisições transformacionais nos últimos anos sob o comando do CEO Mike Henry.
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A Anglo American há muito é vista como um alvo em potencial entre as maiores mineradoras, principalmente porque possui grandes operações de cobre na América do Sul em um momento em que grande parte da indústria busca expandir sua produção do metal.
No entanto, os interessados foram desencorajados por sua estrutura complicada e variedade de commodities, especialmente por sua profunda exposição à África do Sul.
A Anglo enfrentou uma série de grandes contratempos ao longo do último ano. Os preços de alguns de seus produtos despencou, enquanto dificuldades operacionais forçaram a empresa a reduzir suas metas de produção — diminuindo seu valor de mercado e deixando a empresa vulnerável a potenciais compradores.
As ações da Anglo caíram 12% nos últimos 12 meses, conferindo à empresa um valor de mercado de £27 bilhões (US$ 34 bilhões). A BHP, que tem ações negociadas em Londres e Sydney, tem um valor de mercado de cerca de US$ 149 bilhões.
Uma aquisição bem-sucedida representaria o primeiro grande negócio entre as maiores mineradoras diversificadas do mundo em mais de uma década.
A BHP e suas maiores concorrentes passaram anos à margem após uma série de transações desastrosas, mas aqueceram para a perspectiva de negociações após tranquilizar os investidores de que aprenderam com os erros do passado.
No ano passado, a BHP comprou o produtor de cobre OZ Minerals por cerca de US$ 6,4 bilhões em sua primeira grande compra em anos, mas até agora tem se concentrado em vender ativos como petróleo, gás e carvão.
Para a BHP, o atrativo claro de qualquer negócio seriam os ativos de cobre da Anglo. As maiores mineradoras do mundo estão buscando expandir sua produção de cobre em antecipação a preços crescentes à medida que a demanda por eletrificação aumenta enquanto a oferta futura parece restrita.
Os negócios de cobre da Anglo na América do Sul têm sido há muito tempo alvo de grandes players do setor, embora recentemente tenham enfrentado contratempos e tiveram que reduzir suas previsões de produção de cobre.
Também é possível que a proposta agora pública para a Anglo possa atrair outros potenciais interessados. A segunda maior mineradora, Rio Tinto, também tem investido na produção de cobre, enquanto a Glencore fez no ano passado uma oferta malsucedida pela Teck Resources, que possui um negócio de cobre cobiçado, antes de eventualmente chegar a um acordo para os ativos de carvão da empresa canadense.
Embora a avaliação da Anglo possa torná-la mais atrativa, uma combinação com ela permanece um negócio altamente complicado. A empresa possui participações majoritárias em duas mineradoras listadas na África do Sul — Anglo American Platinum e Kumba Iron Ore — e é a proprietária majoritária da mineradora de diamantes De Beers.
Além disso, possui uma relação longa e complicada com a África do Sul, onde o fundo de pensão estatal é seu maior acionista.
A proposta da BHP era primeiro entregar as participações da Anglo nas duas empresas sul-africanas aos investidores da empresa menor antes de prosseguir com uma aquisição, disse a Anglo. As duas partes da proposta seriam “intercondicionais”, afirmou.
Outras operações da Anglo incluem cobre, níquel, carvão metalúrgico e minério de ferro no Brasil, além do icônico negócio De Beers.
Ambas as empresas também estão investindo em novos negócios de fertilizantes — a BHP está construindo uma enorme mina de potássio no Canadá, enquanto a Anglo está desenvolvendo uma mina de polihalita na costa leste da Inglaterra.
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