Bloomberg Línea — O Grupo Cinel, dono da empresa de serviços de vigilância e segurança Gocil, uma das maiores do Brasil, planeja vender ativos como parte do plano de recuperação judicial recém-aprovado por credores. A empresa tem uma dívida de R$ 1,758 bilhão.
O plano também prevê a contratação de um empréstimo na modalidade DIP (debtor-in-possession) junto ao BTG Pactual no valor de R$ 75 milhões, que pode ser elevado diante de outras necessidades para quitar compromissos.
Esses financiamentos têm prazo de três anos e também serão pagos com a venda de ativos.
Fundado em Bauru, no interior paulista, pelo ex-policial militar Washington Umberto Cinel em 1984, o grupo começou a operar com foco em segurança e vigilância e depois se expandiu para outras áreas, como manutenção, limpeza e agronegócio.
A ideia de criação da Gocil surgiu após ele ter sido contratado pela Rede Globo para fazer a segurança da sede da emissora, em Bauru. Até então, Cinel atuava como tenente da PM.
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Com cerca de 20.000 colaboradores diretos e mais de 100 mil pessoas indiretamente impactadas por sua atuação, o grupo atende hoje clientes de diversos segmentos, incluindo instituições de saúde, financeiras, indústrias e varejo.
A expansão para o agronegócio aconteceu há 22 anos, com foco em cultivo e comércio de produtos agrícolas (arroz, milho, soja, cana-de-açúcar) e criação e venda de animais.
No pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça, o grupo atribuiu seus desafios financeiros à elevada alavancagem, ao aumento dos custos de produção e às despesas financeiras com a alta dos juros.
Durante a assembleia de credores, no fim de março, houve 99,2% de aprovação para pagamento em 12 meses para os credores de classe 1 (dívidas trabalhistas).
Para os de classe 2, que têm garantia real, a aprovação alcançou 91% dos votos em valores.
Para os de classe 3 (quirografários), houve aprovação de 83% dos votos em valores: a decisão fixou dois anos de carência e correção de TR (Taxa Referencial) mais 2%.
A recuperação judicial incluiu também Washington Cinel como produtor rural.
A maior parte da dívida, de proximadamente R$ 1 bilhão, é composta por CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e Fiagros. Os maiores credores são Banco do Brasil (R$ 370 milhões) e BNB (R$ 136 milhões). A dívida da Gocil era de R$ 280 milhões (75% em dívida quirografária).
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“O grupo já iniciou o trabalho de equacionamento e pagamento da dívida, inclusive com a venda de imóveis e outros ativos. Há muita demanda pelas terras do grupo, em especial as do Nordeste (Maranhão), cujo valor paga a maior parte da dívida. O fundador e sua família já concordaram com os termos de quitação nos autos da recuperação judicial”, informou o grupo em comunicado enviado à Bloomberg Línea.
Com a aprovação do plano de recuperação judicial, a dívida a valor presente é reduzida em cerca de 40%, e a geração de caixa do grupo deve melhorar esse patamar ao longo do tempo, segundo o comunicado.
Para ajustar a situação da Gocil, a companhia reduziu seu tamanho em 30% - e também os custos e o quadro de funcionários em 60%, segundo informou.

Saneamento, infraestrutura e IA nos planos
O grupo ganhou alcance nacional a partir dos anos 2000, quando começou a abrir filiais em outros estados.
A sede de Bauru foi transferida para a capital paulista em 1985, após Cinel ter identificado oportunidade de ingressar no maior mercado do país.
Depois, expandiu a presença para cidades como Curitiba, Campinas, Ribeirão Preto, Santos, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Lauro de Freitas, Goiânia, Joinville, Recife, Brasília, Imperatriz e Belém.
“A empresa passou a gerar caixa há pouco mais de 18 meses. O faturamento do grupo em 2024 foi em cifras superiores a R$ 1 bilhão. O próximo passo para a Gocil é a atuação em prestação de serviços na área de saneamento (tratamento e medição de água, esgoto, tecnologias associadas) e infraestrutura (como iluminação pública, concessões e outros)”, disse em comunicado.
O grupo também informou a migração para o setor de tecnologia, conectado ao sistema Smart City de monitoramento e prevenção de crimes.
As soluções nessa área incluem monitoramento também de lojas com levantamento de dados estatísticos para o varejo, drones submarinos para detecção de drogas em cascos de navios e câmeras com inteligência artificial em academias que controlam os equipamentos e, se necessário, acionam alarmes, entre outros produtos e serviços ligados à tecnologia e à inteligência artificial.
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