Bloomberg Línea — A Arco Educação (ARCE), empresa brasileira de sistemas operacionais para escolas de ensino fundamental e médio listada na Nasdaq, concordou em ser adquirida pelas empresas de private equity General Atlantic (GA) e Dragoneer por um valor de mercado aproximado de US$ 1,5 bilhão cerca de 4 anos e 10 meses após abrir o capital.
Em uma oferta “take private”, o GA e o Dragoneer adquirem os papéis dos demais acionistas minoritários e, fora da bolsa de valores, não precisa mais reportar seus resultados trimestrais. Segundo a empresa, a família fundadora mantém o controle e o capital votante da companhia. A família continuará a deter a totalidade das ações Classe B, e 88% do capital votante da companhia, enquanto GA e Dragoneer vão deter as ações Classe A em circulação e cerca de 10% do capital votante da Arco.
Os investidores vão comprar todas as ações ordinárias da Arco que não são detidas por eles, pelos fundadores da empresa ou por outros acionistas específicos, pelo preço de US$ 14 por ação em dinheiro. Esse preço é 55% mais elevado do que o valor de fechamento das ações em 30 de novembro de 2022. Os papéis encerraram o pregão desta sexta-feira (11) negociadas a US$ 13,69, com alta de 14,56%.
A Arco disse que o acordo foi recomendado unanimemente por um comitê especial de diretores independentes após um processo de avaliação e negociação detalhado e independente. Os fundadores da empresa vão manter uma participação controladora e continuarão na administração.
A transação está prevista para ser concluída no quarto trimestre de 2023 ou no primeiro trimestre de 2024, sujeita a aprovações regulatórias, como o Cade, e à aprovação dos acionistas da empresa.
A Bloomberg Línea apurou que o acordo está relacionado com a privacidade e controle, para que a empresa possa tomar decisões sem interferência de muitos acionistas, além de flexibilidade para administrar o negócio como desejam, fazendo mudanças nas empresas adquiridas sem se preocupar com as flutuações diárias do preço das ações na bolsa.
Quem ganha e quem perde no acordo?
Ao fechar o capital, a empresa também deixa de pagar taxas para a Nasdaq e reduz gastos regulatórios. A transação será financiada por meio de uma combinação de contribuições em dinheiro dos investidores e participação dos fundadores e outros acionistas na nova entidade controladora.
Em uma oferta take private, investidores que possuem ações da empresa e não fazem parte dos grupos de fundadores, diretores ou investidores que propõem a aquisição por private equity podem se sentir prejudicados. Foi o caso quando, em dezembro, investidores minoritários enviaram uma carta rejeitando a proposta de US$ 11 por ação, conforme reportado pelo Brazil Journal.
Ainda que o preço de US$ 14 possa representar um prêmio sobre o valor atual das ações, ele pode não refletir totalmente o valor futuro potencial da empresa, e ainda está longe do preço do IPO de US$ 17,50 por papel. A empresa abriu capital na Nasdaq no fim de setembro de 2018.
Os analistas do Itaú BBA Vinicius Figueiredo, Lucca Marquezini e Felipe Amancio viram o acordo como positivo porque permitirá que os fundadores mantenham uma participação controladora e de liderança na empresa. Hoje, a empresa tem um market cap de US$ 866 milhões.
Os fundadores da Arco, Ari de Sá Cavalcante Neto e Oto de Sá Cavalvante, e os antigos controladores da isaac, continuam com sua parte da empresa.
A Arco comprou 75,1% da fintech isaac no ano passado em uma troca de ações por um valuation equivalente a cerca de US$ 180 milhões na época. Com a transação, que garantiu à Arco 100% da fintech (ela já tinha 24,9%), os acionistas da isaac iriam receber aproximadamente 10,4 milhões de ações da Arco, o equivalente a 15,8% da participação acionária da empresa listada na Nasdaq (1 milhão de ações em tesouraria e 9,4 milhões de novas ações da Arco). Isso resultaria em US$ 145,6 milhões pelo preço acordado com a General Atlantic e Dragoneer.
Mesmo assim, os fundadores da isaac estão sujeitos a três anos de lock-up. Quando uma empresa se torna privada, as ações não são mais negociadas publicamente em bolsas de valores, então, para os detentores de papeis da Arco que desejarem comprar ou vender ações podem ter menos opções para fazer isso e enfrentar problemas de liquidez.
Segundo informações da Bloomberg, os principais acionistas da Arco hoje são a General Atlantic, com 15% das ações em circulação, seguida do Keenan Capital Management, com 12,20% dos papeis em circulação, e Fourth Sail Capital (8,64%). T. Rowe Price, Capital Group e SoftBank também tem participações na empresa brasileira.
-- Atualizada para esclarecer que a família fundadora continua com 88% do capital votante da companhia
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