Bloomberg Línea — A Gerdau (GGBR4) espera avançar com o plano de redução de custos para aumentar sua competitividade no mercado siderúrgico doméstico e global no cenário de equiparação das condições de concorrência com o produto importado da China, que sofre acusações de prática de dumping.
“Essa questão comercial hoje passa muito mais por a companhia poder reduzir os custos e ter mais volume de produção do que qualquer outra questão de preço no mercado. A companhia não está preocupada com isso. Nossa visão hoje não é aumentar os preços, é mais reduzir os custos”, disse Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, à Bloomberg Línea após evento em São Paulo nesta quinta-feira (25) (veja mais abaixo).
O executivo respondeu a uma questão específica sobre o impacto da competição com produtos chineses na política de preços da companhia.
O mercado já trabalha com a expectativa de que a Gerdau avance com a execução do plano de cortes de custos ao longo deste ano a fim de colher os frutos dessa estratégia no próximo exercício.
“O plano de austeridade da Gerdau não foi precificado pelo mercado. O curto prazo ainda é desafiador, com o ano de 2024 sendo de margens apertadas e perda de tração no Ebitda. Estamos de olho no ganho de margem de 2025″, escreveram analistas da Genial Investimentos em relatório recente.
O CEO da siderúrgica exemplificou o efeito de medidas que levem à redução de custos.
“Se há medidas de defesa comercial mais intensas [contra o aço subsidiado], podemos substituir o aço que está sendo importado por produção local. Produzimos mais, diluímos os custos e temos muito mais condições de competir com um custo mais baixo, de entregar resultados financeiros”, afirmou.
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“A Secex [Secretaria de Comércio Exterior, órgão do Ministério do Desenvolvimento] já aprovou uma primeira medida de defesa comercial, implantada desde 1º de junho. E uma medida de defesa comercial de antidumping de alguns produtos continua ainda sendo debatida lá”, afirmou o executivo.
Analistas do sell side têm apontado justamente a presença crescente do aço chinês no mercado brasileiro como um dos principais fatores de pressão para o desempenho das siderúrgicas.
Nesse contexto, analistas do setor siderúrgico têm monitorado a política comercial da Gerdau e de outros produtores, as negociações de reajustes com clientes de segmentos como construção civil e indústria automotiva e as cotações com os preços do aço importado da China.
Na próxima quarta-feira (31), a Gerdau divulga o resultado do segundo trimestre após o fechamento da Bolsa. A ação da companhia acumula queda de 25% em 12 meses até o fechamento na quarta-feira (24).
“Vemos o aço chinês entrando no Brasil por um valor menor do que o preço do minério de ferro. É dinheiro público subsidiando a produção. A China faz esse dumping para manter os empregos no momento em que sua economia está em transição”, afirmou Werneck.
O executivo disse ser “impossível” competir com o aço subsidiado. “Temos 123 anos de história e competimos com qualquer produtor de aço desde que as condições sejam isonômicas, que todo mundo esteja competindo no mesmo cenário e com as mesmas ferramentas.”
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Impacto do câmbio
A alta de 12% do dólar comercial frente ao real no segundo trimestre teve impacto para a Gerdau, que atua em sete países (EUA, Canadá, México, Argentina, Uruguai, Peru e Brasil). O CEO disse que a moeda americana é um aspecto importante na tomada de decisão, mas não a única na visão de longo prazo.
“Olhamos sempre para os dois lados da moeda: temos receitas na América do Norte. Quando convertermos dólar para reais, isso ajuda nosso balanço. Também conseguimos exportar mais. Ao mesmo tempo, há matérias-primas compradas no exterior e a inflação. É difícil saber se um dólar a R$ 5 ou R$ 6 ajuda ou atrapalha no final do dia”, disse ao tratar da questão da valorização da moeda americana.
“Em decisões de longo prazo, não olhamos só para o dólar, pois seria uma forma inadequada, já que é uma variável que não controlamos”, completou a esse respeito.
Reconstrução do Rio Grande do Sul
Controlado pela família gaúcha Gerdau Johannpeter, o grupo tem se mobilizando na reconstrução de cidades do Rio Grande do Sul atingidas pelas enchentes em maio, um evento classificado pelas autoridades como a “maior catástrofe climática” da história do estado.
“A economia está voltando a girar mais rápido do que imaginávamos. Isso é importante porque a geração de emprego e renda traz mais recurso para a recuperação do estado. Muitos clientes já voltaram, voltamos a produzir e a entregar material. Não podemos esquecer que a tragédia foi muito grande, não podemos minimizar o que ocorreu. É preciso o compromisso de todos para reconstruir o estado”, afirmou o CEO.
Ele contou que a família controladora tem mobilizado recursos próprios relevantes para que a recuperação ocorra no prazo mais rápido possível - mas não abriu valores. “Estamos atuando na reconstrução das casas de nossos colaboradores, com doação de aço e outras iniciativas para acelerar essa recuperação.”
Parcerias com o Rock in Rio e Chili Beans
Werneck participou na quinta-feira (25) de um evento em São Paulo que anunciou a renovação de uma parceria com o Rock in Rio, festival de música que celebra 40 anos em setembro no Rio de Janeiro.
O palco da apresentação das atrações internacionais terá placas de aço reciclável da Gerdau. Além disso, uma parceria fechada com a Chilli Beans, do empreendedor Caito Maia, vai comercializar durante o festival óculos inspirados no palco e produzidos com aço reciclável da siderúrgica.
“Nossa estratégia de patrocínio do Rock in Rio nunca foi para vender mais aço. Há outros ganhos. Um deles é garantir ao longo dos próximos anos que teremos pessoas querendo trabalhar na Gerdau. Queremos contribuir com o mercado de trabalho, atraindo jovens”, disse Werneck sobre o racional da parceria.
Ele explicou que, após a parceria com o Rock in Rio, a procura pelo programa de trainee da companhia apresentou crescimento. No ano passado, segundo o executivo, foram cerca de 40.000 inscritos, um número inédito para a companhia.
Por trás do festival está a Rock World, liderada pelo CEO Luis Justo, que realiza também o The Town e Lollapalooza Brasil. O Rock in Rio pertence ao Grupo Dreamers, holding de empresas de entretenimento da família Medina, que conta também com a agência de publicidade Artplan.
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