Fundo de pensão do BNDES retoma aportes em private equity e prevê R$ 160 mi ao ano

Valores serão alocados em gestoras com a missão de encontrar oportunidades em áreas como negócios florestais, diz Leonardo Mandelblatt, diretor de investimentos da Fapes, à Bloomberg Línea

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Bloomberg Linea — A Fapes, fundo de pensão dos funcionários do BNDES, aprovou um programa para voltar a investir em FIPs (Fundo de Investimento em Participações). A decisão foi tomada no fim de outubro e prevê o investimento de até R$ 160 milhões por ano.

Os valores serão aportados em gestoras de private equity, que terão a missão de encontrar oportunidades em empresas médias com potencial de crescimento em áreas como negócios florestais e de infraestrutura.

“Em infraestrutura e florestal nós classificamos como bond-proxies. Quer dizer, são investimentos que têm um grau de risco menor por serem em volume maior e em projetos mais maduros”, afirmou Leonardo Mandelblatt, diretor de Investimentos da Fapes.

“A outra classe em que estamos dispostos a investir é a de private equity growth, mas com empresas já em tamanho médio.”

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Pelo novo programa, o percentual aportado em ativos de private equity tem um limite de 4%, que pode ser estendido a 4,5%, em relação ao capital total da Fapes.

A iniciativa foi estruturada nos últimos 18 meses e procura diversificar os ativos do fundo, que faz a gestão de R$ 16 bilhões em recursos previdenciários dos funcionários do banco público de desenvolvimento.

“O contexto atual, de fato, é muito favorável para NTN-Bs, principalmente os vértices mais longos, com esse nível de taxa [de juro real] próximo aos 7%. Temos priorizado investimentos dessa natureza para buscar maior imunização, alinhando nossos ativos ao nosso passivo”, disse Mandelblatt à Bloomberg Línea, em entrevista no Fórum de Investimentos Sustentáveis (FIS), organizado pela ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital).

Do total do capital, cerca de 70% estão alocados em títulos do Tesouro; renda Variável, ativos imobiliários e fundos estruturados aparecem na sequência.

O fundo não quer, porém, ficar “preso” a poucas classes de ativos e pretende buscar retornos mais atraentes que os oferecidos nos títulos do Tesouro.

“Nós vimos essa indústria [de private equity] crescer muito sem os fundos de pensão. Foram muito mais as famílias, o mercado de wealth, quem capturaram esse retorno. Os fundos de pensão, por diversas circunstâncias, seja por problemas que aconteceram na indústria, seja pela oportunidade que surgiu com NTN-Bs, abdicando um pouco desse movimento”, disse o diretor.

Na Fapes há pouco mais de dois anos, Mandelblatt disse que teve o trabalho de ampliar o pool de opções e mostrar aos stakeholders que valia a pena retornar à classe de ativos. Nos dois ciclos anteriores, o fundo atuava de maneira mais oportunística, sem uma estratégia definida, mas caso a caso.

O primeiro ciclo, entre 1997 e 2016, foi marcado por um mercado incipiente, com poucos mecanismos de acompanhamento e proteção dos investimentos, disse o diretor. Na segunda fase, entre 2018 e 2020, o setor com turbulências diversas.

“Aconteceram problemas de outra natureza e que não necessariamente são relacionados aos fundamentos do investimento”, afirmou Mandelblatt.

No momento, cerca de 3% da carteira está alocada em ativos adquiridos por gestoras de private equity. Nos últimos 36 meses, os FIPs investidos pela Fapes entre 2018 e 2020 registraram uma rentabilidade de 32,2%, segundo números internos.

Com a volta do programa, a previsão do diretor é que o montante aumente gradualmente até chegar aos 4% e se mantenha nesse patamar, com eventuais saídas de investidas.

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Segundo Mandelblatt, o desejo é que o programa faça investimentos anuais, mas não há uma obrigação.

”Eu posso no limite não investir nada, se entendermos que naquela safra não há nenhum fundo que atenda à nossa estratégia de setores, assim como os nossos critérios de qualificação da gestora e de risco e retorno da tese”, explicou.

Próximos passos

Posicionada para ser um programa de investimento contínuo, a nova estrutura prevê o valor mínimo de aporte por gestora de R$ 40 milhões, e o máximo, de R$ 100 milhões.

O modelo limita o aporte a 15% do patrimônio do FIP investido e coloca como restrições alocação em gestoras de primeira viagem e em veículos com taxa de performance do tipo “catch-up”.

De acordo com o diretor, o time interno da Fapes já está em processo de análise das gestoras em fase de captação e cujas teses de investimento estão em linha com as diretrizes do fundo.

“Temos a perspectiva de, no primeiro semestre do ano que vem, estarmos prontos para, eventualmente, assinar o primeiro cheque. Isso porque nós já temos esse mapeamento de mercado e conhecemos vários gestores. Há algumas teses que são aderentes à nossa estratégia e que irão passar por esse afunilamento”, disse Mandelblatt.

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